terça-feira, 31 de agosto de 2010

Correio daí

"Entra aqui de cabeça erguida porque é a tua Pátria
e a tua Pátria é linda."


segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Os telhados de Lisboa II


Não era sexta-feira, mas eram sete da tarde, a melhor hora para me pôr a milhas do escritório nesta altura do ano. Faz algum calor e a nova 125 está ansiosa.
Tanto tempo, pá! Oh, oh, já a formiga tem catarro. Ainda nem tem uma semana e já reclama. Gosto disso.
Ligo-a e fecho os olhos. Assim, sim. Mais calminha. Como um gato. A ronronar. Para onde é que vou, pergunto. Rua da Escola Politécnica, ó babaca. Ok, garota, mas sossega. Um bocado nervosa, não serás ? Despachada mas é. Toca a andar. Sim, mas pela Rosa Araújo e depois pela rua de S. Mamede. Tanto faz, quero é deixar este coito onde me deixaste à seca.
Rua da Escola Politécnica. Esta gosta de mim.
Lá vai a pretinha 125. A flanar. Mas voraz a menina.
Paro de repente no miradouro de São Pedro de Alcântara, ao Príncipe Real ou ao BA. É igual. Depende de onde se vem. Está cheio de gente. Já não vou pr'ó Chiado. É aqui que fico.
Subo o passeio e encosto a mota às que chegaram primeiro. Combinam bem neste sítio.
No centro do jardim instalou-se uma Big Band. Do Hot Clube, acho. Do prédio que ardeu e que entaiparam. É mesmo aqui que fico. Tocam um jazz simpático. Não compromete, não brilha, não inventa, mas ouve bem que é o que conta.
Reconheço os clássicos todos. Be-bop e swing. Temas do Duke (Ellington), Benny Goodman e Harry James. Esticam-se os trombones, sobem os clarinetes, levantam-se os trompetes. O piano continua sentado a mandar teclas.
Viro-me de costas, para o lado que dá para o Castelo e para a Sé. Estão lá. Descanso os cotovelos no gradeamento. O Zippo acende-me o cigarro que me saltou para os dedos.
Olha ! Os telhados desalinhados e desarrumados de Lisboa. Uns por cima dos outros. Parece que trepam, e eu acho sempre que falam comigo. Olha ! E eu olho.
O fumo está a incomodar um careca que veio pôr-se aqui. Estamos ao ar livre mas o chato do caraças nem sequer disfarça. Como não estou para aturar as suas mãozinhas a dar a dar, afasto-me e encontro o candeeiro perfeito.
Há um banco em frente onde se sentaram um marido e uma mulher. Devem ser franceses. 50 anos talvez, que o cabelo está quase todo branco e as rugas percebem-se bem. Dão-se o braço. Ele ampara uma Canon com tele-objectiva. Ela olha para mim encostado ao candeeiro e comenta qualquer coisa ao ouvido dele.
Passa agora um fresco que me atira o cabelo para a vista. E passam vestidos e muitas alças e alcinhas. Chispam mas não faíscam. Passam vestidos e sandálias que chispam. Mas não faíscam.
Só oiço francês. E pés a dançar.
'Take the A-Train'. Estes acordes acordam-me. Decido virar-me de novo para trás, onde já não está o chatinho dos bracinhos a dar a dar, para onde se acalmam os telhados de Lisboa, já todos encaixados. 
Chegam dois amigos. Olá, pá.

Quando a tragédia muda de cara



«Era "roberto" não era "roberto"


António-Pedro de Vasconcelos tem uma fé no benfiquismo que eu gostaria de ter. E não é que ele é que tem razão?! Quando o guarda-redes Roberto andava nos relvados da amargura, o cineasta foi sábio: "Ele é tão mau, que não pode ser verdade. Então, não é verdade." E não é que se comprovou? A campanha anti-robertista primária tendo feito mossa, o treinador foi obrigado a ceder: pôs o segundo guarda-redes mais caro da história do futebol mundial no banquinho. Mas Jesus põe e Deus dispõe (copio da manchete de A Bola, outra crente sem falhas). Ao minuto tal, o guarda- -redes que o substituía fez penálti e foi expulso. Lá voltou Roberto ao seu posto. Parecia sina: saiu porque deixava entrar golos e regressava para encaixar mais um. Homens de pouca fé! A bola para um lado, Roberto para o mesmo, Roberto imparável, a bola parável. E foi assim que Roberto ressuscitou ao minuto 23.º, depois de ter sido exibido como imprestável suplente. Ou muito me engano ou as bancadas da Luz vão ver nisto um sinal do Além, por onde andam as águias... Mais terra--a-terra, acho só que metemos os pés pelas mãos em regionalismos. O que pensávamos ser um "roberto", um madraço (no Alentejo), era na verdade um "roberto", um travesso (nos Açores). Roberto aplicou-nos o truque mais velho do mundo: baixou-nos as expectativas e, estando nós acabrunhados, bastou- -lhe ser normal para parecer fantástico.»
 
FERREIRA FERNANDES no DN

NB: Peço desculpa se só consigo colocar uma fotografia do Maior de sempre. De repente, o outro pareceu Outro. É mesmo bom que comece.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Ante-estreia

"Black Swan"




"Enchanter: the black swan has learned to enter
Sorrow’s lost secret center
Where like a maypole separate tragedies
Are wound about a tower of ribbons, and where
The central hollowness is that pure winter
That does not change but is
Always brilliant ice and air.

Always the black swan moves on the lake; always
The blond child stands to gaze
As the tall emblem pivots and rides out
To the opposite side, always. The child upon
The bank, hands full of difficult marvels, stays
Forever to cry aloud
In anguish: I love the black swan."


(James Merrill, “The Black Swan”, Collected Poems)

terça-feira, 24 de agosto de 2010

"JE PEUT CHANGER LE MONDE !"


Mais: a história, Guerra Fria, Moscovo, KGB, um brilhante desempenho de Kusturica, o francês e o russo falados, a fotografia, Willem Dafoe (ainda que pouco) e Alexandra Maria Lara, sempre linda de morrer.


Menos: os actores a fazerem de Reagan, Mitterrand e Gorbachev. Não os punha, ou só de costas. Ainda todos nos lembramos demasiado deles.

Nova Ragazza. Já cá mora !

LX 125cc i.e

Ronrona como deve, anda que se farta, passa a Ponte e para o ano já vai ao Meco.
E é linda.

Benfica Underground


P.V. E agora já podem ganhar todos os jogos até ao fim do campeonato.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

命名日 (Feliz Dia do Nome)

(When you're sixty-four)


Começaste a ir à China há dois anos e tal quando enfiaste na cabeça que ias aprender a língua dos códigos de barras. Tipo empreitada. Tipo aposta. Tipo fatal.
Porquê chinês, Pai ? Porque não russo ? "Se é para tortura, que seja total !", foi o que disseste. Pegaste nuns cadernos e no computador.
Mas como não te chegava saber como se diz tudo nessa língua de trapos, pegaste também na História do Império do Meio, da civilização antiga, das dinastias, das etnias, dos segredos, do padre Jesuíta que partiu para o Oriente e lá descobriu uma forma de os traduzir pela primeira vez.
Num instante tudo era China lá por casa. Dicionários, livros, de fotografia, de História, Filosofia, guias de viagem, romances.
E a cada novo caractere que aprendias lá vinhas tu com a história toda do bicho. Origem e evolução. E eu trouxe-te aquele livro de Paris...
E mostravas-me como os caracteres se compunham e se desconstruíam, e o que cada minúsculo tracinho significava e como tudo mudava como o vento se fosse mal executado. Como tudo muda quando é dito, mesmo quando é dito no tom certo, porque tudo muda conforme o sítio onde é dito. Conforme a província de quem ouve e o sotaque de quem diz. Que horror horrível !
Milhares de caracteres que me trocam os olhos só de tos ver estudar. Tantos quanto as longas horas que te vi sentado na secretária que já foi minha, ao computador. Até de madrugada, no Monte de Santiago, a aprender novos programas informáticos para escreveres o mandarim. E o entusiasmo que te levou quase a dar aulas conjuntas com o teu professor, ansioso para  saberes mais e também ensinar aos outros. Outros que foram também os chineses com nomes impronunciáveis que levaste ao Monte para ajudarem na apanha da azeitona.
E como resolveste ensaiar a canção do "Molihuá" à tua neta mais velha que tinha três anos. Como bastaram dois meses e um bom ouvido, sentada no colo do teu amor, para a saber de cor, mesmo que apenas soubesse que era a canção do Jasmim. Lá foi a miúda depois para o palco da tua Faculdade na sessão de encerramento do 1º ano. De microfone na mão, contente e atrevida, atrás de um órgão que ela nunca tinha ouvido, cantar numa língua de sons.
Bolas, Pai ! Que lonjura. Que viagem bem feita. E agora para Xangai. Depois de Xian.
E a Mãe diz que já te vais safando bem no meio deles. E eu só acredito porque te conheço.

Feliz dia do nome, não é ? Parabéns. Dá também um beijo à Mãe.

P.S. Não leste isto porque o longo braço da censura não o permite. Como é que se diz cortina de ferro ?

MUDE



Sempre gostei de conhecer sítios curiosos. Sítios diferentes e inesperados, que nos põem pontos de interrogação na testa. O MUDE é um sítio assim. Ainda pequeno.
Não é um MoMA. Nunca. Longe disso. Nem pensar. A anos luz. Nem atreve. Mas é um sítio porreirinho. Fica na rua Augusta e não parece ser dali. Num antigo Banco. O capital a ceder lugar à arte e ao lazer. Curioso.
Os tectos continuam picados, com o que sobra dos materiais isolantes a pingar. Sem revestimento e com o betão à pele. Os pilares idem. Cimento. Adivinha que o edifício esteve para ser demolido e desistiu.
Resta o comprido balcão de mármore negro do velho BNU que dá uma volta inteira à sala. E a escadaria.
O espaço é fixe logo por isso e porque não se espera ver cadeiras pop, torradeiras, gira-discos, aspiradores e telefones dos anos 50 e 60 por entre aquele balcão cisudo onde antes se trocou dinheiro, letras e cheques.
Uma Vespa à esquerda. Toco-lhe. Não posso, oiço. Vestidos de noite de estilistas com nome de perfume francês. 
Numa cortina projecta-se o histórico debate televisivo Nixon-Kennedy para as eleições de 1960.
 
Painéis de luz fluorescente branca. Chutam uma frase de um famoso qualquer do design.
Objectos futuristas de formas estranhas e cores concretas desenhados por Frank Gehry ou Corbusier.
De repente, ao canto, ouvem-se os Beach Boys a tocar "God Only Knows" e "Wouldn't it be Nice". Vou logo para lá. Vinis dos Beatles, dos Rolling Stones e do Bob Dylan no chão. Slides a bombarem um Lennon de cabelos e barba comprida em protesto. Enfiado na Bed Peace com Yoko Ono. Mick Jagger e uma mulher. Manifestações estudantis contra a guerra no Vietname. Martin Luther King. Pancada.
Uma espécie de cadeirão do Niemeyer.
Sete ou oito Vespas no meio. A mais antiga é de 1951. Uma com side-car. Todas de matrícula portuguesa. Vejo os conta-kilómetros.
Olho para uma estante controvertida. Dá para os dois lados. Naquele canto já toca o "Satisfaction" e o "Start Me Up". Acho graça às cadeiras longas em formato de onda ou de folha de papel amachucada e apetece-me deitar. Não se toca, oiço à entrada.
No andar de cima, uma espantosa colecção de scooters antigas lançadas para umas rampas. Lambrettas, Bernardettes, Zundaps, e até um modelo da Harley Davidson. Deve ter levantado cabelo. Anúncios e revistas da época. 
À saída um momento sublime. A cena final do "Zabriskie Point". No Buick. Ela sempre linda. Dedos e olhos. Explosões, tudo pelo ar e os Pink Floyd.
"Turn your head feel the breeze."


quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Como um trailer engana um filme



Ganhou um prémio no Festival Indie de Lisboa deste ano.
A crítica (pelo menos a que li depois de ver o filme, e foram muitas!, para perceber) aplaudiu de mãos abertas.
A ideia até era boa, mas eu cá achei chato. Não andava, nem desandava. Era só aquilo. Nem fime, nem documentário. E a câmara permanentemente a tremer, perseguindo as cenas, não ajuda.
Nem NY se salva. Nem o sotaque urbano. Só duas músicas na banda-sonora valeram ouvir.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

all You can't leave behind


Deserto de Spregisandur, Islândia, 2007

Quando era mais novo, achava que era sempre melhor partir que ficar.
Quem partia partia. Quem ficava ficava. Menos.

Agora, quando parto fico.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Meeting "the suburbs"

Zero quilómetros.
Começar a rodagem. De um disco com oito capas diferentes.
Experimentar. Primeiro com o rato.



Às vezes calha bem o refúgio urbano.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Brutal !


O filme teve estreia mundial há coisa de um ano, embora nas nossas salas só depois do óscar de melhor filme estrangeiro 2010.
É um filme passado na minha Buenos Aires querida e, claro, só por poder escutar este espanhol cantado já valeria a pena vê-lo. Depois, numa cena do filme entramos directamente na «cancha» onde se joga uma partida de futebol do Racing Club (um dos clubes velhos da Argentina). E como não amar a feroz "torcida" e o relato que se ouve do jogo... Linda ! A paixão pela bola. Adiante.
Há um homem, um duro, um romântico, duro, que estacou no tempo. Retido no passado. Do que não fez e do que ficou por resolver. Preso para sempre numa vida como diz «llena de nada». Preso.
A um caso, a um crime, que investigou. E em cujo desfecho não acredita. Mesmo depois de 25 anos.
Preso ainda a uma mulher a quem nunca disse que amava. Porque, embora os olhos também falem, lhe faltou sempre a letra 'A' como, metaforicamente, o filme nos mostra. A letra coragem. Para a agarrar. Para a levar.
Que mal... E ela que o ama. Quando quer fechar a porta do gabinete onde estão e... não dá. 
Espósito volta do desterro para onde o tinham mandado. Para encontrar esse passado, recuperá-lo e descobrir. A verdade e onde colocar a letra 'A'. E se, desta vez, se deixam fechar a porta.
Porque, como nos explicam os olhos brilhantes e ilusionados de Sandoval (amigo de Espósito), numa das melhores sequências do filme, uma pessoa pode mudar de tudo: de cara, de casa, de namorada, de religião ou Deus. Mas nunca de uma paixão.


(às duas da tarde, no 'King', depois de uma empada, um croquete e um café servidos pelo Sr. Fernando no "Vá-Vá". E o calor inteirinho lá fora.)
Prestes a sair de cena. Vão. Rápido.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

à moda antiga




(às seis da tarde e a bafa todinha lá fora)

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Regressar... com uma pit stop

EP
'Humbug'
Broken Social Scene - 'Forgiveness Rock Record'
Devendra Benhart - 'What Will Be'

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

domingo, 8 de agosto de 2010

Não é justo esquecer quem nos deu de comer

Écija e Almagro.
Duas terras espanholas. Uma andaluza. A segunda de Castilla e La Mancha. Ambas a deitarem calor. Ambas que salvam a pele.
Écija fica a caminho de Córdoba e depois de Sevilha. É uma cidade posta ao sol. Um sol que rebenta demónios. Mata. Que ferve, queima e fulmina quem se atreve a espreitar para fora. 45º. Duas da tarde. Na Pz. Mayor aguento talvez dois minutos. Apenas o tempo necessário para ir de um lado ao outro e entrar no 'Emílio'. Apenas o tempo necessário para reparar num grupo de rapazes que acalmam a pele nuns jactos de água que brotam do chão. Brincam com um cão que se molha também. Peço ao Emílio um tomate aliñado e umas ameijoas. Antes uma cerveja gelada. Écija é nesta altura uma cidade posta ao sol.
A Almagro chegámos mais tarde. Noutro dia. Para Toledo. Quase às quatro. Calor insuportável que nada apazigua. Tudo fechado. Tudo siesta. As pressianas corridas. Não se vê ninguém.
Almagro é quase um vilarejo. As casas são brancas, tão brancas que se percebe que protejem. Reflectem as doses maciças do sol que recebem. Inclemente. Febril. Fugimos. O único sítio aberto é do 'El Gordo', um homem de 50 anos. Marcado. Que anda como respira. Tão devagar e bronquítico que apetece sermos nós a levar-lhe uma água ou a cerveja que me traz.
Almagro é uma praça. Bonita. E já recebeu Almodóvar.
Que sobre ela escreveu:

"It is one in the afternoon and all the shots we have to do today take place in the street and it’s impossible to shoot until at least four because the sun multiplies on the white walls, the light is blinding and far to flat. We have to wait. The team has disbanded, at this point I like to stay at one of the lifeless interior sets and enjoy the solitude, the clutter of objects and the silence.
(...)
Women from this land know well what it is like to clean a tombstone, to pray at a wake, greet the neighbours, etc. And the faces of the men, slowly weathered by the sun and the wind, have a weight and an expressiveness that would be impossible to improvise."

O filme rodou em Almagro. Onde encontrou Penélope.

sábado, 7 de agosto de 2010

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Toledo

À volta de Toledo navega o Tejo.
Toledo é uma colina, uma grande colina onde assenta um casario ocre.
Queimada e gasta pelo Sol que pára às cinco da tarde e lhe seca o tijolo.
Toledo é uma linda colina. E as ruas, como o Tejo, serpenteiam-se nesta cidade.

(Pablo Picasso)

(em Espanha quando, a pretexto da unidade do país, se voltam a discutir as corridas de touros depois do Parlamento da Catalunha as ter mandado proibir. Seguramente para delírio das nossas associaçoes dos "direitos" dos animais que já preparam argumentos evidentes).

La Mancha

Campo de Criptana,
rota do Cavaleiro da Triste Figura

(rasputine)

segunda-feira, 2 de agosto de 2010