quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Parabéns, amigos !

Primeira edição do DN
Fundado em 29.XII.1864

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

O regresso das Palavras


Do Bisavô. Presidente da Câmara de Viana do Castelo e deputado pelo Partido Republicano à Constituinte. Mas acima de tudo, Professor do Liceu, em Viana e no Porto. O Bisavô das letras. Que adorava ensinar, que um professor ensina sempre e para sempre. Mesmo depois do seu passamento.
Lá em casa era neste cofre que buscávamos o segredo e, sobretudo, a origem de todas as palavras. A ciência toda que o mistério das palavras carrega. Tudo o que a vida e a arte lhes esculpiram. Nas letras fiéis do Bisavô que lhe tinham brotado da pena, do estudo e de um trabalho meticuloso e insano. Que vinham, afinal, do amor profundo às palavras.
Mas um documento tão raro, que na família só havia quatro, distribuídos pelo filho e pelos filhos do filho. E eu, embora filho, já era neto.
Quis a sorte - porque não há destino - que o descobrisse num alfarrabista. Do Porto (como é evidente). Em óptimo estado. Perfeito. Feito para mim. Não foi sorte. Foi vontade. Arqueologia.
Depois, o encontro. Em Sintra. Tipo clandestino. Vários contactos. O alfarrabista que vem ao Sul. E mo passa com zelo para as mãos, numa mesa do "Piriquita", em jeito de travesseiro. Uma hora em que se conversa sobre o significado que estas infinitas palavras têm para a família. Ali fui eu o Dicionário. Fui eu que transmiti o significado. Depois, paguei o preço, que foi nada, só de pensar em meter as mãos na Obra. A seguir, mostrá-lo bem à pequena que foi com o pai assistir à transacção. Para viver a história. E um dia também poder contar.
Uma relíquia que os pais quiseram-me legar. Com uma dedicatória que há-de acompanhar o resto da minha vida e viver para além de mim.
Onde agora posso voltar a procurar todas as palavras. E ensinar a procurar o segredo que elas revelam. E o velho professor continuará a ensinar. E nós a aprender.
O Bisavô. Sobre quem o filho escreveu um maravilhoso posfácio.

«Labor Omnia Vincit
(...)
Por fim realizou esta magnífica e gigantesca Obra, o presente Dicionário da Língua Portuguesa.
Não é a mim que me compete apreciá-lo por falta de recursos apropriados. Mas pude avaliar bem o esforço ingente por ele empregado, na sua execução. Quantas preocupações, quantas arrelias, quantas insónias por amor da sua Obra !
Por motivos inevitáveis, cuja explanação não é oportuno abordar, morreu sem a ver publicada. Foi esta, sem dúvida, a sua maior dor, na hora da morte.
Vou terminar, fazendo a declaração expressa que a modéstia destas toscas palavras não são mais que a homenagem simples dum filho que sempre adorou, admirou e venerou seu Pai. Elas são apenas um ramo de pobres flores que deponho na sua campa. É assim, e só assim, que devem interpretar-se.»

 
Obrigado pelo tesouro de receber esta sagrada herança.
Rodrigo Fontinha

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O Hot Clube de Portugal


Regressaste, meu velho.
Dos mortos. Do caixão onde te tinham plantado, com dois ou três pregos meios tortos que te digo não eram feitos para ti.
Pegaste na chave e foste para outro número ali ao lado. Agora já tens clube. O Hot já tem clube.
E ainda bem, pá. Que eras o mais antigo clube de jazz da Europa e não merecias viver assim. Incinerado por alguma alma penada. Fechado para sempre num caixão de fumo queimado, entaipado e dentro de nada, numa escuridão vazia e cheia de silêncio.

Tu que, naquela cave que não era tua, porque era nossa, deste à luz notas feitas de cordas e metais. Numa Praça que tem o nome mais bonito que pode haver. 
Que sorte! reviver na Praça da Alegria.
Os meus ouvidos já chamam por ti. 

Good Vibrations

Os meus cheiros são os sons.
Desde cedo habituado a meter música na altura própria. A música como enxada. Tinha de ser. Para o que fosse preciso. Para abrir, para rasgar, para explorar. Para aguentar. Para conhecer alguém.
Para um dia reconhecer e ter memória do vivido. Para ter até memória do que o não vivido deixa.
Primeiro procurar, olhar as lombadas, pegar nos discos, olhar. Depois ouvir. A música na cabeça. Lembrar o som. Ouvir qualquer coisa. Ouvi-los chamar. Se não chamas, não vais.
Uma espécie de patrão. Um Senhor Feudal. Não justo. Só dono. Rei Sol. E há uns que se vetam e outros que vivem. Às vezes dar outra oportunidade. Repetir. Ouvir duas vezes que no outro dia estava mal disposto, é isso. Afinal justo.
A vida toda nisto. E se vou para algum lado, para onde vai a viagem, vai a banda sonora. Que é a melhor bagagem. Ao lado dos livros.
E por isso as minhas memórias estão muito construídas com os sons que fui metendo dentro. Como se fossem droga.  
Os meus cheiros são os sons. E as casas onde entro têm de cantar. E as paredes. Mesmo baixinho. As canalizações de minha casa são feitas de cabos ligados ao hi-fi.
E se oiço música esquecida, vejo-me logo onde fui com ela.
Como no verão da Figueira da Foz, com uma miúda que não vejo há 20 anos, tocavam os Beach Boys. É evidente.
A praia da Figueira conhecida por ter ondas de dois e três metros e nós a começar a experimentar o body-board. Parece-me que dei cabo da primeira prancha nessa praia. O coração também não ficou bem.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Feliz Natal

foto de Kim Kyung-Hoon-Reuters

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Ensaio sobre a lucidez


[Jardins do Luxemburgo]

Amava-a como só se pode amar muito uma mulher.
A mulher que é nossa, verdadeiramente.
Era dela.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

domingo, 4 de dezembro de 2011

Sócrates 1954-2011


"Malandro quando morre
Vira samba"

Chico Buarque