segunda-feira, 29 de abril de 2013

"Where do the children play"

Fechou o Londres. Não agora, há um mês ou dois.
Fechou o Quarteto, 
o Mundial, 
fechou o Ávila. O Turim e o Cine 222. E o São Jorge é só para festivais. E o Cinema Roma acho que já nem isso.
Para não falar do Condes, do Império ou dos Alfas. 
No Caleidoscópio, ali para os lados do Campo Grande, também houve uma salinha. E até o Restelo teve um cinema no bairro, onde vi o 'Regresso ao Futuro', quando era puto.
Fecham os cinemas todos de rua.
Mas há centros comerciais e cheiro a gordura e a milho cozinhado.
Que porra !, quase não poder ir só ao cinema, de ter que atravessar corredores de lojas e de gente desenfreada que vai para outro lado, ou vai se calhar às multi-hipóteses de outras 20 salas, e tanto lhes faz.
Futuro de merda. IR ao cinema não é só aos filmes. É deixar o carro na rua e não me  soterrar num parque debaixo do chão. É visitar os bairros da cidade e as ruas, e isto assim, isto faz mal.

Sobrevive o Nimas, o Monumental vá, o Alvalade e o Fonte Nova, que é Centro, mas a gente perdoa-lhe. E aguenta o King.

foto andré

domingo, 28 de abril de 2013

Lobotomias

Jack Vettriano

Ele escondia-se na música. Ela revelava-se nela. Era a mesma coisa.
Com os livros era igual.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Os telhados de Lisboa V


[Lx. Factory, Lisboa, 2013]

Há noites de Lisboa que são sagradas. Noites como ontem, como hoje há-de ser. Noites como ontem, quando o Verão vem antes do tempo. Não, não vem. Veio a tempo de limpar o sacana do inverno que mata e mói e deita abaixo e emagrece e faz febre e é doente.
Há noites em que apetece beijar o chão desta cidade. Em que ficamos loucos quando abrimos os pulmões e aí apetece largarmo-nos como se o ar fosse droga, ou fosse um rio e só tivéssemos que nos deixar ir. E a gente desesperada enche a rua. Que só tem mesmo quase isto. Enchem os copos, falam e riem.
Quando penso que há quem pague para a ver tão bela e nós a temos de graça. Chegam os cruzeiros ao rio, e partem. Dizem 'Hello', ouve-se o apito, e vão. Mas ela é nossa.
Não há dívida ou défice que nos separe. Não há ministros que mandem em nós, nem governos que importem mais. Ninguém nos corre daqui, nem há impostos que tudo nos levem.
Estamos juntos. E o Benfica manda cá.

domingo, 21 de abril de 2013

"A Chinese Life", by Li Kunwu and P. Ôtié


«How long ago it seems now, that time when my father made me pronounce my first revolutionary words, when he carried me on his broad shoulders and marched in a parade to the glory of China. When my mother would carry me, caught up in a non-stop flood of bicycles, down streets no car had ever driven.
That China - how well I knew and loved it. Like Proust, with his Madeleine - I feel nostalgia and hold it tight against my heart. But heavens, how unhappiness abounded in that China !
Whether or not we make up a quarter of the world's population made no difference then. It was like we weren't there. Everything in the world happened without us. No chinese people anywhere. Neither on podiums, nor on Everest, nor in Space. We'd only just got hard-won seat at the U.N. and any headlines we made in the world news were for our occasional famines.
That's the country I come from. Not the land of "made in China", skyscrapers, the olympic games and the world Expo. So yes, of course we're proud of what we've made, even if it's not perfect yet.»

quinta-feira, 18 de abril de 2013

segunda-feira, 15 de abril de 2013

sexta-feira, 12 de abril de 2013

O "Jardineiro de Deus" - II

(foto: andré)

Acho que sempre gostei da Gulbenkian.
Lembro-me sempre de percorrer o Jardim que, quando era miúdo, pensava que era mágico. Como se fosse uma floresta encantada para quem saía do centro irritado das avenidas novas.
Vinha com os pais e a irmã de um café ou pastelaria, ou do bife do 'Galeto', ou de casa dos avós, e parecia que tudo ali parava e os relógios deixavam de existir.
Havia poucos jardins em Lisboa, e este era nosso.
As árvores, a terra húmida e a vegetação abundante, o lago no centro e os cursos de água que se ouvem em todo o lado, o emaranhado dos passadiços e as esculturas espalhadas pelos cantos, eram o suficiente para não deixar ali penetrar tudo o que fosse mal.
Depois íamos para a parte do museu, o Centro de Arte Moderna, na altura - anos 80 - das poucas, senão única, oferta de arte contemporânea que havia em Lisboa. Gostava dos espaços abertos e dos quadros com várias cores e nem sempre óbvios e fáceis. Gostava quando me perguntavam "O que é que isto te parece ?", e aí sentia-me um Senhor !, de opinião autorizada.
Nunca o refúgio da Gulbenkian deixou de me atrair. Achava o Jardim irresistível, totalmente, e, por isso, já na Faculdade, era para onde decidia levar as minhas namoradas. Para o bosque da Gulbenkian. No princípio, talvez elas estranhassem, mas, assim que pisavam o sítio, o feitiço funcionava, e eu só tinha que aproveitar.
Nessa altura, comecei também a frequentar as salas dos concertos, o "Jazz em Agosto", e, uma vez ou outra, a Biblioteca. Nunca ficava lá a estudar. Sempre achei que era um bocado chato ir ali só para estudar. Dizia à mãe que ia à Biblioteca da Gulbenkian - o que a deixava contente -, mas depois entretinha-me nos corredores dos livros, a olhar para as prateleiras e a ver lombadas.
Caramba !, até a primeira reunião política com a malta da Faculdade foi no anfiteatro da Gulbenkian !
Quando comecei a trabalhar, vim parar à Av. AAA, mesmo em frente à Gulbenkian de quem continuei amante. Às vezes só da "cantina", com os livros da 'Almedina' a chamarem mesmo em frente. Parecia magia, outra vez. 
Não sei se é a isto que eles chamam tradição, mas, agora, com alguns pêlos brancos na barba, é também onde me repito com os putos, deixando o poder do feitiço funcionar.

Tudo isto para agradecer a Gonçalo Ribeiro Telles, o Arquitecto prémio "Nobel" da paisagem, que, com António Viana Barreto, criou o magnífico Jardim.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

O "Jardineiro de Deus" - I



"Nunca estive tão envergonhado para falar."

Gonçalo Ribeiro Telles, 90 anos, vencedor 2013 do Prémio Sir Geoffrey Jellicoe para os arquitectos paisagistas.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

The Wall


(foto: andré, 2007)

Nestes tempos do vale tudo, há sempre quem enterre a pá mais fundo.
O que se passa em Berlim com a subtracção do muro que dividiu uma cidade, uma nação e muitas, muitas famílias, e que foi responsável pela morte de quem não queria viver emparedado, não é só triste.
É demolidor !
É, obviamente, apagar a memória de 40 anos do século XX, 40 anos de uma cortina feita de ferro e de betão e dos actos criminosos que se cometeram em nome de uma ideologia.
Quando as razões para obliterar a cidade do seu Muro de Berlim pertencem ao mundo do vil metal, ao mundo dos interesses lucrativos de alguns para quem a construção de um condomínio privado é só business, nega-se virtude à História.
Pior ! Nega-se o respeito que as vítimas do regime da ex-RDA nos deviam merecer, e é espetar uma faca no coração das gerações futuras e de quem hoje vive em liberdade à custa do sangue de muitos. É trair o seu exemplo e sacrifício.
O muro é uma herança dos povos ocidentais. Pertence ao património do mundo livre.
O muro de Berlim é nosso.



(foto: andré, 2007)

terça-feira, 9 de abril de 2013

Thatcher, M., 1925-2013




"She was an exceptionally consequential leader, in many ways a very great woman. There should be no dancing on her grave but it is right there is no state funeral either. Her legacy is of public division, private selfishness and a cult of greed, which together shackle far more of the human spirit than they ever set free."

editorial 'The Guardian', 8.04.13

"Mrs. Thatcher developed a strain of capitalism that became dominant around the world with the fall of communism. But she also helped unleash market forces and unravel social compacts in ways that many societies have yet to come to grips with. Even on the day of her death, leaders and citizens from Cyprus to Portugal to Washington were enmeshed in emotional debates over the policies that defined her legacy. Those cross currents continue to play out in her own country, a laboratory even now for austerity policies."

'The New York Times', 8.04.13

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Um erro de casting


José Sócrates não é comentador.
José Sócrates é um político. E com ambições.
Vê-lo, mas sobretudo ouvi-lo na televisão, é perceber que Sócrates não veio comentar a política nacional. Sócrates veio fazer política. Não mudou em nada. Nem na forma, nem na substância. Nem nos gestos, nem ao menos no tom.
Sócrates continua com a mesma consciência de si. O seu registo é igual ao que tinha quando saiu. O mesmo discurso, os mesmos trejeitos, as mesmas maneiras. Até as mesmas gravatas. Sócrates, não há dúvida, veio fazer oposição.
Ao governo, sem precisar de ser eleito, ao menos como deputado, aí onde arriscava morderem-lhe as orelhas.
E a Seguro sem precisar, sequer, de falar nele. Com a sua presença na televisão, com aquilo que quer dizer, Sócrates lembra-se. Ao país e ao PS. EU estou aqui. E EU voltarei. E vai ser candidato.
Sócrates não traz opiniões. Traz uma agenda.
Não à toa, a capa de hoje de um jornal do Norte, parece já avisar quem irá Passos Coelho ver todos os dias no retrovisor ou quem terá à frente no próximo debate eleitoral.
Grave não é ter voltado. Grave, mas mais que tudo, irritante é percebermos aquilo que Sócrates realmente quer.

Like a Hurricane

Há música. Há poesia.
E há furacões.
Como este. Como uma canção cheia de solos, pode depois ter ainda o solo maior aos 3 minutos que dura a eternidade de mais 6 minutos, a jorrar da Old Blackie do Neil Young. E como ventava naquele palco e coração. Dos sonhadores.
Before that moment you touched my lips / That perfect feeling / when time just slips /Away between us / on our foggy trip.


 

sábado, 6 de abril de 2013

"Saudade", de J. Ortega y Gasset


«As circunstâncias do mundo trouxeram-me aqui e as razões pelas quais aqui estou, aconselham-me a uma vida retirada. Mas ainda que assim não fosse, motivos pessoais impedir-me-iam de entrar na intimidade de Portugal.
(...) não se pode conhecer o segredo, a intimidade de um povo, se não se ama nele a mulher. A mulher é o mais recôndito segredo dos segredos de um povo. Em si mesma, a feminilidade, é segredo essencial. Cada mulher tem o seu segredo, o seu segredo profissional. Mais ainda, a mulher é a profissional do segredo. O seu papel perante o homem, é apresentar-se-lhe como fascinante enigma, que atrai e obceca, tal como o hieróglifo.»

sexta-feira, 5 de abril de 2013

INDIGNO


Tirar um féretro que está na rua há (mais de) um ano, não é resolver. Não é sequer higiénico.
É óbvio. É tarde. É ridículo. Não tem coragem. É feio. Cheira mal. É cómico.
Não vale nada !
Ainda assim, como nada na vida é só mau, acho que podemos agradecer os momentos hilariantes dos últimos meses.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Ponham os olhos lá fora !




Este homem era ministro do Orçamento do Governo de Hollande.
Mentiu ao Parlamento, mentiu aos seus colegas de Governo, mentiu em entrevistas e mentiu aos franceses.
Dizia que nunca tinha tido contas na Suiça. E tinha. E não as declarou ao Fisco.
Acabou exposto por um tribunal e demitiu-se, e agora pede perdão aos franceses.

"Saudade", por José Ortega y Gasset


«A Saudade não é um tema português, mas o tema português por excelência. Se outro qualquer pode situar-se na sua periferia é, porventura, a "Descoberta". Ambos polarizam a realidade histórica que é Portugal. E resulta que são uma contraposição: a "Descoberta" é a ânsia de partir, a "Saudade" a ânsia de voltar. A ex-patriação (uma vez) e a re-patriação permanente: antes e depois da Descoberta. Portugal é o "filho pródigo" de si mesmo. O que é nele mais autêntico ? O partir ou o voltar ? Aquilo fê-lo uma vez: isto fê-lo e está sempre a fazê-lo. A cada dia, cada hora o português volta a si.
Note-se o que há de grave nisto. A Descoberta é um quebrar o horizonte e um buscar o imprevisto mais além, é "mares nunca d'antes navegados", a radical abertura. Saudade é solidificação de todo o horizonte dado: um permanecer no velho, nos costumes. Uma hermetização e o maior não à aventura.»

terça-feira, 2 de abril de 2013

Blowing Birds

 

Em 'Blow Up', os monstros Jimmy Page e Jeff Beck nas guitarras.