quarta-feira, 30 de abril de 2014

segunda-feira, 28 de abril de 2014

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Os Pais a abrilarem-me o dia !


(...)
Mesmo na noite mais triste
em tempo de sevidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.


'Trova do vento que passa'

"As Portas que Abril abriu"


(...)
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
e só nos faltava agora
que este Abril não se cumprisse.
Só nos faltava que os cães
viessem ferrar o dente
na carne dos capitães
que se arriscaram na frente.

Na frente de todos nós
povo soberano e total
que ao mesmo tempo é a voz
e o braço de Portugal.


Ouvi banqueiros fascistas
agiotas do lazer
latifundiários machistas
balofos verbos de encher
e outras coisas em istas
que não cabe dizer aqui
que aos capitães progressistas
o povo deu o poder!
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu

agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!


José Carlos Ary dos Santos, 1975

terça-feira, 22 de abril de 2014

O Sector 25




Sócios há anos e repetentes de tantas incansáveis bilheteiras, com passaporte de final europeia e recordes de júbilo e sofrimento, mas cativos, com bilhete de época, só no ano maior da penitência.
Depois da crueldade inaudita do ano passado, da dor imensa que é ficar órfão de todos os astros, planetas e corpos celestes, de querer deixar o futebol e morrer, só podíamos entregar o coração a juras imorredouras de renovada fidelidade.
Escolhemos os lugares onde tínhamos recebido os 3-1 ao Fenerbahce e onde não segurei as lágrimas porque era final em Amesterdão. Em questões do coração, é fundamental não contrariar os deuses. 
Mas no ano grande da dificuldade, aquela equipa de politraumatizados só parecia tornar tudo ainda mais penoso. A bola não tinha dono e fervia nas biqueiras. No banco, um treinador de ombros caídos antes sequer do jogo começar.
Uma derrota na primeira jornada e dois golos depois dos 90 na segunda, eram a equação perfeita para o desastre. Os empates em casa com Arouca e Belenenses, equipas lá do fundo, davam razão ao desespero. No olho do furacão, não faltaram os assobios que nem os cânticos dos No Name conseguiam já calar. E mesmo estes, noutro jogo, até só abriram as goelas aos 78 minutos !
Nessa altura, como forma de esconjurar o horrível bruxedo que nos roía as entranhas, já só pedia que o treinador ampliasse bem a fotografia do minuto 90 + 2, ajoelhado naquele campo infinitamente triste, e a colocasse no balneário ao lado da folha de jogo. Para memória futura.
As pernas não corriam, as jogadas não saíam, a magia não sonhava e tudo virado para o horror do cronómetro.
Ao meu lado, a D.ª Celeste beijava a cruz que traz ao peito e benzia-se a cada jogo. Nunca lhe neguei as mãos. Do outro lado, o velho mítico, de gorro na cabeça e fones nos ouvidos, tremia sempre que um de nós demorava um pouco mais a chegar ao lugar, só de pensar que esse podia faltar e isso ia dar azar. Não longe, o velho amigo de tantas batalhas, que ainda leva o mesmo cachecol e com quem trocamos impressões ao intervalo, amaldiçoava a nossa cruz, mas que como Cristo tínhamos que saber carregar.
Acho que percebi que as coisas iam mesmo mudar, quando perdemos o Pantera Negra para os céus. É verdade que já tínhamos tido o 4-3 ao Sporting, mas esses são jogos diferentes e era para a Taça.
Logo no primeiro jogo sem o Rei nas bancadas, ele veio velar por nós no relvado. Fumos negros nas mangas, as camisolas de todos SÓ com um nome escrito e 2-0 contra o Porto. Acho que foi aí. Quando Rodrigo flechou o dragão.
Foi o ponto de não retorno. O momento da compreensão. Das pazes com o destino.
E, depois, ó fatalidade !, o Sr. Coluna. 
No ano do luto, este só podia ser vermelho. E foi.
Faltava arrombar armários e gavetas e cortar a cabeça de todos os fantasmas e demónios. Mas sempre com doçura extra nos pés de Nico e Marko.
No final, enfiar o punho bem dentro da ferida aberta do inimigo e rodá-lo todo. Fazer lá dentro um churrasco e rodar um pouco mais. Como mostrou ao mundo o Andrézinho Gomes.
Um título incandescente que demorou 3 anos a fazer.
No piso zero, sector 25, atrás da baliza do topo Norte, com direito a fotografia na pág. 4 do 'Record'.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Livro aberto



Gabriel García Márquez (1927-2014)

quarta-feira, 16 de abril de 2014

segunda-feira, 14 de abril de 2014

You'll never walk alone !


Steven Gerrard, o eterno capitão do Liverpool, nunca celebrou um campeonato com as cores dos reds. Ou vestiu camisola diferente.
Está há 16 anos na equipa principal do clube e a última vez que em Anfield se viram as faixas de campeão foi em 1990.
Ontem, a vitória frente ao City (conseguida a escassos minutos do fim) colocou-os em primeiro lugar na classificação e o sonho ficou mais perto.
Ontem, passavam também 25 anos sobre a tragédia de Hillsborough, a meia-final da F.A. Cup em que 96 adeptos do Liverpool morreram esmagados, um dos quais primo de Gerrard com 10 anos.
Depois disto, Gerrard já não deixa fugir o título.
As lágrimas do fim do jogo são todas as emoções de uma vida inteira a dizerem chega !

quarta-feira, 9 de abril de 2014

há livros que nos mandam MESMO para outro lado !


de Rita Sousa Tavares

«Faz uma neblina danada e um calor de muitos graus. Você acorda de manhã, chega na praia e repara que ela acordou muito antes de você. Faz tempo que os cocos já chegaram nos quiosques e as cadeiras e barracas estão ali desde a madrugada. Nas praias do Rio de Janeiro as possibilidades são infinitas. (...) À direita, o Morro Dois Irmãos - aquelas duas montanhas pontiagudas que ficam guardando a praia a vida inteira. À esquerda, o Arpoador - a pedra gigante que divide o mar ao meio. Algumas pessoas dizem que, se a orla fosse gente, Dois Irmãos seria o pulmão e Arpoador o coração. É assim que o carioca olha a sua praia: de um jeito muito cheio de ternura. Mas, entre Dois Irmãos e Arpoador, vão centenas de passos e diferenças. Afinal, o posto 12, aos pés do Morro Dois Irmãos, fica ali encostadinho no Leblon. E o posto 7, Arpoador, é quase a curva de Copacabana. Entre um e outro, todas as tribos se acham: tem a área do sossego, a área da confusão, a área gay, a área do surfista, a área do jogador de futebol e a área do adepto de cerveja. Tem a área da música muito alta e tem até a área da malhação. Isso, até chegar na curva, que a partir daí é tudo uma outra história: de Copacabana ao Leme a gente dá de cara com novas tribos, novos jeitos e até novos mergulhos. E é no meio de toda essa divisão que se encontra o lugar mais democrático do Rio de Janeiro. Sim, a praia é o lugar da pacificação: todo o mundo mergulha com a mesma alegria. Todo mundo se espanta, do mesmo jeito, com a forma com que a luz atravessa os morros e vai incidir ali, naquela água. Todo mundo usa muito pouca roupa, todo mundo prefere o coco mais gelado. Ah, é: em dia de muito calor, ganha o cara da barraca que tiver o coco mais gelado. Naquela hora, naquela praia, todo mundo sabe que está na melhor cidade da América do Sul. E esse grito quem o deu foi Maria Bethânia, ali no começo da década de setenta, quando abriu os pulmões e cantou: "vivemos na melhor cidade da América do Sul, baby I love you !" 
O grito ainda fica fazendo eco todo o dia, por todos os lugares. Sim, o amor está espalhado pela cidade inteira e ele arrebenta em seu esplendor naquelas praias. (...)
Nessas praias, em cada canto há uma história, uma canção. Um garoto chamado Jeferson pedindo sua namorada em casamento. Um motorista de ônibus mergulhando no fim da hora do expediente. O vendedor de tatuagens provisórias sugerindo que você desenhe uma palmeira em suas costas. Paco, o peruano, sentado no calçadão de Ipanema, explicando para você como aquela pulseira que ele está vendendo foi feita num dia em que sentia muita saudade de casa. O dono da barraca te chamando pelo nome e te alugando a melhor cadeira. Homens e mulheres jogado "altinho" numa roda meio desordenada. A galera do vôlei, numa grande misturada de idades, todos de corpos muito dourados - são anos e anos de sol brilhando junto da rede - e a rede é seu maior orgulho. Alguém dando o mergulho noturno naquele fevereiro muito quente, entre uma cerveja e outra. (...)
A praia, no Rio de Janeiro, é a gema que brilha sem parar. O tesouro sem dono, que é de todo o mundo. E ele se acha nas mãos de todo o surfista, todo o vendedor, todo o rico, todo o pobre, todo o turista e todo o homem trabalhador. A orla é a alegria que não morre e que, ainda assim, todas as manhãs ressuscita.»

quinta-feira, 3 de abril de 2014