'Moonlight', de Barry Jenkins
domingo, 26 de fevereiro de 2017
terça-feira, 21 de fevereiro de 2017
domingo, 19 de fevereiro de 2017
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017
"Civil rights and riots, afros and Watergate." *
* acho que actualmente isto só vai lá novamente assim. Com as devidas adaptações.
Grande disco, by the way.
domingo, 12 de fevereiro de 2017
La pelota no se mancha
Lembro-me bem. Quando os jornalistas se inteiraram de que íamos jogar contra a Inglaterra nos quartos-de-final nós até evitámos falar, porque sabíamos bem quais iriam ser as perguntas: como íamos gritar os golos que lhes marcássemos, se íamos fazer fuck you à Thatcher, se íamos dar um murro ao Shilton. Sabíamos o que aí vinha, por isso decidimos manter-nos serenos e alheados disso. Em todo o caso, por dentro, era uma questão que mexia connosco. Asseguro-vos que, por dentro, eu estava a arder. Explodia-me o coração e era preciso jogar com ele.
Na nossa preparação para o jogo, porém, o tema da guerra não passou desapercebido. Nem podia passar ! A verdade é que os ingleses nos tinham morto muitos rapazes, ainda que se os ingleses tiveram culpa, culpa tiveram também os argentinos que mandaram os nossos rapazes enfrentar a terceira potência mundial em sapatilhas de pano.
(...)
Desse golo com a mão não me arrependo, de todo. Não me arrependo! Com todo o respeito que me merecem os adeptos, os jogadores, os dirigentes, não me arrependo nem um bocadinho. Porque eu cresci com isso, porque em Fiorito eu fazia isso permanentemente. E acabei por fazer o mesmo diante de 100 mil pessoas que nem se aperceberam... Porque toda a gente ficou a gritar golo. E, se gritaram, é porque não tinham qualquer dúvida. Por isso, como podemos atribuir a culpa ao coitado do tunisino?
Ganhei um processo a um diário inglês que, mais tarde, escreveu num título "Maradona, o arrependido", coisa que jamais me passou pela cabeça. Nem aí, imediatamente, nem passados 30 anos... Nem até ao meu último suspiro, antes de morrer. Como respondi a um jornalista inglês, da BBC, um ano depois: "Foi um golo totalmente legítimo, porque o árbitro validou-o. E quem sou eu para duvidar da honestidade do árbitro, certo?" O mesmo disse a Lineker, quando ele esteve em minha casa, em Buenos Aires, para me fazer uma entrevista , também para um canal inglês.
(...)
Voltou a perguntar-me se não me sentia mesmo mal por ter marcado aquele golo com a mão e eu disse-lhe que era um jogo, que se o árbitro não tinha percebido, isso era parte do jogo. E Lineker conformou-se, não disse absolutamente mais nada. Ou disse: "São coisas do futebol." Enorme, o Lineker. Acabamos sempre a falar assim quando nos vemos.
Shilton, esse sim, ficou e vai ficar para sempre com raiva de mim. Disse: "Não vou convidar Maradona para o meu jogo de despedida." Também, quem é que quer ir ao jogo de despedida de um guarda-redes ? E de Shilton ?!
(...)
Para mim, foi como roubar um ladrão: acredito que tenho cem anos de perdão. Na conferência de imprensa, não sabia como sair daquela enrascada. (...) E a alguém respondi, de passagem, que tinha sido com "a cabeça de Maradona e com a mão de Deus". Disse-o a pensar em todos os rapazes que tinham morrido, em todos eles - e aí sim, sensibilizei-me. Disse que tinha sido "a mão de Deus" que me tinha ajudado a fazer aquele golo. Não que eu acreditasse ser Deus, nem que a minha mão fosse a mão de Deus: acreditava, simplesmente, que tinha sido Deus, com a sua mão, a pensar em todos os rapazes cujas vidas foram destruídas nas Malvinas, a fazer aquele golo. E é isso que sinto ainda hoje, 30 anos depois.
(...) Messi pode ser maior do que eu. Pode ser, ou pode não ser. Agora, eu marquei dois golos à Inglaterra que valeram pelos rapazes caídos nas Malvinas e pelos familiares dos rapazes caídos nas Malvinas. Dei-lhes um consolo, e isso mais ninguém vai poder fazer. Mais ninguém ! Porque não vai haver outra guerra, porque não pode haver outra guerra, porque isso queria dizer que tínhamos voltado a ter um Galtieri e ninguém quer um Galtieri de volta.»
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017
terça-feira, 7 de fevereiro de 2017
"a reacção dos brancos a um homem negro na Casa Branca"
«(...)
Até que chega George W. Bush, um Presidente horrível que foi um verdadeiro desastre e que fez um dano tremendo ao país. Então, em 2008, nós enquanto sociedade fizemos uma coisa extraordinária, elegendo Barack Obama. Nesse momento senti-me feliz e esperançoso por finalmente termos conseguido passar para a fase seguinte na concretização do que queríamos ser enquanto país. Bom, afinal, estava enganado. Estávamos todos errados. Porque o que a eleição de Obama fez foi enfurecer as pessoas da direita, ao ponto de o bloquearem durante oito anos. Renegaram-no, não lhe ofereceram o respeito dado aos outros presidentes no passado e criaram uma reacção tremenda. Essa reacção chama-se Donald Trump. Claro que estou a simplificar a história, mas no essencial foi isto: a reacção dos brancos a um homem negro na Casa Branca.
(...)
Estamos a viver num país que é um puro caos. São incompetentes e não sabem o que estão a fazer. Andam a criar problemas que não estão preparados para enfrentar. E, para dizer a verdade, não sei onde isto irá parar. A única coisa inspiradora é a enorme oposição que está a movimentar-se. A marcha no dia 21 de Janeiro, em Washington, a que a minha mulher Siri e a minha filha se juntaram - e que se viu por toda a parte nos Estados Unidos e até na Europa -, foi algo incrível de observar. Nem nos velhos tempos das marchas contra a guerra do Vietname houve um único dia neste país em que tanta gente saísse para a rua. E, agora, com esta ordem presidencial que impede a entrada de pessoas de certos países, houve outra manifestação espontânea. A minha esperança é que esteja a ser criada uma nova geração de activistas que passem para um outro patamar, além das acções de rua - que concorram para cargos a nível local e se envolvam nas tomadas de decisão. Se isso não acontecer, o país vai ser tomado por maníacos que agora, com o poder que têm, podem fazer mais ou menos o que querem. Não nos enganemos: ainda há um grande número de pessoas que gostam de Trump.
Está zangado ?
Sim, estou muito zangado. Zangado connosco por termos eleito esta pessoa. Temos regras muito estranhas, em que alguém que ganha pelos votos pode perder as eleições. Trump é um Presidente legítimo segundo as regras deste país, não há qualquer dúvida sobre isto. Com ele, o silêncio já não é uma opção, temos todos de falar.»
(Paul Auster, in 'Expresso', 4.02.2017)
Até que chega George W. Bush, um Presidente horrível que foi um verdadeiro desastre e que fez um dano tremendo ao país. Então, em 2008, nós enquanto sociedade fizemos uma coisa extraordinária, elegendo Barack Obama. Nesse momento senti-me feliz e esperançoso por finalmente termos conseguido passar para a fase seguinte na concretização do que queríamos ser enquanto país. Bom, afinal, estava enganado. Estávamos todos errados. Porque o que a eleição de Obama fez foi enfurecer as pessoas da direita, ao ponto de o bloquearem durante oito anos. Renegaram-no, não lhe ofereceram o respeito dado aos outros presidentes no passado e criaram uma reacção tremenda. Essa reacção chama-se Donald Trump. Claro que estou a simplificar a história, mas no essencial foi isto: a reacção dos brancos a um homem negro na Casa Branca.
(...)
Estamos a viver num país que é um puro caos. São incompetentes e não sabem o que estão a fazer. Andam a criar problemas que não estão preparados para enfrentar. E, para dizer a verdade, não sei onde isto irá parar. A única coisa inspiradora é a enorme oposição que está a movimentar-se. A marcha no dia 21 de Janeiro, em Washington, a que a minha mulher Siri e a minha filha se juntaram - e que se viu por toda a parte nos Estados Unidos e até na Europa -, foi algo incrível de observar. Nem nos velhos tempos das marchas contra a guerra do Vietname houve um único dia neste país em que tanta gente saísse para a rua. E, agora, com esta ordem presidencial que impede a entrada de pessoas de certos países, houve outra manifestação espontânea. A minha esperança é que esteja a ser criada uma nova geração de activistas que passem para um outro patamar, além das acções de rua - que concorram para cargos a nível local e se envolvam nas tomadas de decisão. Se isso não acontecer, o país vai ser tomado por maníacos que agora, com o poder que têm, podem fazer mais ou menos o que querem. Não nos enganemos: ainda há um grande número de pessoas que gostam de Trump.
Está zangado ?
Sim, estou muito zangado. Zangado connosco por termos eleito esta pessoa. Temos regras muito estranhas, em que alguém que ganha pelos votos pode perder as eleições. Trump é um Presidente legítimo segundo as regras deste país, não há qualquer dúvida sobre isto. Com ele, o silêncio já não é uma opção, temos todos de falar.»
(Paul Auster, in 'Expresso', 4.02.2017)
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017
"Ópera Bufa", por Clara Ferreira Alves
«(...) Pior do que a crueldade, sempre gratuita, é esta indiferença perante a crueldade. As pessoas que resolvem olhar para o lado, fugir com o rabo à seringa, pretendendo não ver. As pessoas que têm horror da resistência. Os facilitadores. Os cúmplices. Os assalariados. Os corrompidos. Os cobardes. Os amorais. Os neutros.
O que assusta em Trump não são as políticas de Trump. O que assusta é a crueldade, traço evidente para quem viu os episódios de “O Aprendiz” ou os primeiros debates contra os republicanos, quando ele não esperava ganhar. Quando descobriu uma aberta em Jeb Bush nunca mais o largou, como um mastim esfomeado a quem atiraram um bife. Vemos a crueldade dentro da auréola branca dos olhos pequeninos, no fungar enervado, na crispação furiosa do desapontamento. E vemo-la no triunfo, quando ela se torna corrupção e prepotência, vingança e soberba. Vemo-la quando ele sai do carro e avança para Obama deixando para trás a mulher, sem lhe abrir a porta ou esperar por ela. Caminha sempre na frente da família, a filha favorita ao lado, o filho pequeno na cauda. Vemo-la nas entrevistas e nas poses. Nos filmes e nos livros sobre ele, pagos ou não por ele. Vemo-la no dedinho autocrático, o bracinho biónico deste Dr. Strangelove. Vemo-la agora, perigosíssima, nestas ordens executivas feitas por medida. E vemo-la, suprema, no olhar maléfico do seu mentor, Steve Bannon, o novo senhor da Segurança Nacional americana. Bannon, o “leninista”, o “Darth Vader” (palavras dele) que gosta de soluções finais para os problemas nacionais e internacionais. O amante da força bruta e da guerra total, o homem que quer destruir o sistema. O ditador dos media. O Goebbels desta ópera bufa. Vemos a crueldade claramente vista. Podemos escolher não ver, como fazem Paul Ryan e Theresa May com olhos murchos. Podemos sempre não ver, mas custa-nos a alma.»
in 'Expresso', 4.02.17
domingo, 5 de fevereiro de 2017
sábado, 4 de fevereiro de 2017
Marine de Guerre
Para os neo-nacionalistas de hoje, a imprensa é a oposição e a liberdade de informação um perigo, que é preciso reprimir e controlar. Perguntas incómodas são postas na rua.
E fazem-no à vista de todos e sem qualquer vergonha, abusando da tolerância e dos direitos, liberdades e garantias dos regimes democráticos, que querem destruir.
Depois não digam que eles não avisaram.
E fazem-no à vista de todos e sem qualquer vergonha, abusando da tolerância e dos direitos, liberdades e garantias dos regimes democráticos, que querem destruir.
Depois não digam que eles não avisaram.
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017
"Mulheres", de Charles Bukowski
Mandámos uma valente queca nessa noite, mas foi a noite em que a perdi. Não havia nada a fazer. Rebolei para o lado e limpei-me ao lençol enquanto ela foi à casa de banho. Lá no alto, um helicóptero da Polícia rondava os céus de Hollywood.»
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017
Sing him an american tune
«Sally Yates fired by Trump after acting US attorney general defied travel ban»
Oh, we come on the ship they call the Mayflower
We come on the ship that sailed the moon
We come in the age’s most uncertain hour
Oh, we come on the ship they call the Mayflower
We come on the ship that sailed the moon
We come in the age’s most uncertain hour