Amo Roma. Desde que lá comecei a ir, tinha 13 anos. Depois voltei. Uma, duas, três vezes. Na última nem podia andar, mas fomos felizes numa Vespa à Nanni Moretti que tornou o mapa mais fácil e permitiu a viagem, desenhando esses e mais esses por todas as ruelas e avenidas. De que saltávamos para um gelato e um café.
De Roma guardei sempre o prazer pela vida. A alegria e o apetite pelas coisas boas e lindas que ela nos pode dar. Fosse num beco da via Margutta, na 'Fabriano', onde se compram lápis e cadernos, ou numa igreja onde nunca entrámos antes e cujos tectos nos comovem, e que nos salva do calor ocre e húmido antes de nos mandar para uma esplanada no Campo dei Fiori. A Grande Beleza.
Amo Roma.
E Totti é tutta la Roma. Não precisou de vencer muitos títulos pela nossa amada cidade, mas é. Um campeonato, duas Taças de Itália e duas Supertaças. E essa história acaba aqui.
Não é, então, por isso qu'il Capitano ganhou o respeito da história. Nem sequer por ter sido campeão do mundo, quatro meses depois de uma fractura do perónio de que recuperou contra médicos e prognósticos, só porque queria. Como se antecipasse o destino que o faria desempatar um 0-0 horrível no prolongamento dos oitavos de final contra a Austrália com um penalty marcado ao ângulo. Não. Não é por isso.
É que no mundo-cão do futebol é coisa rara tanta devoção por um só clube e pela cidade que nos criou. No meio de tanto mercenário, de centenas que só vêem fama, instagram, prémios e dinheiro, este príncipe fez diferente e escolheu o amor puro. Que só se tem quando se é menino. Pela terra e pela família.
E, mesmo que o tivessem dado tantas vezes como acabado, sempre com a alegria de quem ainda brinca no bairro. Sempre com um bocadinho mais de Arte para oferecer... bem, a... todos.
Agora, com 40 anos (olha outro desta geração), fez o último jogo pelos giallorossi e diz que tem medo. Vai deixar a loba do Capitólio e eu não sei quem fica mais órfão: se ela, se nós, que amamos o futebol e o eterno regresso a Casa.