sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Dia de Memória às Vítimas do Holocausto

 


«A persuasão de que a vida tem uma finalidade está enraizada em todas as fibras do homem, é uma propriedade da substância humana. Os homens livres dão a esta finalidade muitos nomes, e sobre a sua natureza muito se debruçam e discutem; mas para nós a questão é mais simples.

Agora e aqui, a nossa finalidade é chegar à Primavera. Neste momento, nada mais nos preocupa. Por detrás desta meta, neste momento, não há outra meta. De manhã, quando, em fila na Praça da Chamada, esperamos durante um tempo interminável a hora de partir para o trabalho, e cada sopro de vento penetra por debaixo das nossas roupas e corre em arrepios violentos pelos nossos corpos sem defesa, e tudo em volta está cinzento, e nós próprios estamos cinzentos; de manhã, ainda antes de o dia chegar, todos observamos o céu do lado do Oriente para espiar os primeiros indícios da estação amena, e o nascer do Sol é todos os dias comentado: hoje foi um pouco mais cedo do que ontem; hoje está um pouco mais de calor do que ontem; dentro de dois meses, dentro de um mês, o frio dar-nos-á tréguas e teremos um inimigo a menos.
Hoje, pela primeira vez, o Sol nasceu vivo e nítido por cima do horizonte lamacento. É um sol polaco, frio, branco e longínquo , e não consegue aquecer para além da epiderme; mas, quando se libertou das últimas neblinas, um murmúrio percorreu a massa descorada que somos e, quando eu também senti a tepidez atarvés da roupa, compreendi como se pode adorar o Sol.»

domingo, 24 de janeiro de 2021

sábado, 23 de janeiro de 2021

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Auto-Retrato


A minha mulher não é minha
É da cabeça dela
Mesmo achando que sim
Não precisa de mim
Isso é o que me agrada nela
Não deseja ser o meu mundo
Mas tem-me em seus desejos
Eu noto nos seus olhos
A nítida presença
Das nossas aventuras
Voa com seus pássaros fantásticos
Agnósticos, simpáticos
Por campos de razões
E quando volta traz-me caramelos
(...)
Desce nos cabelos das estrelas
Bem nas barbas dos fantasmas
Que aprendeu a desmontar
E acaba a transformá-los em brinquedos
Ela é o capitão do seu navio

"O Navio Dela" - Vida Nova / Manel Cruz

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Com Borges e com Manguel


 «Abro caminho por entre a multidão na calle Florida, entro na esplendorosa Galeria del Este, saio pelo outro lado, atravesso a calle Maipú e, apoiando-me contra a fachada de mármore vermelho que tem o número 994, primo o botão que indica o 6º B. Entro no átrio fresco do edifício e subo seis pisos pelas escadas. Toco à campainha e a empregada abre, mas, quase antes de ela poder convidar-me a entrar, Borges assoma por detrás de um pesado reposteiro, mantendo-se muito direito. Traz um fato cinzento abotoado, uma camisa branca e uma gravata levemente de lado, listada de amarelo. Cego antes de chegar à casa dos sessenta, move-se de maneira vacilante, até mesmo num espaço que conhece tão bem como este. Estende a mão direita e dá-me as boas-vindas com um aperto de mão distraído, desossado. Não há outras formalidades. Vira-me costas, sigo-o até à sala de estar e, uma vez chegados, ele senta-se erecto no divã voltado para a entrada. Sento-me na poltrona à sua direita e ele pergunta (mas as suas perguntas acabam por ser quase sempre retóricas): "Bom, e se lermos Kipling esta noite ?"»

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021