quarta-feira, 30 de março de 2011

Las Violetas




Há um lugar feliz. Um lugar em Buenos Aires. Quando acaba a Rivadavia e onde dobra uma esquina.
Um lugar demorado e posto. À espera do ar novo daqueles dois.
Um lugar que nunca mais chegava porque as avenidas eram altas e os pés desistiam.
Um lugar que podia ficar ali para sempre. E esperava. Por outro ar. E outra voz. Que escrevia abrindo bem a goela.
E que só falou o que tinha de falar. Porque tinha o que não vem nos livros e ninguém ensina. 
Leu: "desde 1884 - patrimonio histórico de la ciudad".
Era um Café.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Despojos de Inverno

High on a mountain wind blowing free
Thinking about the days that used to be
Yes, high up on that mountain standing all alone
Wondering where the years of my life had flown


As I looked at the valleys down below
Just as far as I could see my memories returned
Oh how my heart did yearn for you
And the days that used to be

Oh I wonder if you ever think of me
Or if time has blotted out your memory
As I listen to the breeze whisper gently through the trees
I shall always cherish what you meant to me

("High on a Mountain", da banda sonora)

sábado, 26 de março de 2011

quinta-feira, 24 de março de 2011

94 minutos de Cuba na Monstra

Hoje
       Cinema Alvalade, 17h00
e
       S. Jorge, 22h30

quarta-feira, 23 de março de 2011

Sim Senhor Primeiro-Ministro


"Acho que das poucas boas notícias do dia foi termo-nos visto livres dele."

António Barreto, hoje à noite na Sic Notícias

terça-feira, 22 de março de 2011

Festival de cinema de animação de Lisboa


Ei-la, que já chegou.



... e já que o Sol e a Lua gigante não empurram para fora os ventos da crise, ao menos aqui eles não entram.

segunda-feira, 21 de março de 2011

"Não te deixarei morrer David Crokett" II

Há mitos que são sagrados. E não se destroem os mitos de qualquer maneira. Que levaram séculos a ganhar raízes. Que estão tão metidos cá dentro que são a verdade. E a herança merece cuidado.
Do Lucky Luke, que fumava cigarros de enrolar, perseguia os irmãos Dalton e afastava-se ao pôr-do-sol.
Do Tenente Blueberry, que jogava póquer, dormia com muitas mulheres e respeitava as tribos dos índios.
Dos outlaws Billy "The Kid", Jesse James, Sundance Kid e Butch Cassidy, que emboscavam diligências, bancos e comboios. 
Mesmo que chamem Brokeback às Montanhas e já tudo se possa fazer.

E dói. Dói onde não podia doer mais.
Dói assistir ao testemunho de John Wayne, Jimmy Stewart, Henry Fonda, Charles Bronson (o "Harmonica Man"), Jean Maria Volonté ou Clint Eastwood assim atirado para uma escarradeira.
Todos cowboys ou simples desperados. Que montavam a cavalo, tinham um nome para a rifle, e bebiam whiskey ou bourbon. Com esporas que não eram um adorno e que entravam no saloon onde tudo calava. Terminavam, normalmente, o dia com um duelo e sacavam mais rápido o seu colt. Partiam à noite, deixando para trás com um beijo eterno a mulher amada.
E era bem. Era assim. Era do faroeste.

Era preciso repôr a calma.
Agora, está tudo em paz. Obrigado Senhor Jeff.


('True Grit', dos irmãos Coen)

domingo, 20 de março de 2011

the Kid is allright

1. dá chutos em tudo o que é bola (grandes, médias, pequenas ou berlindes), e grita "Golo !" de braços no ar cada vez que ouve "Benfica" ;

2. não vive sem os carros e os carrinhos, aprendeu a dizer mota e imita-lhes o som;

3. trepa a tudo o que está para cima;

4. já se mete com miúdas, mesmo mais velhas, mesmo acompanhadas, a quem exibe a gadelha;

5. e agora descobriu o Homem-Aranha !

sábado, 19 de março de 2011

Benfica - PSV

Lembro-me perfeitamente.
Maio de 1988. Tinha 10 anos inteirinhos. Nesse ano tinha-me apaixonado pela Rita, uma miúda da minha Rua, ouvi pela primeira vez o "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" e o "Final Cut". Ainda trocava cromos e ao fim da tarde ia para a rua jogar à bola com a malta num campo pelado (num dia até com o braço enfiado em gesso), andar de skate ou, então, pegava na bicla para umas corridas para longe do bairro. Picávamos muito a mulher da "Chamade", uma boutique que ficava debaixo das Arcadas e que não gostava de nos ver ali a derrapar. Derrapávamos mais ainda, como é óbvio ! 
O Mundial do Maradona, Tchernobil e o desastre do Challenger tinham sido há dois anos. A escola não chateava. A mana também não. Tinha 10 anos e era a primeira vez que ia ver o Benfica jogar uma final da Taça dos Clubes Campeões Europeus.
Estugarda.
Estugarda.
Antes o Steaua de Bucareste, de Hagi, eliminado por duas cabeçadas fulminantes do Rui Águas no lindo velho Estádio da Luz.
Estávamos na final.
Tínhamos Veloso, Mozer, Álvaro, Chiquinho, Shéu, Pacheco e, claro, o Mats Magnusson. Mas faltava o Diamantino. Merda.
Do outro lado holandeses do PSV Eindhoven: Van Breukelen, Eric Gerets, Ronald Koeman a despontar e Kieft.
Os tipos corriam, as botas voavam e a bola não entrava. 0-0. Foda-se Magnusson !
Penalties. 5 para cada lado. Ninguém falha. É o sexto. Éramos todos ali. Todos. Veloso atira, Van Breukelen era enorme, esticou-se como um elástico para a direita, e acabamos.
No próprio dia chamei um amigo e fui para a rua ultrapassar o problema daquele penalty falhado. Chamava-me os nomes dos jogadores que tinham batido e rematava. Entrava tudo. Quando chegava a minha vez de Veloso a bola entrava também e o Benfica era Campeão Europeu. Depois repetia. A do Veloso sempre lá dentro. Para não recalcar. Perdoei-o nesse mesmo dia. Nos dias seguintes também. Dois anos depois tudo esquecido, final outra vez.


O Benfica vai agora jogar com o PSV para a Liga Europa.
O tempo traz sempre tempo. E agora é tempo. Para dar a volta ao penalty do Veloso. E não acabar.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Chelsea Hotel #2

Das coisas mais bonitas que já foram ditas.

"You told me again you preferred handsome men




but for me you would make an exception."

 

quarta-feira, 16 de março de 2011

terça-feira, 15 de março de 2011

Sobre o PEC IV

"Ainda bem que estou morto !",

diria o meu amigo António se hoje fosse vivo.

by CC

sexta-feira, 11 de março de 2011

quarta-feira, 9 de março de 2011

segunda-feira, 7 de março de 2011

Longínquas Ilhas do Vento


- Olhem quem vem aí ! Corto Maltese !!!
- Boa noite... Já nos conhecemos ?
- Uma vez, quando era pequena, molhei-te as calças. Sou a filha mais nova de Parda Flora, de Buenos Aires...
- És a Esmeraldinha ?
- Sim... A Esmeraldinha.
- Porque vieste para Mosquito ?
- Essa é uma pergunta séria ?
- Ouve Esmeralda... Lá fora, mataram um homem que vinha aqui entregar uma maleta. Antes de morrer, falou do Rumbita e de Boca Dourada... Sabes do que se trata ?
- A minha Mãe amou-te muito, Corto, mas tu complicaste-lhe a vida. Agora não venhas complicar também a da filha... As tuas perguntas são perigosas...

sexta-feira, 4 de março de 2011

O meu Amigo António

O António adorava o mar, de Santa Cruz, quando o Sol descia e fechava os dias na linha que vive ao fundo e a vista não alcança.
Pegava então na Canon e disparava, repetindo, repetindo e repetindo o pôr-do-Sol que queria levar com ele, que queria ser dele. Ficava ali na varanda em frente à praia. A repeti-lo. Até se fechar.

O António adorava saber do Mundo, das emoções que escorriam na tinta dos jornais que percorriam a casa e das notícias que recortava e arquivava. E, depois, conversar, mas mais que isso ouvir, nos jantares de segunda-feira, que devagar iam trazendo mais gente à mesa. Sempre boa. De um vinho diferente, sempre novo, que com gosto deitava nos copos ou das delícias que tocavam os pratos e que vinham da cozinha da Avó Maria.

O meu Amigo António adorava dar aulas e transportar para a sala tudo o que sabia, entregando aos outros a colheita do que aprendia. E se íamos lá fora pedia as novidades das ciências da Economia em livros de língua diferente.

Como era generoso, se nos ouvia dizer que gostávamos disto ou daquilo, na vez a seguir lá nos trazia… disto ou daquilo.
Como era generoso, nunca soube incomodar, que a mãe ensinou-lhe como é lindo ser discreto, embora não passasse despercebido o toque apurado do humor que não evitava, e eu procurava devolver, ou entre a multidão de cabeças da Feira do Livro, onde a mais pequena procurava o seu tamanho de Homem grande.
Como era generoso com o meu Benfica, celebrei com ele os golos do Sporting até à final da Taça UEFA.

E amava a família !
Os netos, que lhe saltearam a casa e boa parte dos dias.
As filhas a quem mostrou a beleza que vivia nos livros, a força dos valores do trabalho e de ser digno. De um Cavalheiro com 71 anos verdadeiros.

Vai agora até ao mar, repetir-se e repetir-se ao pôr-do-Sol.

quinta-feira, 3 de março de 2011

O meu Amigo António

- Mas está com bom aspecto. Até está com bom ar.
- É. Arrisco-me a morrer cheio de sáude.

terça-feira, 1 de março de 2011

Requiem por ele

Aproxima-se o fim.
E tenho pena de acabar assim,
Em vez de natureza consumada,
Ruína humana.
Inválido do corpo
E tolhido da alma.
Morto em todos os órgãos e sentidos.
Longo foi o caminho e desmedidos
Os sonhos que nele tive.
Mas ninguém vive
Contra as leis do destino.
E o destino não quis
Que eu me cumprisse como porfiei,
E caísse de pé, num desafio.
Rio feliz a ir de encontro ao mar
Desaguar,
E, em largo oceano, eternizar
O seu esplendor torrencial de rio.



Miguel Torga ("Requiem por mim", in Diário - Vol. XVI)