(...) Não era um ingénuo ou um amador, Halifax, e devia estar demasiado bem informado para não ter achado um pouco curioso aquele passeio, no decurso do qual os dois são vistos, num pequeno filme, a admirar o parque de bisontes onde Göring, furiosamente descontraído, providencia as suas lições de bem-estar. Não pode deixar de ver a estranha pequena pluma que tem no chapéu, a gola de pele, a gravata bizarra. Talvez Halifax goste também da caça, como gostava o pai, e nesse caso ter-se-á sentido bem na Schorfheide, mas é impossível que não tenha visto o estranho casaco de couro usado por Hermann Göring, nem o punhal à cintura, tal como não pode ter deixado de ouvir as alusões sinistras envoltas em gracejos licenciosos. Viu-o talvez atirar com arco, vestido de saltimbanco; viu sem dúvida os animais selvagens domesticados, o leãozinho a ir lamber o rosto do dono. E mesmo que não tenha visto nada disso, mesmo se se limitou a passar um tempo com Göring, ouviu seguramente falar dos imensos circuitos de comboiozinhos para crianças na cave da casa e ouviu-o fatalmente murmurar uma série de disparates esquisitos. E Halifax, a velha raposa, não pôde ignorar a sua egomania delirante; viu-o talvez mesmo largar bruscamente o volante do seu descapotável e gritar ao vento ! Sim, não pode ter deixado de adivinhar o núcleo aterrador, por sob a máscara pastosa e inchada. Além disso, avistou-se com o Führer; e também nesse caso será que Halifax não viu nada ? Ignorando as reservas de Eden, chegou ao ponto de dar a entender a Hitler que as pretensões alemãs relativas à Áustria e a uma parte da Checoslováquia não pareciam ilegítimas ao governo de Sua Majestade, desde que isso ocorresse em paz e em concertação.»
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