«"O Nelsinho nasceu com o cu pra lua", dizia sempre o tio Vito, maior cabeça e talento da família. Catedrático de História da Arte na Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo, o professor Flávio Motta era adorado pelos alunos por seus conhecimentos de arte, sua verve e seu humor, além das eventuais doideiras. Numa ocasião, se empolgou no fim da aula, disse que tinha já transmitido aos alunos tudo o que sabia e, exaltado, esvaziou os bolsos na mesa, tirou o terno, a camisa, a gravata e ficou só de cuecão. Foi ovacionado pelos alunos. E, pouco depois, aposentado.
Pintor de imenso talento e muito culto, Flávio Motta, o tio Vito, também teve que enfrentar uma internação psiquiátrica depois de jogar fora seu dinheiro e todos os documentos e sumir no meio de uma plantação no interior de São Paulo. Nelsinho achou até poético e libertário, mas sua avó dizia que era maluquice mesmo e explicava que o organismo dele secretava alguma substância alucinógena que o deixava viajandão.»