Uma anedota não se explica.
O meu amigo NC, que é tão genial quanto louco, disse-me que não a compreendia bem. Que não percebia os critérios da coisa.
Como não sei se nesse momento falava o brilhante, se o indecifrável NC, não te deixo sem resposta, pá. Comigo nunca se fica sem resposta. É feitio.
Uma anedota, mesmo má, não se explica.
Este post é uma anedota. Fraquinha, bem sei, mas em tempo de fome é o que se arranja, e a mim sempre me ensinaram a não deixar nada no prato, a sugar o tutano e outras coisas.
Este post é ficção. E a culpa é do monsieur Goscinny.
Não é nada, que ele não sabia a pandilha que para cá viria.
É uma anedota porque já não adianta falar a sério.
Mas o NC não percebia.
Cá vai.
Estes são os irmãos Dalton, conhecidos outlaw do faroeste.
São um bocado toscos e fazem-nos rir. Mas roubam. Ou querem. Diligências, alguns comboios e já tentaram Bancos. Quase sempre são apanhados, porque, como disse, são um bocado toscos. Ou deixam cair os lenços que lhes deviam tapar a vergonha, ou saem para um assalto sem os tiros nos colts, ou arranjam umas pilecas para fugir. Enfim, é um fartote. Nunca lhes acontece nada de grave porque divertem a malta. Até podem ir para a penitenciária de Poker Gulch, mas é tudo, o que só evidencia que este post é mesmo ficção.
À frente da pandilha vem o Joe.
Joe é tramado. Tramadinho. Irascível, detesta que se metam com o tamanho dele.
Como é pequeno, pequenino, desata logo aos berros quando o contrariam. Ele é que sabe, logo “pouco barulho”.
Como é o chefe do grupinho, desconfia de todos e acha que só lhe querem fazer mal. Quando vai ao saloon deixa um dos irmãos lá fora, diz a outro que veja quem está na casa de banho e manda o terceiro perguntar quem esteve antes dele ao balcão. Sempre com um olho na sua própria sombra. Tem um sonho: ser dono de uma tipografia.
Jack é um verdadeiro “brother”. Nada faz que desagrade ao mano. Diz-lhe sempre que sim e é o primeiro aparecer quando vem borrasca. As ideias nunca partem dele, mas ele não se importa. Se o Joe diz para se assaltar a velhota que atravessa a rua, ele vai. Até pode depois levar com a sombrinha da senhora, mas tentou. E de não tentar nunca o podem acusar. Está sempre com o Joe. E sempre, é mesmo sempre.
William é quase um desperado. Tem sempre o 6 tiros preparado. Mas está entre o Jack e o tonto do Averell. O que tem as suas coisas. Porque se, por um lado, tem um exemplo de fidelidade no Jack, como ouve muito do que lhe sopra o Averell, perde facilmente as estribeiras. É quase sempre o primeiro a sacar e desata aos tiros com facilidade. Quando morde não larga. Não sabe é bem por que o faz.
Averrell é o último deste animado poker. Vem atrás, mas é importante na estrutura. Não fosse o mais alto dos quatro. Averrel quase nunca percebe o que se passa à sua volta. Pelo menos é o que parece, porque quando é apanhado diz que não fala de calhandrices. Se o Joe disse que era assim, é porque era. Mas não pensem que é como o devoto Jack. Só há uma pessoa que ele ama mais que o Joe: a Mamma Dalton.
Como disse, este post é uma anedota e as anedotas não se explicam. Num país a sério, com uma oposição honesta, com imprensa verdadeira, sem comprometidos, não seria preciso dizer mais. E não falo de cursos ou faculdades, de assinaturas em projectos ou das tendências amorosas de alguém. Mas num país a sério a vergonha já tinha mandado alguém sair. Para fugir ao nojo, a imprensa já o tinha exigido. Por pudor, os Tribunais funcionavam. A tempo. Havia consequências e resultados. Como vivemos uma anedota, isso não acontece. Rimos.
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