Lembrava-se de fins de tarde na varanda enquanto acabava o Graham Greene que tinha levado pelo meio de um gin tónico.
Daquela luz sagrada que os deuses lhe deram. E um calor húmido.
De ter chegado a uma vila, de casas decadentes, mas com terraços e balaustradas onde apetecia sempre ficar. Uma vila que tinha praia, que tinha mar, azul, que mar azul ! e areia branca e muito fina.
De ver passar na estrada um Chevy vermelho vivo de 1950. De o ver parar. E enquanto Fidel, não o Castro, mas outro, limpava o pára-brisas e tratava "de uma menina que dá muito trabalho", perguntar-lhe onde ia, se não podíamos ir também. Só para ouvir-lhe o motor e recostar-me nos estofos de pele, quando já falávamos sobre a vida política, económica e social da ilha e se com Raúl (Castro) já era diferente. Conhecer depois a casa dele, a sala, que não era bem sala, porque era a casa, e onde a mulher nos recebeu com um almoço criolo.
Alugar então um carro e partir pela ilha toda, com uma mulher linda de morrer. Fazer o caminho verde de Cárdenas, Colisseu e La Isabel cercados pelos palmeirais, pelas árvores de borracha e por cartazes anunciando "Patria o Muerte, venceremos !", enquanto os guajiros galopavam ao longe.
E oferecer boleia, que o aventóm também é transporte público. Ao velhote de 72 anos que esperava ali sentado há quatro horas. A Olga e Lai, mãe e filho (e ao galo vivo que transportavam na caixa). A Eri que ia visitar a mulher ao Hospital que recuperava de um parto.
Até chegar a Cienfuegos e depois Trinidad, das praças, das lindas casas coloniais, verdes, azuis e rosas que se abandonam ao som dos boleros que as bandas tocam na rua e se espreitam de um pátio interior. Onde Ema enrolava puros como se os tecesse, debaixo de um candeeiro que mal se via.
E conhecer Dª. Teresa, uma senhora sentada na sua cadeira de balouço, posta à porta que dava para a rua, com o cabelo muito branco e a pele curtida pelo sol. Uma senhora que esperava as pessoas, balouçando. Que me parou e me quis falar da vida. Lá onde vivem mulheres bonitas.
Hemingway rodeava-se das coisas que amava: os livros, espalhados por todo o lado, os troféus que trazia das caçadas em África, os cartazes das touradas que assistiu em Espanha, num canto uma colecção enorme de discos de jazz e as garrafas Campari e Martini com que servia os cocktails. Lá fora, a piscina onde Ava Gardner tomava banho nua. E o barco com que partia para a pesca, para o mar: o "El Pilar".
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