quinta-feira, 15 de maio de 2014

Mal d'amour

O que é que se pode dizer quando se tem uma corda a apertar a garganta ?
O que é que podemos escrever se tudo dói demais e os dedos parecem que desaprenderam a forma de segurar numa caneta ?
O que é que levamos da vida quando desaparecermos deste mundo ?



Este ano a caravana era maior, mais pesada. Éramos mais. Cavalaria. O Benfica é assim. Um universo em expansão permanente.
Éramos mais, mas a peregrinação começou como sempre. Loucura total à procura dos ingressos e de viagem. Tudo tratado de forma exemplar através das connections do mano velho: "Já há bilhetes ! Respostas asap please !"
Que interessa se somos judeus ? Que interessa o preço pornográfico ? "O Benfica salva", lá diz Diogo.
Sector 25, presente. Sector 24, presente.
Oiço "vai, que isto é uma vez na vida." Ou duas.... Ou.... sei lá.
O dia é grande, começa cedo. Ninguém consegue pregar olho depois das três da matina. No aeroporto temos que estar às 6 e meia. Não chega um, nem dois despertadores. E por isso, a malta acorda muito antes da hora, não vão os astros serem do contra e nada tocar como é suposto. Acordamos às três da manhã e começamos a contar carneirinhos que é como quem diz, começamos a contar as finais antigas. As ganhas e as perdidas. E já vão 7 de seguida. Mas hoje mudamos o destino.
A caravana vai mais pesada e nós continuamos a não gostar de aviões. Juramos que só é preciso atravessar os Alpes, que não se repete a tragédia de Superga. E já aguentamos melhor a nervoseira. 
Chegamos e tomamos conta da cidade. As arcadas de Turim carregam o nosso eco e devolvem-no em cânticos. Parecem feitas só para isso. Talvez devêssemos agradecer aos fiéis do Torino FC. Bem, pelo sim, pelo não, o Francisco vai agradecendo às ragazzas.
A primeira romaria é ao 'Touro', símbolo dourado da cidade, que procuramos com mil perguntas e que deita no chão da Piazza San Carlo. Diz que dá sorte. Uns saltam-lhe em cima. Eu ajoelho e faço-lhe uma festa com o meu cachecol como se o beijasse.
Almoçamos. A malta do costume já marcou mesa. E desta vez veio com um brinde enorme de mês e meio de vida chamado Simão... erhhr... "Cosme". E com a camisola vestida ! Puxa, que valores ! 
A conta diz 5 pizzas diavolas e 23 cervejas, prego
A caminho do estádio, continua o dia único de benfiquismo. E continua o mar de amor, o mar de malta que só se encontra nas finais. E continua a haver cerveja. Morna, excepto uma, foda-se !
O Capitão começa o seu retiro. Foco. Foco.
Durante o jogo queremos ir para o relvado. Tantas mil almas a quererem fazer de jogadores... Há gente que não percebe como isto pode comover.
Benzo-me e começa a eucaristia. As nossas mil almas não sossegam durante a homilia.
E depois o Cardozo chuta e todos emudecem.
Acaba.
Quando o Benfica perde não me dá para a violência. Já não choro. Isso guarda-se para os 3-1 ao Fenerbahce ou em prece no fim contra a Juventus. 
Só me quero enfiar na cama e dormir o dia seguinte. Mas, merda, estou em Amesterdão !, estou em Turim ! e agora quero estar na cama.
O calvário até chegar é a penitência do sonhador.
Autocarro e durmo. Como odeio autocarros ! Avião e durmo. Como odeio aviões !
Era a taça que realmente queríamos. E se ela não vem ?
É esse mesmo o registo que aparece na conta final desta vida ? O que é que levamos da vida quando desaparecermos deste mundo ?

2 comentários:

  1. que daqui a 40 anos olhes para essa fotografia e este post e te enchas de orgulho. Abraço!

    Sector 11 porta 11

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  2. foi o que senti mal o árbitro apitou para o fim do jogo com o Chelsea em Amesterdão: um imenso orgulho por pertencer a esta família ! E escrevi-o:

    http://noparalelo23.blogspot.pt/2013/05/que-orgulho-enorme-em-ser-do-benfica-iii.html

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Are You talkin' to Me ?