Numa tourada, à espanhola, quando a lide termina, depois de todas as chicuelinas, veronicas e pases de pecho, quando touro e toureiro já deram tudo o que são e se entregaram mortalmente ao outro, há um momento sagrado e que, bem executado, tem a suprema dignidade de honrar os dois. Falo, claro, da estocada final.
E como se traduz no epílogo do que ambos prepararam durante toda a faena, nenhum foge ao seu destino e o que procuram é estar à altura desse momento fatal. E, por isso, é fundamental que seja limpa e saia à primeira, espécie de milagre e redenção.
E tão importante como isto, o toureiro - porque apesar de tudo é quem tem o estoque na mão - tem que saber reconhecer o momento em que é o fim, e resolver acabando. Por respeito. Por pudor. Como que agradecendo.
Não há tempo ou horário. O tempo é do homem e do animal, e acaba quando é preciso que acabe. Tudo o mais é usurpação e qualquer continuação um abuso.
No futebol, o cronómetro não desliga antes de fazer 90 minutos. Às vezes mais.
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