«Luis Suárez, o grande
futebolista uruguaio, jurou que não voltará a morder ninguém. O italiano
mordido, Giorgio Chiellini, que já tinha lamentado o castigo excessivo que a
FIFA aplicou, aceitou o quase pedido de desculpa com cavalheirismo e a mesma
empática solidariedade que já tinha demonstrado.
Já
é a terceira vez que Suárez é apanhado a morder adversários. É injusto dizê-lo,
mas se ele não fosse um jogador tão bom seria inadmissível perdoá-lo. Mas como
ele não precisa de morder ninguém, é claro que se trata de um problema que ele
tem, que o prejudica e envergonha.
Recomenda-se a psicanálise.
Mas lembra-nos que Suárez é um ser humano e que todos os seres humanos,
nalgumas instâncias das nossas vidas, fazem merda e são fiteiros.
Se Suárez fosse um
fura-vidas, não teria arriscado nada pelo Uruguai. Jogaria bem, mas não se
melindraria, para voltar limpinho ao Liverpool. Mas não. Suárez deu tudo pelo
país dele, incluindo fazer-se expulsar e pondo em perigo a continuação da
carreira dele no Liverpool.
Vale-nos que o Liverpool é
um clube abençoado pelos fãs que estão, sem dúvida, entre os melhores do mundo.
Não irão na conversa bem-pensante e puritana dos robôs decisores que se julgam
mil furos acima dos humanos.
A FIFA é que deveria ser
impedida, proibida, extinta e recomeçada. As decisões deveriam ser feitas pelos
futebolistas que participaram.
"Morde aqui, a ver se
eu deixo" é uma grande máxima moral portuguesa. Sobretudo quando não se
deixa.»
in 'Público', 2.07.2014
in 'Público', 2.07.2014
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