No tempo em que a gente seguia a Fórmula 1, no tempo em que trocávamos cromos de calendário com os amigos (e que ainda conservamos numa caixa de sapatos), daqueles carros espantosos, do Niki Lauda, do Nélson Piquet, do Nigel Mansell, do Ricardo Patrese e do Michele Alboretto, havia um entre todos: Ayrton Senna da Silva, o herói do povo brasileiro.
O louco da velocidade. O rebelde do primeiro lugar. Um piloto que adorava correr à chuva e que tinha o Estoril como prova-fetiche, naquela que foi a primeira vitória da carreira, ao volante do Lotus, o carro preto do capacete amarelo. Patrocínio 'John Player Special'.
Depois, no vermelho e branco da McLaren houve a rivalidade com Alain Prost, das corridas imortais em que ganhava quem arrumasse o outro primeiro para um canto, num ódio que encheu páginas e páginas de jornais e que fez galopar a F1 para níveis hollywoodescos.
Até à curva assassina de Tamburello, no circuito de Imola, quando Senna já se queixava do seu Williams-Renault, uma pista que já tinha colhido Ratzenberger no dia anterior, e que o tornou ainda mais apreensivo. Chorou e leu a Bíblia. A partir desse dia, a inocência era perdida. Nada mais seria igual.
Costumamos lembrar-nos onde estávamos nos grandes acontecimentos. Sei que estava em Santa Cruz a ver a corrida pela televisão. Vi aquele embate brutal e arrepiante de força.
Os peritos ainda hoje falam de mistério. O fim da sorte de Senna ou o braço da suspensão que acertou no capacete. Não há mistério nenhum. Como se fosse possível alguém escapar com vida depois de se esborrachar contra uma parede a 320 kms/h.
Seja como for, era fatal. A vertigem da velocidade teria que acabar desfeita em pó e deixando em choque o mundo inteiro que, como eu, acompanhou as exéquias nos dias seguintes.
Depois disto nunca mais vi corridas de F1.
A Fox Movies lembrou-me ontem os 20 anos sobre o último capítulo de Senna.
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