As temperaturas rondam os 10 e os 18º C. Há algumas nuvens, mas não chove.
De manhã saímos do nosso hotel, o Folketeateret, bem no centro, e fomos para a zona de Grüner Lokka, um bairro certinho, arrumadinho, familiar, onde vemos os direitos parentais em acção, com mães e muitos pais a passearem sozinhos os filhos pendurados em marsúpios, e onde há lojas que vendem tralha, antiguidades, coisas para casa, outras que vendem roupa em segunda mão pendurada em cabides originais, cafés gourmets, enfim um bairro estilo SoHo ou Portobello, trendy e acolhedor, como todas as cidades gostam de ter agora.
E é no Grüner Lokka que encontro uma velha loja de discos e livros de BD, locais sempre de visitação, de onde trazemos o 'Abattoir Blues' do Nick Cave e um CD sem título dos Sigur Ros (banda islandesa), ambos em segunda mão, o que só por si vale uma estrela para o bairro.
(foto: Cristina)
À tarde apanhamos o comboio para Bergen, uma cidade que fica a 460 kms de Oslo, na outra ponta sul do país para Oeste.
Os bilhetes foram comprados de véspera, o que compensa porque são 'mini-pris', ou seja, metade do preço, mas mesmo assim brutalmente caros. 798 coroas que é como quem diz 96 euros, mas trata-se da linha mais alta da Europa, que nalguns períodos chega a atingir os 1.220 metros de altitude. Parte às 16h01m e chega às 22h59m. Tudo funciona e tudo funciona a horas.
Como adoro viajar em comboios ! Os anos de inter-rail consecutivos foram uma tatuagem. E com a Cristina mais ainda. Entendermo-nos com alguém numa viagem é difícil e um bem raro que devemos guardar em cofre de ouro.
Pela janela vêem-se algumas casas de madeira, todas arrumadas e organizadas, pinheiros, cedros e freixos. E neve quando chegamos lá acima. Nas estações onde pára vejo pessoas a dizerem adeus.
A viagem é longa e entretemo-nos a jogar dados, a ler e a ver o que as outras pessoas fazem. Ao nosso lado há um tipo que vê filmes atrás filmes no portátil. Ninguém conversa na nossa carruagem, na tal lógica da reserva, encharcada de silêncio. Aqui vive-se longe da explosão dos sentidos. A anos-luz da emoção sonora e movimentos escandalosos do Sul latino, que aqui tomam por zanga. Não se fala alto, dizem-nos, porque isso só quando estamos zangados. Agora sou eu que tenho vontade de instalar um motim.
E por isso fugimos para a carruagem-bar, onde se escutam algumas vozes e gargalhadas e onde se servem vinho e umas cervejas. Perguntam-nos duas vezes porquê a Noruega. "Porque não conhecemos." E como já fomos à Islândia, acho que faz sentido.
Viemos à Noruega atrás das grandes belezas naturais, das enormes montanhas que se despenham no mar do Norte, dos lagos de quilómetros, dos Fjords eternos que recortam e rendilham a costa.
Sim, confesso !, viemos procurar o olhar em êxtase de Nicola no 'La Meglio Gioventú' quando cá chegou.
A fiscal dos bilhetes só aparece ao fim de uma hora. A Cristina tira os pés de cima do banco da frente, por via das dúvidas.
Chegamos noite feita a Bergen e subimos a ruazinha esconsa que vai dar a Bryggen, o velho porto da cidade, onde ainda se descarregam os bacalhaus e o salmão, mas mais importante, onde nos esperam agora as nossas camas. O homem do front-desk fala para dentro e tem os olhos esbugalhados do assassino no filme "Matou", do Fritz Lang.
(foto: andré)
Parabéns pelos primeiros 10 anos de casados. Tiveram uma festa linda! Beijinhos
ResponderEliminar