Vou ao cinema para assistir a uma história bem contada. Como o miúdo que a pede ao pai: "Contas-me uma história ?" Para entrar nela e passar a ser minha, que é ser dela.
Às vezes, quando gosto muito de um actor ou actriz, ou de um realizador, para ver o que andam a fazer. Se ainda inspiram. Ou se perderam qualidades. Se evoluíram, ou se foram tiros de sorte.
Também para me tirarem o tapete, para me porem a cabeça a trabalhar, para me revolverem as entranhas. Para tsunamis interiores. Para levar um soco no queixo. Os melhores são os que duram vários dias, a que vou regressando depois quando já nem espero. Para aprender. Para saber mais. Para ficar parvo. Mas sempre em busca da tal história bem contada. Não me façam de parvo.
Durante o tédio de Agosto, a gente procura um título, "Como cães selvagens", vê o trailer, gosta (há gajos especialistas nisto), quem entra (Willem Dafoe e Nicolas Cage), tipos com traquejo, o nome do realizador (argumentista de 'Taxi Driver', 'Touro Enraivecido', 'American Gigolo' e da 'Última Tentação de Cristo'), currículo da pesada, e vai ler o texto que alguém que respeitamos escreveu sobre o filme: recomenda. Aliás, foi «um dos grandes acontecimentos da Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes de 2016.» 'Tá feito, 'bora.
O drama é se apanhamos uma brutal xaropada, que não é carne, nem é peixe, e não nos leva a lado nenhum. Apelamos aos deuses. Ó meu querido Tarantino ! Ó uncle Marty ! Ó brothers Coen !, mas nada. Se o humor é cliché, a ironia bufa e a violência vulgar, saímos da sala sem o dinheiro do preço e com uma história a menos. E o tempo todo escarrado.
Ocorre-me então o Nanni Moretti e se quem escreve uma crítica assim, à noite, não terá um momento de remorso.
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