Há sítios a que chamamos Casa: o CIF, Clube Internacional de Football.
O CIF foi o primeiro clube de futebol de Lisboa, fundado em 1902, quando ainda viviam reis e rainhas em Portugal. Com bigodes que enrolavam nas pontas porque era a moda.
Em Monsanto, dentro dos pinheiros de Monsanto.
Fez no sábado 110 anos.
E eu, sócio do clube há 22, quase a receber o emblema de prata.
No CIF aprende-se cedo o significado da palavra Desporto. Que não é o mesmo que ganhar. Desporto é o desporto pelo desporto.
E desporto também não é só o foot-ball. Por causa do futebol é que o CIF deixou a primeira divisão. O debate era profissionalizar e ganhar dinheiro, mas o CIF era diferente e quis ser Amador.
Só quem ama assim é que verdadeiramente ama. Só assim era mesmo Desporto. E é por isso que continuamos a ver no 'Estádio Pinto Basto' várias competições de futebol, mas todas de amador, e os miúdos novos a aprenderem o jogo.
No CIF também havia o hóquei, o basketball e o ténis.
E o ténis é um desporto lindo. No CIF ainda mais bonito.
Tem uma boa trintena de courts, de terra batida, rápidos, porosos e cobertos. E tem as árvores.
O CIF é um clube de gentlemen, onde os cavalheiros se encontram para uma partida de ténis. Aqui ainda se faz cerimónia. E está muito bem.
O encontro é à hora. O court já foi tratado, primeiro com uma regadela para o pó de tijolo assentar, e depois escovado com a rede no solo para alisar.
Cumprimentamo-nos com um shake hands antes do início, tiramos as raquetes e as bolas do saco e desejamos um bom jogo ao adversário. Terminado o match, voltamos a dar um aperto de mão. E prometemos a desforra.
A seguir, tomamos um duche rápido nos balneários (revestidos de madeira e de vapor), trocamos impressões sobre aquela direita que não saiu, ou sobre o serviço que hoje estava fraco.
No final, dirigimo-nos ao bar que dá sobre o Court Central onde nos servem um gin tónico ou uma "Green Sands". No canto da sala, a televisão, sempre sintonizada na 'Eurosport', dá conta das últimas do desporto internacional. À saída, os cavalheiros pagam o court na Secretaria e vão trabalhar, que são 9h30. E é por isso que chegam a velhos.
Foi na Escola do CIF que aos 11 anos entrei neste ritual.
Aliás, foi antes, ainda pequeno, quando o meu pai achou que estava na altura de aprender a apanhar bolas.
Lá íamos, o meu pai jogar com os meus tios, e eu com um primo, apanhar as bolas, o que fazíamos com desvelo, habituados a ver na televisão os rapazinhos dos torneios do circuito ATP, de Wimbledon ou do Rolland Garros, a correr ou agachados junto à rede.
E foi assim que aprendi as regras do jogo. A olhar. Quando é que a bola era "boa", quando é que era "out", porque é que a vantagem era "nula" e como era estranha a marcha do resultado.
Quando me fartava, ía mandar umas bolas à parede com a raquete de madeira da minha Mãe, uma Slazenger de museu, razoavelmente empenada.
Mas aos 11 comecei mesmo a jogar ténis, semanalmente até aos 17, e participei nos torneios de pré-competição que eram organizados no Estádio Nacional, em Monsanto, em Oeiras ou no CIF, os Sport-Goofy. Uma vez ganhei uma medalha, noutra fui à final com um tipo do Benfica. Perdi. Era na Luz, e isso era demais para o coração.
Regularmente, também fui sempre jogando com alguns amigos e nunca perdi a minha direita e uma força mental que não tinha em mais lado nenhum.
Gosto sempre de voltar a Casa, de ir ao CIF.
E agora, mesmo que o velho Sr. Henrique tenha regressado à Aldeia-das-Dez (perto do Piódão) e o Sr. Agostinho tenha pedido a reforma e não exista mais para nos azucrinar a cabeça, é onde às vezes levo os putos, para começarem a aprender as regras do jogo.
No Clube do preto e branco.
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