quarta-feira, 18 de maio de 2016

Primero hay que saber sufrir

Primero hay que saber sufrir,
después amar, después partir
y, al fin, andar sin pensamientos,


É a parte mais bonita de um dos tangos que mais vezes pus a tocar em casa dos meus pais. 'Naranjo en flor' de Homero Expósito, na versão doída a tabaco do viejo Roberto Goyeneche.

São versos que não me largam a cabeça e começaram a tocar no último domingo mal deixei o Estádio da Luz a caminho de casa, para os braços da família. Campeões. Tri. Trinta e Cinco. A gente escreve que é para acreditar. Mas porquê um tango ? Porquê este ?
Talvez porque com o Benfica só possa ser assim. Fatal de belo.

Ainda o 34 não tinha encontrado lugar certo no museu Cosme, e já o treinador deixava o clube. E logo para o outro lado da rua. Daí a dor. Sim, porque isto é muito antigo. É que "... pior do que inimigos, eram irmãos", como mostra a capa do livro do Afonso Melo.
Sem que pudéssemos sequer bem respirar, quanto mais habituar-nos à ideia, zás !, o Maxi no Porto.
O Maxi, fônix !?!, o nosso Maxi ?! Não pode! Que usou a braçadeira e foi três vezes campeão nacional ? que levantou as taças da Liga e a mais bela de Portugal ? Que sobreviveu de punhos cerrados para o céu na batalha de Turim contra a Juventus ?
Que ingrato é o mundo.... Podia ser pior ?

O mano lá ia tentando o consolo lembrando que se lixaram sempre que nos espetaram assim.
Mas nessa altura o primeiro verso de Expósito era ainda uma criança. Se não fosse, tinha-me curado mais depressa. Primero hay que saber sufrir.

O ano, que ainda agora ia no princípio, trazia a sombra toda com ele. Como uma criança mal nascida ou receber no colo um prematuro. Segura bem que é muito frágil. Os miúdos, o novo treinador, os que chegavam à Portela, aquela pré-época, a Eusébio Cup a ficar no México, o nosso 10 sai-e-não-sai, e a Super-Taça a desaguar.... no fim das férias. Não digam mais por favor. 

Uma semana depois, começava o campeonato. Uma derrota à segunda jornada com o Arouca e uma vitória de cambalhota à terceira. Derrota com o Porto, mas vitória mítica no Calderón. Mas acreditamos em qual dos Benficas, catano ?
Até ao 3-0 contra o Sporting. Em casa. Ao intervalo.

Nessa altura, nesse tal de intervalo, comentei que podia haver ali uma desgraça. Sei lá, um 6-0, um 7-1, malta a atirar-se das arquibancadas. Confesso o fatalismo literário.
Mas.... não houve. E, pior, deixaram-nos vivos. Ouvi dizer.
Por volta dos 70 e tal minutos, o Estádio rebentou num coro de arrepiar colunas e eusébios:
"Eu amo O Benfica, lá, lá, lá, lá, Eu amo O Benfica, lá, lá, lá, Eu amo O Benfica !", com o jogo ali à frente.
Era a entrada para o segundo verso de Expósito: después amar.
Que mais podíamos fazer ? 
"O Benfica salva, o Benfica é amor.", diz o amigo velho. E o Jonas a meter golos.

Que mais podíamos fazer ?!? después partir, é a fé do tango. Encher os estádios todos do país em peregrinação. Vestir as camisolas. Entrar nos aviões, rumar às auto-estradas, encher cafés e todas as tascas, as vilas e cidades, partir com a equipa, pedindo o 35.
E agora já não era só o Jonas. Eram todos. Éramos todos. A marcar. Empoleirados, todos, sacudindo a camisola, confundindo-se a carne de uns com o suor dos outros. Com o Rio Ave, em Guimarães, no Estoril e também com o Zenit, com o grande mar a engolir o homem.
Partir para a Rússia e para Munique. Mas antes partir Alvalade à grega. E aguentar tudo até ao fim. Agarrado aos terços da Dª Celeste. Até ao Nacional. Aguentar até a inveja dos manos do sector 25 contarem como foram à boleia no carro do grande Simões a caminho da Luz. Até ao momento do sismo do primeiro golo. Obrigado Nico.
Até ao fim.

Porque.... y, al fin,...
al fin andar sin pensamientos

Fala Bulo:


1904, 1904, LALALALA,
1904, 1904, LALALALA,
1904, 1904, LALALALA,

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