Morreu O Torres. O Cavalheiro.
Nunca o vi jogar, nunca o vi furar balizas ao lado do Rei Eusébio e do José Augusto. Nunca o vi meter a bola na baliza com uma cabeçada certeira servido pelo génio do pequeno Simões. Não o vi ajudar a levar o nome do Benfica à Grande Europa do futebol e ficar a milímetros de levantar aquelas choradas Taças dos Campeões Europeus nas finais de '63, '65 e '68. Ele que não foi a tempo de inscrever o nome no Benfica bi-Campeão europeu.
E também não o vi em Inglaterra, com os Magriços, com a camisola das quinas suada. E cumprimentar sempre os adversários com um aperto de mão.
E também não o vi em Inglaterra, com os Magriços, com a camisola das quinas suada. E cumprimentar sempre os adversários com um aperto de mão.
Nunca o vi jogar e só me lembro de ele dizer, como um menino que não admite perder a ilusão, "Deixem-me sonhar!". E sonhou. E Portugal ganhou à poderosa RFA (de Rummenigge, Mathäus ou Rudi Völler) em Estugarda (!) com um golo de antologia marcado fora da área pelo remate-bomba do Carlos Manuel. A um canalha. O canalha do Shumacher. E a Suécia também ajudou, e perdeu, e Portugal qualificou-se no último jogo para o Mundial do México '86.
A RFA que chegaria à final desse mítico campeonato em que brilhou El Pibe Diego Maradona. E a poesia encheu os relvados.
Porque Torres sonhou.
Nunca o vi jogar e, por isso, tudo o que tenho são imagens a preto e branco e os relatos do meu querido Avô (lagarto dos 50 costados). Ele que me contava que naqueles gloriosos anos 60 só ia ao Estádio da Luz, com o meu Tio (outro lagarto inveterado), para (tentar) ver o Benfica perder, mesmo quando não jogava contra o seu clube.
E, embora eu acredite que o fazia numa vontade inconfessável de ver o melhor futebol jogado de que há memória (com a excepção outra vez do Benfica, no ano passado), lembro-me dos seus relatos e de uma pequena história sobre José Torres.
Numa dessas tardes em que foi à Luz para (tentar) ver o Benfica perder, Torres meteu 3 golos numa goleada de 5. O meu Avô comentou então para o meu Tio:
"Gaita ! Um tipo aguenta ver o Eusébio a ferrar nas malhas. Não há maior e até começou no Sporting (de Lourenço Marques). Agora, termos que ser humilhados até por tipos que deviam estar a jogar basket... isto é demais !"
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