sábado, 5 de janeiro de 2013

'Desde que o Samba é Samba', de Paulo Lins


"O malandro metia por demais com as europeias e deu para rejeitar Valdirene de novo, agora por causa de uma francesa de pernas grossas, olhos azuis e cara de anjo; faltava-lhe a bunda redonda, mas uma coisa compensa a outra. A diaba parecia uma neguinha dali mesmo do Estácio. E fazia de tudo com ele com um apetite de leoa. Tinha-lhe amor, tinha-lhe o tesão maior que já se viu nesta vida. Ele, no começo, retribuiu, passou a ir à casa dela à noitinha. Sentia a necessidade de fazer a amada gozar várias vezes para ela não querer gozar com mais ninguém. Estava pensando em alugar uma casa pra moça, assim como tinha feito com Valdirene. Era tão gostosa que às vezes se formava fila para meter com ela. Isso lhe doía. Aqueles capoeiras tarados por brancas iam para cima dela com vontade, e ela não resistiria e acabaria gozando. Nunca teve puta que gozasse com cliente, mas aquela francesa era tão tarada que puta que o pariu... Ficava intrigado, enciumado, por isso, no final do expediente, fosse a hora que fosse, fazia plantão na casa dela com «cara de marido».
Valdirene então voltou pra zona, já que Brancura estava se fazendo de rogado. Fazia força para ter prazer com este ou aquele, mas era tão puta que não tinha tesão com ninguém. Dominava a profissão. A ilusão de um dia viver só com Brancura, de ter filhos, a esperança de ele enveredar de verdade pela música ou de voltar ao trabalho na estiva tomava rumo do fim. Gostava mesmo era da putaria, do jogo de chapinha; às vezes pegava dinheiro daqueles que tinham pinta de otário."

(...)
"Tudo nesta vida era a arte de combinar os sons. Música e vida são a mesma coisa. A poesia é a arte de procurar o verso que todo o mundo busca um dia, verso que cai em qualquer ser humano como a verdade da vida."

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