Veio fechar a tournée solo em Lisboa. Queria que o frio orquestral do CCB fosse mais como casa e então mandou pôr as luzes Blue Note, mas não havia bebidas.
Começou a pensar no pai, e saiu-lhe o rumba Armando. Falou dos discos lindos de vinil que lambia e da primeira vez que ouviu Miles com 19 anos a tocar com o Charlie Parker. Depois, com os dedos foi percorrendo o seu caminho de Bill Evans, Jobim, Miles, Monk, Duke, Stevie Wonder e Chopin.
Intervalo e abre o coração latino, quando já se aborrece de estar sozinho no palco. Pergunta se ninguém da plateia quer improvisar com ele. Dois miúdos, o primeiro com uns 12, o segundo talvez de 16, saltam lá para cima, à vez, e de jam em jam vão cozinhando um jazz novo, irrepetível, a quatro mãos. Dois miúdos que nos fazem acreditar no futuro.
Termina capturando o Lisboa choir que ele próprio maestrou ali e acaba a transbordar do público em ritmo certo. Estas coisas não acontecem por acaso.
«É espantoso. Há como que um acordo: a espécie humana precisa de ser estimulada. Não consegue prosseguir sem isso. Perdíamo-nos, tornávamo-nos robôs. E é assim que vejo a nossa profissão; de certa forma, temos de relembrar as pessoas da natureza criativa que todos nós temos. Não só os artistas, mas todos os seres humanos. Então, quando tocamos, acordamos, e isso é inspirador. Afastam-se os problemas e os conflitos da nossa mente e surge um estado de espírito que permite uma forma melhor de desfrutar a vida, de fazer algo criativo, de tomar decisões correctas e de fazer as coisas certas.»
Chick Corea. Genial ! Foi hoje à noite.
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