sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

El Calafate - 4º e 5º dias


(o Perito Moreno, por Eduardo Salavisa, tirado daqui)


A Patagónia argentina. Estou finalmente na Cordilheira dos Andes que desde pequeno queria conhecer por causa das histórias do Marco Pólo.
Aterrámos numa terra pequena, quase deserta mas servida por um moderno aeroporto, limpo e arrumado. Vínhamos à procura do Perito Moreno, o gigantesco e impressionante glaciar do Sul da Argentina que faz fronteira com o Chile. O céu estava limpo e o ar gelado.
El Calafate é o nome de um arbusto muito comum que dá umas pequenas bagas, tipo groselhas, que utilizam para fazer o doce de Calafate.
Instalámo-nos no Hotel Michelangelo, uma pequena casa em madeira que dava para a rua principal e fomos conhecer a terra. Tudo aqui são casas em madeira e há três, quatro ruas. Há alguns pinheiros mas tudo parece bastante seco. Procurámos alguém que nos levasse ao Perito Moreno e marcámos lugares numa camioneta para o dia seguinte. Entrámos numa pequena loja que vendia acessórios para as expedições onde folheei alguns livros para saber mais sobre amanhã.
À noite, de botas calçadas e cercados por montes gelados, parámos num restaurantezinho. Pedi a rara "merluza negra" grelhada e um vinho branco da Adega Lopez.
Conhecemos Ehud, um israelita simpático que também vai ao Perito Moreno. Acaba a jantar na nossa mesa. Provoco a questão israelo-árabe e ele altera-se. Diz que não percebemos. Não enquanto não assistirmos a um autocarro com crianças a ir pelo ares.
Fomos dormir.

Acordámos cedo.
Uma camioneta gasta e com o vidro da frente todo estalado veio-nos buscar.
Andámos cerca de 80 kms numa estrada sinuosa e ainda em construção. Não há nuvens e o sol aquece um pouco.
Dizem que temos sorte, que é a melhor forma de alcançar o glaciar.
À medida que nos vamos aproximando, apercebemo-nos de pequenos icebergues e pedaços de gelo do tamanho de casas a boiar na água límpida e azul turquesa do Lago Argentino, o maior lago de água natural da Argentina. São já o resultado dos desprendimentos do Perito Moreno.
Chegamos e é assombroso ! Nunca nada de semelhante. O motorista trafica-nos um conselho: não peguem na máquina fotográfica e tirem a fotografia com os vossos olhos, prolonguem o momento até que ele entre no fundo, que um dia quando estiverem nos vossos escritórios vão fechar os olhos e lembrar-se disto. 
É enorme ! Parece que um dia foi um oceano desprevenido que veio desaguar nestas montanhas e que aquí se quedó para sempre congelado. Branco, azul, cheio de fracturas que a tempo darão lugar a novos desprendimentos e a mais icebergues.
Oiço trovões tremendos, que afinal são o som dos blocos enormes do glaciar a desfazerem-se contra aquele chão de água: esmagador. Depois vão-se escutando pequenos "cracks" do gelo que estala com a pressão.
A Cristina deu-me a máquina para as mãos. Não queria que eu perdesse a altura dos desprendimentos. Para depois mostrar em Lisboa.
Só que, tolhido por aquela demonstração de força da natureza, não me mexia, incapaz de reagir no timing certo, parado a olhar de respiração cortada. "Então, não tiraste ?" E eu... sem forças. Nem ao menos para impedir que me arrancasse a máquina do colo.

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