(o Perito Moreno, por Eduardo Salavisa, tirado daqui)
Aterrámos numa terra pequena, quase deserta mas servida por um moderno aeroporto, limpo e arrumado. Vínhamos à procura do Perito Moreno, o gigantesco e impressionante glaciar do Sul da Argentina que faz fronteira com o Chile. O céu estava limpo e o ar gelado.
El Calafate é o nome de um arbusto muito comum que dá umas pequenas bagas, tipo groselhas, que utilizam para fazer o doce de Calafate.
Instalámo-nos no Hotel Michelangelo, uma pequena casa em madeira que dava para a rua principal e fomos conhecer a terra. Tudo aqui são casas em madeira e há três, quatro ruas. Há alguns pinheiros mas tudo parece bastante seco. Procurámos alguém que nos levasse ao Perito Moreno e marcámos lugares numa camioneta para o dia seguinte. Entrámos numa pequena loja que vendia acessórios para as expedições onde folheei alguns livros para saber mais sobre amanhã.
À noite, de botas calçadas e cercados por montes gelados, parámos num restaurantezinho. Pedi a rara "merluza negra" grelhada e um vinho branco da Adega Lopez.
Conhecemos Ehud, um israelita simpático que também vai ao Perito Moreno. Acaba a jantar na nossa mesa. Provoco a questão israelo-árabe e ele altera-se. Diz que não percebemos. Não enquanto não assistirmos a um autocarro com crianças a ir pelo ares.
Fomos dormir.
Acordámos cedo.
Uma camioneta gasta e com o vidro da frente todo estalado veio-nos buscar.
Andámos cerca de 80 kms numa estrada sinuosa e ainda em construção. Não há nuvens e o sol aquece um pouco.
Dizem que temos sorte, que é a melhor forma de alcançar o glaciar.
À medida que nos vamos aproximando, apercebemo-nos de pequenos icebergues e pedaços de gelo do tamanho de casas a boiar na água límpida e azul turquesa do Lago Argentino, o maior lago de água natural da Argentina. São já o resultado dos desprendimentos do Perito Moreno.
Chegamos e é assombroso ! Nunca nada de semelhante. O motorista trafica-nos um conselho: não peguem na máquina fotográfica e tirem a fotografia com os vossos olhos, prolonguem o momento até que ele entre no fundo, que um dia quando estiverem nos vossos escritórios vão fechar os olhos e lembrar-se disto.
É enorme ! Parece que um dia foi um oceano desprevenido que veio desaguar nestas montanhas e que aquí se quedó para sempre congelado. Branco, azul, cheio de fracturas que a tempo darão lugar a novos desprendimentos e a mais icebergues.
Oiço trovões tremendos, que afinal são o som dos blocos enormes do glaciar a desfazerem-se contra aquele chão de água: esmagador. Depois vão-se escutando pequenos "cracks" do gelo que estala com a pressão.
A Cristina deu-me a máquina para as mãos. Não queria que eu perdesse a altura dos desprendimentos. Para depois mostrar em Lisboa.
Só que, tolhido por aquela demonstração de força da natureza, não me mexia, incapaz de reagir no timing certo, parado a olhar de respiração cortada. "Então, não tiraste ?" E eu... sem forças. Nem ao menos para impedir que me arrancasse a máquina do colo.
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