É um bloco de músculos enorme, com roupa de tenista e meias brancas caneladas. Já o tinha visto em Cambridge. Quando não está a jogar ténis a dinheiro, está a jogar gamão ou dados - também a dinheiro. Tal como o meu pai, o Sr. Brown fala muito de dinheiro. Naquele momento, estava a queixar-se ao sr. Fong de uma partida a dinheiro que fora cancelada. Era suposto jogar com um tipo e o tipo não apareceu. O Sr. Brown está a descarregar as suas frustrações no sr. Fong.
Vim para jogar, diz o Sr. Brown, e quero jogar.
O meu pai aproxima-se.
Quer jogar uma partida?
Sim.
O meu filho Andre joga consigo.
O Sr. Brown olha para mim e depois para o meu pai.
Não vou jogar com um miúdo de oito anos!
Nove.
Nove? Ah, bom, não tinha reparado.
O Sr. Brown ri. Alguns homens que ouviram também se riem. É óbvio que o sr. Brown não leva o meu pai a sério. Grande erro. Basta perguntar ao motorista de camião que ficou estendido na estrada. Fecho os olhos e vejo-o, a chuva a bater-lhe no rosto.
Olhe, diz o sr. Brown, eu não jogo para me divertir, está bem? Jogo por dinheiro!
O meu filho pode jogar consigo por dinheiro.
Senti uma gota de suor a começar a descer pela axila.
Ah, é? Quanto?
O meu pai ri e diz: Aposto a merda da minha casa.
Não preciso da sua casa, responde o sr. Brown. Já tenho uma. Digamos dez mil dólares.
Feito, diz o meu pai.
Avanço para o court.
Calma, diz o sr. Brown. Primeiro quero ver o dinheiro.
Vou a casa buscá-lo, responde o meu pai. Volto já.
O meu pai corre porta fora. Sento-me numa cadeira e imagino-o a abrir o cofre e a pegar num monte de dinheiro. Todas aquelas gorjetas que o vi contar ao longo dos anos de trabalho, em todas aquelas noites de trabalho árduo. Agora vai apostar tudo em mim. Sinto um peso no meio do peito. Estou orgulhoso, claro, por pensar que o meu pai tem tanta confiança em mim. Mas, acima de tudo, estou apavorado. O que é que vai acontecer comigo, com meu pai, com a minha mãe e com os meus irmãos, já para não falar na avó e no tio Isar, se eu perder?
Já joguei sob este tipo de pressão antes, quando o meu pai, sem me avisar, escolhe um adversário e me ordena que o derrote. Mas é sempre outro rapaz e nunca há dinheiro envolvido.
(...) Esta coisa com o sr. Brown, todavia, é diferente, e não é só porque as economias da família estão em jogo. O sr. Brown desrespeitou o meu pai e o meu pai não pode pô-lo a dormir. Precisa que seja eu a fazê-lo. Por isso, esta partida é mais do que uma questão de dinheiro. É uma questão de respeito, virilidade e honra – contra o maior jogador de futebol americano de todos os tempos. Preferia estar a disputar a final em Wimbledon.
(...)
O meu pai regressa. Traz uma mão cheia de notas de cem dólares. Sacode-as no ar. De repente, o sr. Brown muda de ideias.
Eis o que vamos fazer, propõe o Sr. Brown ao meu pai. Vamos jogar dois sets e depois decidimos quanto vamos apostar no terceiro.
Como queira.
Jogamos no court 7, logo à entrada. Juntou-se uma multidão, que aplaude quando ganho o primeiro set por 6-3. O sr. Brown abana a cabeça. Fala sozinho. Bate com a raquete no chão. Não está feliz, já somos dois. Não só estou a pensar, o que é uma violação da regra mais básica do meu pai, como a minha cabeça começa a andar à roda. Tenho a sensação de que vou ter de parar de jogar a qualquer instante porque preciso de vomitar.
Ainda assim, venço o segundo set por 6-3.
Agora o Sr. Brown está furioso. Baixa-se sobre um joelho, ata os ténis.
O meu pai aproxima-se dele.
E então? Dez mil?
Nem pensar, responde o Sr. Brown. Por que não apostamos só quinhentos dólares.»
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