Mudei na música, porque se há coisa que o jazz ajuda é a perceber melhor a música. Toda a música.
Como nos obriga a ter uma atenção especial aos sons, aos instrumentos e ao complexo diálogo que eles produzem, começamos a entender a música que há dentro da música. E a distinguir melhor. O bom do mau, do assim-assim. O jazz educa. E o jazz aprende-se. E dá trabalho. Educar dá trabalho. Mas o que isso tem de maravilhoso é que a decisão é nossa. Como querer experimentar um sabor novo, um filme diferente ou um livro em que nunca pegaríamos. Obriga a ultrapassar o preconceito inicial, a preguiça e a vencer a dificuldade ao que achamos estranho. E o estranho, aquilo que não conhecemos, pode ser a coisa mais linda que ficamos a conhecer. A coisa mais bonita daquele dia. Acho que é isso que se chama cultivar. A nossa horta privada. A mina interior. No meu caso, quando me contrario. Normalmente, se a primeira reacção é sacudir e rejeitar, fico a pensar nisso e forço o gesto contrário. Obrigando-me ao passo oposto. A descobrir. A permitir uma nova relação.
25 anos depois continuo a explorar novos Coltrane, e na busca de universos que rejeito e depois encontro. Num percurso que não é pacífico e que demora, e que (sobretudo) não é automático. Que começou nos monstros clássicos, para se enfiar depois em jazz-fusão, no acid jazz, no funk e até no rap e no hip-hop, como salinhas e quartinhos ou galerias infinitas. E do orgulho que sinto nisso. Porque a música é como um novelo. Que vamos desenrolando. Mas que também nos puxa. Porque é oxigénio e porque vicia. E, como o oxigénio, que nunca chega e tem de ser sempre novo. Mesmo que tenha 60 anos. Que procuramos mesmo quando a portas estão todas fechadas.
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