terça-feira, 19 de julho de 2011

Fuck moody's. We are Meco.

Ao fim de dez minutos no Cabeço da Flauta, já temos a pele curtida pelo pó. Mas pó só há mesmo para quem não o consegue engolir e continuar de ouvidos abertos.
A primeira estação é no fazedor de canções: B Fachada.


Já tinha começado.
Fala do Sérgio Godinho e do Chico Buarque, dos amigos da Flor Caveira, de colecções do Vinicius, e de artes de prestidigitação.
P-R-E-S-T-I-D-I-G-I-T-A-Ç-Ã-O. Um gajo que canta uma palavra destas e não se engasga, tem de ser especial.
Com ar descontraído, B Fachada salta de olhos fechados da guitarra para as teclas. E das teclas para a guitarra.
A certa altura fica irritado com o som. Queixa-se para alguém da muralha de feed-back dos baixos. Alguém lhe diga que era tão forte que nos electrificou completamente o corpo quase nos empurrando para trás.
O concerto termina ao lusco-fusco.
A cerimónia está perto de acontecer. Religião.


Uma Lua já por cima de nós. Enorme, redonda e perfeita. A pedir para cantarem para ela. Para irem para o espaço com ela.
Inspiradíssimos, os Portishead mostram-nos porque tratam a música com pinças. Com o carinho reservado aos amantes. Porque entramos numa liturgia. Sagrada. Não é para estoirar de repente, nem ouvir-se a correr. Temos que a deixar penetrar. Começa quase sussurro. E quando nos entregamos ao som que produzem, é já tarde. Reféns para sempre da noite. Do lado negro da Lua.
No palco, Beth Gibbons, a feiticeira, desfia-se. Canta tudo o que tem de tocar. Em choro. Em prece. Despe-se, fímbria por fímbria. Despe-nos da alma. Arrancada com doçura. E isto é The Rip. Que não é só sublime. É monumental. De mergulhar para sempre na escuridão de um mar nunca estado e querer ir mais ao fundo. Até onde as profundezas nunca terminem. Mergulhar, mergulhar, mergulhar. A partir desse momento, já somos dela. Não queremos mais nada.


E quando nos julgávamos musicalmente dormentes. Noutra dimensão, impossíveis de tocar, quase prontos para pedir o fim, eis que aparecem 8 tipos malucos no mesmo palco onde 30 minutos antes imergíamos  para nunca mais.
Quando se falar do ano da crise em Portugal, do ano Troika, quando se falar do Meco '11, vai querer dizer-se: "Eu estive lá."
Acto 1: Portishead. 
Acto 2: Arcade Fire.
Os AF são um grupo janado de oito músicos. Multi-instrumentistas todos. Todos tocam mais que um instrumento durante o concerto, o que eu acho lindo. Tão depressa na guitarra, como no baixo, e depois na percursão, nos violinos ou num órgão. De tudo saltam e se decompõem em permanência, em estado de euforia musical.
Quando não era possível pedirem-nos mais nada, estes malucos rebentam com tudo.
Obrigado NATO. Cancelarem o concerto de Novembro foi melhor que a encomenda. A energia orgásmica do vulcão só aguentou o tempo necessário para explodir a rolha forçada.
E embora o joelho direito gritasse há tempo, temos de ir para o palco com eles.
Porque isto é o Meco. E podemos encontrar no meio da multidão escura de cem mil caras sem nome, um grande amigo que não víamos há mais de 15 anos. Quais são as probabilidades de isto acontecer?
"Uma para 30 mil.", diz o gajo. Não. Mais. Muito mais.

São 3h30m.

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