sábado, 3 de julho de 2010

Os telhados de Lisboa

(rasputine)

Há uma esplanada em Lisboa para onde eu gosto de vir nas sextas-feiras ao fim da tarde. Mais do que para qualquer outra. E são tantas.
Pego na mota, e vou. Desço a avenida até ao Rossio, meto-me pela rua do Ouro quase até ao fim e viro na rua da Madalena. Corto para a Sé e subo, subo, subo. Como se só houvesse um caminho possível. Fica na Graça.
Sento-me e peço um gin tónico ao empregado e um maço de Luckies. Ponha na conta. Fumo um.
Às sete e meia da tarde ainda não chegaram os grupos de rapazes e raparigas que enchem a noite e que depois descem para as discotecas. Os turistas a essa hora também estão normalmente a jantar.
Um velho pede-me dinheiro com os dedos. Balbucia qualquer coisa que não percebo. Dou-lhe uns trocos para a mão. Balbucia um pouco mais.
Olho para o busto de Sophia, bem junto ao varandim, que contempla alheia o horizonte do rio Tejo. De queixo levantado como quem respira. Só reparo na igreja quando os sinos dobram. Graves.
Corre uma leve brisa que abranda o calor que o sol ainda deita e que borra tudo de um dourado que não existe. Uma rapariga apanha o cabelo. Ao meu lado outra fala castelhano. Um dia hei-de dizer ao puto para trazer aqui a miúda que ele ame.
Pago e vou-me embora.
Lisboa não é Buenos Aires, nem Roma ou Paris, mas tem uma esplanada, a esplanada da Graça.

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