terça-feira, 13 de julho de 2010

Alive !


Dizer que a noite de sábado no passeio marítimo de Algés vai ser a melhor noite de Verão do ano porque foi o melhor concerto da temporada - e estamos apenas no princípio - não é o exagero das palavras ou a hipérbole habitual de quem sofre o último impacto, de quem gosta muito de uma banda e cresceu a ouvir os seus discos. Não é sequer correr um grande risco.
Numa noite de pó, os Pearl Jam recusaram o espectáculo artificial da luz excessiva que corta o olhar e parte o ouvido. No palco aparece Eddie Vedder. Blusão de pele, guitarra ao ombro e botifarras de estivador. Tranquilo e reconciliado com as revoltas do passado, Vedder parece, como li algures, o Dude de "The Big Lebowvski" que, entre canções, diz ao público que vai ter tempo para apanhar umas ondas e «aqueles que também forem para o mar pensem em nós e digam "Esta é para ti, Ed !"».
Sem pedir licença, o concerto começa com um brutal "Release", logo seguido do enorme "Elderly Woman Behind The Counter In A Small Town". "Animal" e "Given To Fly" completam uma intro perfeita para o alinhamento.
Já tem o público com ele. Mas não lhe chega, e porque nos conhece bem demais, agradece-nos por os termos convidado «para a vossa festa, por nos deixarem pôr música por cima de vocês, à vossa volta».
Quando o cabelo escorre e o blusão já foi para algum lado tocam "Nothingman", "Daughter" e "Even Flow". Temas que construiram a banda. 
Na acústica surgem depois os magníficos "Just Breathe" e "The End" (do Backspacer) a querer colocar tudo no sítio próprio. Na noite amena.
Por esta altura a fusão com o público completou-se e parecemos membros privilegiados de uma seita que olha para os anos '90 com a saudade do que não apetece que volte.
No lado esquerdo do palco começa a brilhar Mike McCready que pega na sua Fender Stratocaster e começa a sacar acordes e solos apertadíssimos. Toca por trás da cabeça, deita-se, senta-se no chão, com a guitarra entre as pernas ou de lado e vai-se perdendo como se rezasse a Jimi Hendrix.
No final, já Vedder se entregou, e a garrafa de vinho tinto, que pega como se fosse um poeta numa récita, percebe-se que o ajudou a aguentar a garganta. Para terminar o concerto com "Betterman" e, claro, com o mais que mítico "Alive".
Eddie Vedder deixa o palco carregando a bandeira nacional aos ombros. Embrulhado nela.
Sentimos que foi uma noite boa. Até porque nos tinha avisado que este último concerto da digressão não seria o último de sempre, mas o último em muito tempo. O que era uma coisa boa, porque como não sabem quando irão voltar, «mais vale divertirmo-nos». Percebo isto.

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