Quando a Inquisição governava o mundo (e depois ainda), a Igreja foi seleccionando aquelas obras cuja leitura devia ficar vedada aos olhos dos mortais. Chamou-lhe “O Index”.
Não sei o que leva alguém a escrever (e publicar) que a música em Portugal é um “fenómeno sazonal”, que “com o calor, os portugueses lembram-se de que afinal gostam de música”, que a Amália Rodrigues é a “única referência musical portuguesa”. E que, portanto, com o Verão, vêm os festivais de música “ou a euforia de Verão” e “que quando as árvores começarem a perder as primeiras folhas, o sound of silence vai voltar a ser a música de fundo do país”.
Como disse, não sei o que leva alguém a escrever coisas como estas.
Talvez que a pessoa em causa não se levante muito do sofá ou viva numa Redacção emboscado em informações mais ou menos jornalísticas de números de vendas e estatísticas. Talvez veja o mundo no pretérito passado ou, simplesmente, não goste de música. Também pode ser por não ter mais assunto.
Não sei se esse é o caso de João Godinho que pôs uma crónica no “index”, revista que sai ao fim-de-semana com o ‘i’. Mas apetece-me dizer-lhe que faria bem em ir a um desses eufóricos festivais de verão para perceber como tantos portugueses se encontram repletos da música que vão ver tocar e conhecem de cor. Basta um acorde, porque só precisam de um bom pretexto.
Talvez devesse juntar-me com uns amigos e oferecer-lhe um bilhete para a temporada de Outubro a Maio numa, ou mais, salas de espectáculos do país, ou numa pequena sala de música como a “Galeria ZDB” ou a “Santiago Alquimista”. Talvez assim ele reparasse como estão cheias de entusiasmo e vibrações ao longo do ano. Como o país tem produzido bandas e músicos que tocam e apresentam sons novos e bons.
O público português anda sequioso de oferta cultural (toda) e a música norteia essa busca, cada vez maior. E cada vez mais artistas do mundo inteiro (batidos ou em começo de carreira) escolhem Portugal como rota das suas tournées para oferecer aquilo que vão fazendo. E nós recebemo-los. E bem. Com as canções todas no ouvido e as letras na língua. Talvez que a malta nova não compre os discos, como JG reclama, mas saca a música da net e organiza-a à sua maneira. Mas, sobretudo, ouve-a.
Por isso é que sei que quando vier o Outono, as salas vão continuar a encher. Porque não são mesmo quaisquer bares de praia.
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