(foto: andré)
Lembro-me sempre de percorrer o Jardim que, quando era miúdo, pensava que era mágico. Como se fosse uma floresta encantada para quem saía do centro irritado das avenidas novas.
Vinha com os pais e a irmã de um café ou pastelaria, ou do bife do 'Galeto', ou de casa dos avós, e parecia que tudo ali parava e os relógios deixavam de existir.
Havia poucos jardins em Lisboa, e este era nosso.
As árvores, a terra húmida e a vegetação abundante, o lago no centro e os cursos de água que se ouvem em todo o lado, o emaranhado dos passadiços e as esculturas espalhadas pelos cantos, eram o suficiente para não deixar ali penetrar tudo o que fosse mal.
Depois íamos para a parte do museu, o Centro de Arte Moderna, na altura - anos 80 - das poucas, senão única, oferta de arte contemporânea que havia em Lisboa. Gostava dos espaços abertos e dos quadros com várias cores e nem sempre óbvios e fáceis. Gostava quando me perguntavam "O que é que isto te parece ?", e aí sentia-me um Senhor !, de opinião autorizada.
Nunca o refúgio da Gulbenkian deixou de me atrair. Achava o Jardim irresistível, totalmente, e, por isso, já na Faculdade, era para onde decidia levar as minhas namoradas. Para o bosque da Gulbenkian. No princípio, talvez elas estranhassem, mas, assim que pisavam o sítio, o feitiço funcionava, e eu só tinha que aproveitar.
Nessa altura, comecei também a frequentar as salas dos concertos, o "Jazz em Agosto", e, uma vez ou outra, a Biblioteca. Nunca ficava lá a estudar. Sempre achei que era um bocado chato ir ali só para estudar. Dizia à mãe que ia à Biblioteca da Gulbenkian - o que a deixava contente -, mas depois entretinha-me nos corredores dos livros, a olhar para as prateleiras e a ver lombadas.
Caramba !, até a primeira reunião política com a malta da Faculdade foi no anfiteatro da Gulbenkian !
Quando comecei a trabalhar, vim parar à Av. AAA, mesmo em frente à Gulbenkian de quem continuei amante. Às vezes só da "cantina", com os livros da 'Almedina' a chamarem mesmo em frente. Parecia magia, outra vez.
Não sei se é a isto que eles chamam tradição, mas, agora, com alguns pêlos brancos na barba, é também onde me repito com os putos, deixando o poder do feitiço funcionar.
Tudo isto para agradecer a Gonçalo Ribeiro Telles, o Arquitecto prémio "Nobel" da paisagem, que, com António Viana Barreto, criou o magnífico Jardim.
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