sexta-feira, 5 de julho de 2013

Alegações Finais

Together



"Não serão muitos, mas haverá certamente alguns bons motivos para acordarmos com alegria no Inverno de Janeiro às oito horas da manhã. Um julgamento, sobretudo se nele formos arguidos, não é um deles. Mas é esse o motivo que nos fará acordar amanhã. Daqui a umas horas estaremos a entrar num tribunal para perdermos a nossa virgindade jurídica. E, de alguma forma, a nossa ingenuidade. Somos acusados de difamação, processo crime. Se não conseguirmos provar a nossa inocência lá teremos que puxar os cordões à bolsa: 25 mil euros de indemnização. Podia ser pior? Temos dúvidas.

Um sujeito acorda um dia de manhã com os pés de fora, desconhece-se se às oito horas, se a hora mais lúcida, e decide criar um canal de televisão. Malta do Norte, ciosa do seu território, cidade Invicta, os sonhos todos postos no sotaque que, acreditam, um dia há-de fazer ver a Lisboa quem é que afinal trabalha e cria neste país. Dá-lhe nome, dá-lhe forma, compra material, aluga espaço, contrata equipas, técnicos, jornalistas, comentadores da praça. Tudo em grande. Mas esquece-se que um dia, cedo ou tarde, haveria de pagar o sonho. Óooooo....
Chegam os primeiros cheques sem cobertura, as reclamações dos fornecedores, a suspensão do material, a equipa toda a debandar dali para fora. Investigamos o assunto, narramos os factos e damos-lhe um nome: Burla. [Dicionário: ludíbrio, dolo, trapaça, intrujice, trampolinice, logro, tratantada, fraude, tratantice.] O sujeito do canal burlou as pessoas que contratou porque as enganou. Porque lhes passou cheques sem ter dinheiro, porque protelou ad nauseum o pagamento e as explicações, porque desapareceu do telemóvel, porque já ganhou dinheiro com o material que entretanto vendeu a terceiros sem nunca o ter chegado a pagar. Porque assegurou aos funcionários que seriam ressarcidos pelo seu trabalho e até hoje nunca o fez. Porque os fez acreditar que aquele projecto teria sustentabilidade financeira, o que não era verdade. Sequer em sonhos.

Parece tão fácil provar a nossa inocência, a nossa boa fé, a nossa isenção e rigor, que o assunto parece ser feio e feito de favas contadas. E, no entanto, não é. A lei diz que dever dinheiro - cem euros ou cem milhões - não é crime. Cheques sem cobertura também não. E, aparentemente, falhar à palavra dada, e em alguns casos dada por escrito, muito menos. Crime é dizer que alguém deve dinheiro. E à dívida colar um rótulo: Burla. Claro que nem toda a gente que deve dinheiro é criminosa, sequer desonesta ou pessoa má. Mas que raio se chama afinal a um sujeito que há mais de dez anos anda a criar e a afundar projectos sem ter um tostão furado, arrastando para o seu lamaçal quem quer e precisa trabalhar e ser pago por isso?"

1 comentário:

  1. Esta história é tua?
    Se fores tu a fazer a tua defesa podes estar tranquilho - ficas bem defendido. Se precisares de claque, diz, que eu vou.
    Um beijinho grande

    ResponderEliminar

Are You talkin' to Me ?