Ao dar, no entanto, uma opinião sobre António Borges tenho de focar-me noutro aspeto: naquilo que acredito, talvez erradamente mas com convicção, ter sido uma influência negativa para a sociedade decorrente da passagem deste homem notável pela política e por lugares cimeiros da economia mundial.
Não me esqueço quando António Borges disse que "a diminuição de salários não é uma política, é uma urgência". Não me esqueço quando defendeu que os trabalhadores deveriam pagar mais taxa social única e os patrões menos. Não me esqueço quando advogou a destruição da RTP. Não me esqueço que instituições como a Goldman Sachs e o FMI foram responsáveis, no tempo em que ele lá esteve, pela distorção de equilíbrios na economia mundial que nos levaram a uma crise gigantesca empobrecedora de milhões de pessoas. Não me esqueço que aquelas instituições onde ele pontificou foram cúmplices (e até autoras) de autênticos crimes económicos que, tirando um ou outro bode expiatório mais desprotegido, ninguém pagou, a não ser as suas vítimas, diretas ou indiretas.
António Borges seria pessoalmente admirável mas a sua visão do mundo, para mim, era detestável. Para um homem que sempre odiou a hipocrisia, penso que o que escrevo é o verdadeiro sinal de respeito que, sem dúvida, lhe é devido.»
no DN, 27.08.13
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