Não é fácil constatarmos que já passaram 20 anos. Nunca é.
Parece muito tempo e, de certa maneira, é.
E não é fácil prepararmo-nos para rever uma banda ao vivo passado todo esse tempo. É arriscado. Perigoso. Em dia-não, podemos mesmo sofrer a desilusão de quando se cresce e se percebe que o mundo é afinal mais pequeno do que pensávamos. E tudo afinal não passou de um borrão (blur). Pode ser a ruína.
Há 20 anos os Blur vinham tocar ao Coliseu de Lisboa. Coisa nova para estes lados.
A sala transpirava de cheia. Vinham na tournée de 'Great Escape', já o quarto álbum.
Quatro rapazes que tinham inventado a brit pop. No auge dos pólos Fred Perry e da guerrilha com os Oasis.
Damon Albarn haveria de terminar o concerto em cima de uma coluna de 3
metros de altura. No final talvez se tenha projectado. Depois viriam as canções para o Trainspotting.
Na altura, a vida estava apenas no princípio. Não havia facebook, nem telemóveis.
A faculdade ainda era só começo. O liceu ficava finalmente para trás e o que nos prendia à infância e que já
morria. The Great Escape éramos completamente.
Queríamos escalar todos os degraus e ir para o centro do universo. Instantaneamente. Onde a acção acontecia.
O mundo era novo e tínhamos uma vida inteira para ir e regressar. Sem rede e de pulmões escancarados,
com a paixão de quem respira de verdade.
A vida mudou e o mundo ficou estranho. Estamos mais
velhos, temos famílias, profissões, somos responsáveis e temos pessoas que dependem de nós. Já não viajamos com os amigos nos comboios da Europa. Lemos imensas coisas, ouvimos muito mais. Estamos diferentes.
Cometemos erros, não cumprimos todas as promessas, mas ainda tentamos fazer a diferença. Dia-a-dia. So we say.
Os Blur têm todos 40 anos, e nós quase. E por isso recebíamo-los com o desdém de quem já anda nisto há algum tempo. Copo de cerveja na mão, sentado e bem reclinado para trás, exibindo indiferença. Não pensem que vai ser fácil. Que é só chegar. Vão ter de provar tudo outra vez.
Primeira canção. Novo álbum. Nem me levantei. Quanto mais palmas.
Só que eles vinham em missão e, logo à segunda, "There's no other way", para mostrar que quem mandava ainda eram eles e não o céptico ali do canto.
A partir daí, rendição total: Beetlebum, Song 2, Coffee and Tv, Parklife, No Distance Left to Run, Tender, Girls and Boys, To the End, This is a Low, For Tomorrow, Out of Time, e terminar com o absolutismo de Universal. Digo de cor e não pela ordem certa. E sempre recusando ceder à previsibilidade de um Country House que podia estragar tudo.
Os Blur regressaram a Lisboa e afinal
continuaram. Mas melhores. Quem se desmoronou fomos nós.
É a isto mesmo que se chama crescer. Mudarmos sem perder.
E é isto The Magic Whip.
"para mostrar que quem mandava ainda eram eles e não o céptico ali do canto."
ResponderEliminarisso!