"Los lanzallamas".
Continuámos a correria de ontem, quase louca, obsessiva (pelo menos para mim), pelas livrarias de B. A.. Continuávamos sem o livro. Estávamos quase a regressar a Lisboa e não podíamos voltar sem ele. Engraçado como tudo o que é raro, só por isso, ganha logo outro valor.
Meio dia já tinha voado e nada.
Recuperámos o fôlego no 'La Confiteria Ideal' com mais um café. Na porta de entrada, um empregado areava os metais.
Prosseguimos. Quando já estava pronto a desistir - caramba ! também não era a morte do artista ! - demos com uma pequena, e quase imperceptível, livraria. Daquelas que não se faz ouvir e anunciar. Que não tem grandes placas e que só fala em silêncio. Que é porta para quem procura. Mas só para quem é família ou quem tem fé.
Lá dentro, nas prateleiras, uma boa milena de livros. Deixa perguntar.
No balcão, uma senhora já com uma certa idade. Estranhava aquele par de malucos que entraram ávidos, aos tropeções, como se viessem atrás de água ou fugissem de alguém.
Deixa perguntar. Com esforço, em sussurro, quase em segredo, quase descrentes, prontos para mais um Não.
"Los lanzallamas", de Roberto Arlt ?
Sim, tenho.
Não podia acreditar. Pela expressão da sua cara, talvez a tenha ferido com um brilho inédito dos meus olhos. Talvez se tenha sentido como Santa num altar, o que, vendo bem, não deve ser agradável.
Subiu uma escadinhas de madeira, meio tortas, que obviamente rangiam, desceu, e eis-nos finalmente com o "Graal" na mão.
Pasmei um bom bocado, demorando-me a ler as letras da capa. Para ter a certeza de autor e título. Era verdade. A busca terminara. Pagámos 60 pesos e viemos com o troféu debaixo do braço.
Faltava, porém, fazer uma última coisa em Buenos Aires.
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