quarta-feira, 9 de junho de 2010

O Ar

Há coisas assim. Que surgem parece do nada. Momentos que não nos esperam. Apanham-TE.
Não o tipo de coisas que não contamos. Essas muitas, centenas, milhares, infinitas e tremendas de treta. A que não ligamos mais do que a um caracol. Coitado do caracol.
Falo de Coisas. As Coisas. Das verdadeiras coisas. Que não empurram, mas acordam e perguntam e mexem na alma. Que esventram apenas. Sem penas. Que fazem sermos nós. Que mudam. Tudo. Que dizem gosto de ti. Não digo, não posso. Não acredito. Mas gosto. E assim eu já acredito.
Não tenho medo. É o melhor da vida.
Coisas que não pedimos. Que não escolhemos. Acontecem e acordam. Que perguntam saltas ou não. Ficas-te? Não não fico. Não me sabes? Se ficasse não ia.

No outro dia caiu-me no colo saltar de um pára-quedas, de um avião a 4.000 metros de altitude. Não disse logo que sim. Que me atirava assim para o vazio. Dei-lhe uma semana. Há medo, afinal há medo, quem tem cu tem medo. Vou. E agora só recuo para tomar balanço. Agora vou. Não sou de ficar. Ficar por ficar. O vazio afinal não é vazio. É chão.
A vida tem destas coisas. Mas não tem que ser salto. Pode ser voo. Perguntam é se vens ou não. Saltas ou não. Salto. Salto sempre. Se acredito. Desde que (acredite). Não gosto de engasgo. Das palavras que se esquecem entupidas. Que se apagam. Que não digo porque morrem na boca. Nunca Ave presa num voo desistido. Tímida. Acanhada. Saltas ou não. Salto. Mas mando-me em voo. Não é coragem nem fé. É um voo. Vivo. É Ar.
Saltas ou não. Sim. Já disse. E num segundo, acreditas? Não penses.
[Lago Naivasha, 5h35m, um Marabou]

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