(Dennis Stock)
Never dream awake
Foi o que ela lhe disse. E ela sabia. É um inferno. Vais-te tramar. Mas como? Quem é que está a sonhar ? Acordado sim porque é preciso para ver. Mas sonho, não. O sonho não existe. Não sente. É sonho. Não vive. Não acorda. É névoa. Não mexe. Sonha.
Mas foi o que ela lhe disse.
Naquela altura podia ser Nova Iorque, Paris ou Roma, mas era o Porto. Estranho para um sonho.
Para ele o Porto, naquela altura, não era uma cidade-sombra. Nem névoa. Não era a espuma das ondas a desaparecer na areia. Era o Norte. Tinha que lá chegar, que é duro, mas meiga. Tinha um Sol. Muito sol. Estranho para um sonho.
Ou Lua. E um frio, dor de quem ama. Frio, não. Ou sim. Já não percebia nada.
Tinha sotaque. E um trejeito do lado esquerdo. Era fogo! Era longe perto. Linda. Aquele Porto gosta. E para ele o Porto envolvia, agarrava. Entrava, entrava.
Naquela altura o Porto era a Foz. Era o mar. Enorme, enorme. Envolvia e agarrava. Mas despedia.
Para ele o Porto tinha mãos, e lábios, e olhos, de mel. Torrado.
Era um peito. Uma menina. Para ele o Porto brilhava. Era um poema que pegava nele. O Porto era um corpo que beijava. Um pescoço. Lindo. Que dava o jeito.
O Porto beijava. Era língua.
Aquele Porto seduz, feliz. Chama, chama. Mas também cala. Um silêncio que fala, pensava ele. É música. É Cure ou “Green is the colour”. Um candelabro. É muito.
Estranho para um sonho.
Estranho para um sonho.
Protegia-o e abraçava-o. Abrigava-o.
Era noite, madrugada. O Porto escrevia saudades. Dizia estamos juntos. Tocava.
O Porto estava lá e… ele cá.
Era magia. Incrível ! Cinema. Mistério. Sombra. Tinha frio, e ele um casaco. Estranho para um sonho. O Porto é bonita.
Mas ele calava. Também. Não queria ser coincidência. Impulso. Fantasia. Delírio. Mas achava que lhe lembrava dor, insuportável. Queria pegar-lhe na mão. Ouvi-la muito. E acreditar. Para não morrer na expectativa do que poderia ter sido e não foi. Acreditar que podiam ganhar ao tempo e à distância, que podiam ganhar ao terror de perder tudo o que tinham até ali, para ganhar ainda mais.
Mas ela dizia-lhe Never dream awake. Só quero ser salva.
Eu gostava de ter escrito isto...
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