quinta-feira, 28 de abril de 2011

MaraMessi

Messi maravilha é mesmo uma maravilha.
Mas não é Maradona. Nunca será.
Porque, apesar de golos obras-primas como ontem, será sempre um perfeitinho. Demasiado perfeito. Bonitinho, com o cabelinho penteadinho e todo engravatadinho. Sem lesões de acabar-carreira. Sem vícios, sem drogas. Um brinquinho sem um brinco.
Menino do coro, se calhar nunca mentiu. Provavelmente lava sempre os dentes antes de ir para a cama e atravessa a rua sempre na passadeira. É casa-treino e treino-casa. Pelo meio ginásio, cerimónias e prémios e nunca manda ninguém para o caralho. Ele que é argentino. Mas que, em vez de crescer nos bairros pobres e nos campos pelados de Buenos Aires, ou sentir o milagre de jogar numa cancha do Boca ou do River Plate, veio cedinho para a limpinha Europa e acabou moldado mutante. Perfeitinho. Quase inumano.
E é o lado trágico das imperfeições humanas (como já aqui disse) que é belo, que encanta no futebol, como na arte e na vida.
Porque, como cantava Vinicius, no "Samba da Benção",

Senão é como amar uma mulher só linda
E daí? Uma mulher tem que ter
Qualquer coisa além de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza
De se saber mulher
Feita apenas para amar
Para sofrer pelo seu amor
E pra ser só perdão.

Messi continua a fazer golos de génio, é verdade, como o segundo ontem contra o Real. Não é trágico nem belo. 




Mas agora concentremo-nos no Benfica e em ganhar aos jagunços de Domingos logo à noite.

Il faut le chercher, parce qu'Il faut le trouver.


Se a FNAC (que é francesa) em Portugal não o tem, porque só tem o que pode ter, vamos à árvore.
Como não gostamos de encomendar discos virtuais, escalamos a montanha.
E se uma senhora pergunta porquê Ferré, digo "parce qu'il faut le trouver."
Como chove em Avignon, entramos numa loja de discos, procuramos, ouvimos, trazemos.
Descansamos agora.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

1986

Cada um terá o seu, suponho.
O meu é 1986. O ano acordado. De aparecer consciência para além de mim.
Um puto de 8 anos no '85 a terminar que deixa a miudagem lá em casa. Ui, isto agora já é a sério. 8 anos. Agora é sério.
E começa 1986.
A partir daí havia mundo e a vida não era só as skatadas nas Arcadas e arreliar a mulher da "Chamade".
Não era pegar nas biclas e fugir do bairro com os melhores amigos do mundo.
Não era o Spectrum ou a Playboy comprada na Espanhola. Dividida por todos. 
Não eram as bombas de mau cheiro atiradas para dentro da perfumaria ou os balões de água rebentados por onde desse. Ou bolas a estoirar nas marquises dos vizinhos.
Muito menos ter que fazer os TPC's que as professoras punham no quadro e depois reclamavam.
Por culpa de coisas novas que o mundo aparecia.

Em casa ouvia política. As Presidenciais. As primeiras sem militares, sem a cara esfíngica de Eanes. Colossos. Soares, Freitas, Zenha, Pintasilgo. Quase Freitas. 2ª volta. Engolem-se os sapos.
"Soares é fixe e o Freitas que se lixe !". Caravanas e bandeiras. Pendurado nas costas do meu pai no comício do Rossio e Rui Veloso a cantar. Vitória.
Ah,.... e "Portugal, na C.E.E. !"

Depois, o desastre do Challenger. O vaivém da Nasa que seguia para a Lua com 7 astronautas. Uma professora. Acho que o vi em directo. Talvez não, mas foi igual, como se todos ali navegássemos também. Sobe e explode. Todos desintegrados na atmosfera.

Em Abril rebentava Chernobyl. Radiação. Pânico geral. Relatos do desastre, fotografias impressionantes no "Paris Match" que estava na sala. A nuvem que aproximava. E o vento dos Açores que a varre embora.

O último Mundial de futebol. México 86. Cromos na escola. Portugal depois de 20 anos fora. Carlos Manuel a meter um golo aos ingleses. Passe do Diamantino. Bento parte a perna. Vem o Damas. Saltillo e os jogadores de chinelos em greve de esforço. Derrotas e fora. À portuguesa. Futre é pena e não joga.
Maradona. Magia. Fintar todos. A mão de Deus. Gambettas. O segundo golo à Inglaterra e passa por todos.
E terminar como não podia mais poeticamente. Com o golo de Burruchaga aos alemães a estender Schumacher no relvado. No final do jogo. 3-2. Argentina campeã do Mundo.

Há 25 anos.

terça-feira, 19 de abril de 2011

"Eric Clapton is God" - III

Uma canção linda. Feita com som e letras perfeitas.
Gigante dos solos, Clapton junta-se em '71 a George Harrison no seu concerto para o Bangladesh.
Completamente afundado em heroína, embora há três dias não lhe toque, sem dormir e enfiado na pior ressaca da sua vida, Clapton falta a todos os ensaios mas acaba por aparecer em palco.
Faz a guitarra chorar. Porque ele não consegue. A um tipo assim perdoa-se tudo.
Minutos 1.46. e 3.12.
 

segunda-feira, 18 de abril de 2011

A (Des)europa

Leio algures que 48% dos finlandeses (se calhar mais) estão contra a ajuda a Portugal. Que empurram mesmo para fora do Euro. A intermitente posição alemã também é conhecida. Os franceses não dizem nada. Esperam que sejam os outros a fazer o trabalho sujo. E não serão só estes.
Nada disto me espanta. No mundo actual, cada um (infelizmente) só sabe de si.
Não é pessimismo. É olhar para a realidade com perspectiva, através dos sinais que ela dá.
E os sinais são bastantes para perceber que a União Europeia está a caminho da desagregação. Porque também não vejo em nenhum dos líderes políticos europeus vontade alguma de verdadeiramente alterar este rumo de coisas.
A CEE (como a EFTA) foram criadas por razões essencialmente económicas, mas tinham um fito. De Jean Monnet, Willy Brandt e outros. Procurar através de um progresso económico mútuo chegar a uma união política. Para, através da união de dois dos principais países da Europa, fugir ao desastre de que duas guerras mundiais devastadoras tinham provado ser capazes.
E assim foi... sendo. Livre comércio, moeda única, fronteiras escancaradas, políticas comuns, mas políticas económicas. Depois, alargamento (sempre económico). Até que alguém lembrou que tudo só fazia sentido se chegássemos aos Estados Unidos da Europa. Chegou-se mesmo a falar de uma Constituição Europeia e de um Presidente. Mas tudo estacou aí, porque ai! da soberania.
A União Europeia é como a Liga dos Campeões, onde tudo se organiza para que os clubes mais poderosos cheguem sempre às finais. Claro que é preciso ter lá clubes da segunda divisão, porque também metem cá guito. E ninguém quer um campeonato só de 4 ou 5 clubes, mas o que tem é de se proteger a elite.
E como só se pensava na Europa económica, enquanto a economia dava... dava. Quando começou a deixar de dar e os Estados mais "chupados" a protestar problemas, business is business e então cada um trate de si. Ninguém quer naufragar em grupo.
O problema não está em Portugal (e outros, antes ou depois) poder vir a sair da UE. O problema que os principais líderes (?) europeus não vêem é ao que isto vai levar. Porque no dia em que o campeonato for só jogado a 4 não é campeonato. E fecha-se. Cada um fechando-se no seu egoísmo natural. E quando cada um voltar a viver só para si e a (Des)Europa for a realidade, está feito o caminho para as ditaduras e para o futuro bélico do passado.
Porque a História (não sou eu que o digo) é cíclica.

As estrelas também se extinguem.

sábado, 16 de abril de 2011

"Eric Clapton is God" - II

Juntar as guitarras de Jimmy Page e Jeff Beck em concerto, e meter ainda os Stones Charlie Watts (bateria) e Bill Wyman (baixo) é um luxo.

E "Layla", canção que Clapton compôs para a sua paixão-loucura Pattie, mulher do seu amigo de sempre George Harrison, uma maravilha de fazer girar órbitas.
E ao minuto 3.29...



Em "Goodfellas" escutam-se estes minutos sagrados quando a Polícia começa a descobrir os cadáveres do gangue que tinham sido despachados depois do golpe "Lufthansa".

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Human Be In


... ou a grande fuga da Troika.

"Eric Clapton is God" - I

Em 1974, Eric Clapton emergia de uma época de vício, de doses cavalares de heroína, cocaína e carradas de outra drogas que misturava com todo o álcool que encontrava.
Segundo confessava ao seu grande amigo George Harrison, andava à procura das trevas para ver o que lá havia e depois voltar.
O purista Eric Clapton, depois de uns anos 60 de loucura e vagabundagem, de se meter e sair dos Yardbirds porque estavam a ficar "demasiado comerciais", de brilhar com John Mayall nos Bluesbreakers e de criar com Jack Bruce e Ginger Braker o blues-rock efémero mas estonteante dos Cream, e depois de andar perdido em bandas como Dereck and the Dominos, em concertos a que era chamado pelos amigos que o tentavam recuperar para a vida,

Eric Clapton lançou "461 Ocean Boulevard", listado pela Rolling Stone como um dos 500 melhores discos de sempre. Onde cantou além do brilhante "Let it Grow" e do épico "I Shot the Sheriff", isto:

quarta-feira, 13 de abril de 2011

O velho gira-discos

Fidelity. Made in England. Quando as coisas não eram made in China.
Fidelity.
Estava vai para 30 anos enfiado num caixote que estava enfiado num monte de caixotes enfiados numa garagem.
Nunca mais tinha tocado. Nunca mais tinha aberto o coração.
Quando era pequeno não me deixavam mexer-lhe, mas agora (nem sei porquê) chamou-me para o salvar.
Pai, vamos lá ver o Fidelity.
Ui, que já houve para aqui água e humidades. Tira-o para fora.
As colunas estão um bocado soltas. Chave de fendas. Desaperta isso tudo. Já percebi o problema. Ok. Vai com cola ?
O gira-discos é que está pior. Não roda, está mudo e não mexe. Faço ideia de como estará a agulha.
Espera aí Tiago que o meu Pai vai ali buscar um produto porreiro para acordar o morto.
Três homens de volta do aparelho. Três tipos a quererem reanimar o velho gira-discos, em coma profundo desde há 30 anos. Quando o japonês entrou lá em casa e o escondeu num alçapão.
Fchhhh, Fchhh, Fchhhh. Borrifos precisos. Desperta os parafusos enferrujados. Mexe aqui, mexe para ali. Três cirurgiões sem curso e às apalpadelas no calor do Alentejo que já estrebucha. Mas Ah! que vontade de o trazer de volta à vida, de o pôr outra vez a cantar. Uma vez apenas para lembrar-lhe a voz.
Se não vai lá depois de aberto com o bisturi, tentam-se uns choques eléctricos. Espera, parece que já roda. Vai buscar um disco. Primeiro a banda sonora do "Cocktail" que é da mana e se estragar não se perde grande coisa. E ao menos tem uma dos Beach Boys.
Liga os speakers. Mau contacto ? Acho que sim. Merda, acho que os fios é que já não sopram.
Espera outra vez. É o botão do Balance que está todo quinado para um lado. Põe-no lá em equilíbrio. Magia ! A agulha já cose.
O bicho está vivo. Não arranha e ouve bem.
Meto já este.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Da Terra à Lua

Passando por Gagarine.


50 anos não é uma vida. Uma ou duas gerações no máximo. Mas não é muito tempo.
E, no entanto, quando a minha mãe quis convencer a avó do Porto, professora, pessoa culta, casada com outro professor (do Liceu Alexandre Herculano), que o Homem tinha pisado a Lua, disse a bisavó Elisa "Pois, pois, balelas, balelas." Acho que morreu sem acreditar nisso. E não foi sequer há 50 anos.
Histórias do Espaço. Sonhadores galácticos. Verne. Hergé. Kennedy.
Aventureiros. Exploradores. Homens-coragem. Que apostaram a própria vida num mergulho de loucos. Foguetões como o cano de um revólver encostado à têmpora.
"Vamos!", gritou Gagarine há 50 anos, quando o cuspiram para o escuro que não termina. E a Terra era azul.
Talvez seja loucura, mas há quem não se importe de morrer só para a ver assim.

domingo, 10 de abril de 2011

Sonhar é bom...

Mas também pode dar um medo do caraças.
Como quando nos atira para cima do palco de um pub londrino, onde já está Eric "slowhand" Clapton e o gajo se vira com a sua "Blackie" na mão e chuta: "Vá, puto. Agarra lá nessa Les Paul e acompanha-me. "Sunshine of Your Love". Em Dó sustenido."

É o que dá deitar-me depois de ler uma coisa destas.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Fight Club

Nota: o texto que segue foi publicado pela primeira vez no blogue encostado  do "Alcatrão & Penas". Recupero-o agora, adaptado, um ano depois, porque o(s) dia(s) justifica(m).

Houve fome.
Falando apenas do séc. XX, sucessivas convulsões políticas, sociais, económicas a que os nossos pais, avós e bisavós sobreviveram. Alturas de fome e verdadeira escassez. Duas guerras mundiais, recessões económicas, queda de impérios coloniais, independências. Choque petrolífero. Filas e senhas de racionamento. Fome. Para chegarmos à Liberdade.

Tyler Durden, o lendário Tyler do “Fight Club”, num dos melhores diálogos do filme, diz a determinada altura que eles (nós) pertencem(os) à Geração do Meio.
Queria ele dizer – julgo – que, como o irmão do meio, filho para quem em geral a família se está nas tintas, à nossa geração (dos 30) também ninguém liga muito, vá, nada.
Tyler depois desenvolvia um bocado a ideia: que éramos uma geração facilitada, que não havia grande rumo, que as dificuldades tinham ficado para os mais velhos e que a nossa geração estava basicamente entregue a si mesma porque ninguém queria saber de nós, nada iria acontecer de relevante nos nossos anos e não íamos ficar na História.

Há algo de assustadora e desesperadamente verdadeiro nisto.
Só não concordo com a conclusão: não ficarmos na História.
Tenho pensado muitas vezes neste tema. Tenho discutido muito, e o que digo, apesar da veemência do discurso, não tem feito muito eco. Aliás, que me recorde, só uma pessoa esteve comigo. Um raio, ou melhor, um corisco.

O problema é, em suma, este.
Nascemos e crescemos em democracia. Temos conforto, sofás e há o IKEA. Depois da revolução, depois do FMI, a CEE. E os anos 80 e 90, anos de progressiva ascensão económica e social. Chegámos ao mercado de trabalho em 2000. As nossas vidas foram bestialmente perfeitas, certinhas e previsíveis.
Quando podíamos ter ido fazer qualquer coisa, escolhemos uma carreira. Mark Renton, no final do Trainspotting dixit. E pronto. Uns melhor, outros menos bem, começámos a trabalhar e a ganhar (logo) relativamente bem. Não havia sobressaltos. A vida corria como planeado, temos 30 anos e não havia crises.

Claro que havia (ainda há) as ameaças do terrorismo, mas que também servem para financiar o produto armado. E o que é armado dá dinheiro. E se dá dinheiro a máquina funciona.
Dinheiro. Títulos comerciais. Bolsa. Mercados. Tudo seguro. Tudo vazio e feito de areia.
Como este clima de sagrada abastança não podia continuar por muito tempo, comecei a dizer aos meus amigos que algo vinha para aí. Tinha que vir. Falei em voltar à enxada. E que podíamos ser forçados a experimentar uma luta selvagem pela sobrevivência. Disseram que exagerava. Que era medo.
E, de repente, a crise do sub-prime de 2008 parecia dar-me razão.
Histeria total. Pânico. Madoff. Suicídios financeiros. Lehman Brothers. Casas entregues a troco de Zero. O dinheiro (afinal) não existia. Era tudo ficção. Era o fim. O fim das nossas sociedades, o fim do nosso estilo de vida. O fim.

Mas... amainou, e, como vivemos tão obcecados por uma ilusória segurança, as coisas começaram a voltar ao normal. Os Bancos a emprestarem o dinheiro que não têm, os Governos a usarem o dinheiro que não é deles, e todos a vivermos uma doce realidade virtual. Universo paralelo.
Amainou. Só amainou porque se adiou desenrascadamente até ao impossível. Porque agora voltámos ao expectável. Portugal recorre ao FEEF e ao FMI e nós que julgávamos estarem tão distante os anos 80, voltámos à mesma, como o aluno que chumba e nunca aprende. Ao menos a mudar de vida. A fazer outra coisa.

É aqui que me separo do Tyler: "Não ficaremos na História. Nada faremos digno de registo." Não acho.
Estamos enfiados num Fight Club tramado. Somos a Geração do Meio, sim, ou a Geração Só. Não temos ninguém ao lado, coisa que não se via nas gerações passadas, onde os pilares fundamentais da sociedade sustentavam tudo e garantiam estabilidade.
Hoje estamos por nossa conta. Os Governos mentem-nos. A Justiça quer ser política. Os Bancos vão à falência. As empresas governam-se. Os jornais dizem-nos o que outros querem dizer. Todos se servem e fazem batota. E a família (quase) inexiste. Muitos avós têm que continuar a trabalhar. Não há reformas. Os putos ficam entregues por aí. E um dia vão cobrar.

Esta é a nossa Revolução. Mudar isto. Este é o nosso Fight Club. E agora aguentar a borrasca que se adivinha. Eu estou cá.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

A noite da varanda

A noite quer a varanda.
É uma noite como Julho. Já breu. As melhores de Lisboa.
A noite só chama varanda. Arrasto o corpo que dói. Do jogo de há bocado no campo relvado da Agronomia.
Perdemos a Taça. A final que foi final. E 1-0. E Zás ! Perdemos. Todos a mexerem, todos a correrem. Todos no jogo. Tudo por tudo. Até ao fim. Equipa assim... Sem mais suor que deite por fora. E não marquei, puto, mas trancar os dentes e lutar por todas as bolas que deslizam à nossa frente e dizemos esta é minha, Ai é minha ! Que lá chego e estico-me todo. E quase perdemos o ar, e esquecemos os ligamentos do joelho que já foram, o menisco que não há, e a bola de ténis que tivemos há uns meses na perna. Que um cão mordia.
Mas estico tudo, ou salto e vai de cabeça. Que é final. Mas antes um encosto ao central para o tirar do lance. E o árbitro não vê. E trago o calcanhar no gelo. Do pau que ainda levei. Que o árbitro é cego. Apita o apito prolongado e é o fim. Mas demos tudo e assim está bem.

A noite só quer a varanda e eu faço-lhe a vontade que cá mereço. E bebo qualquer coisa que atiro para o copo. E afinal é mas é uma fome do caraças.
A rua cala. Cala que morre. Só um vento suão. Quase de incêndio. Quase Zé Régio.
Fome do caraças.


5 de Abril de 1994 -


Seattle. Oiço na televisão que os Nirvana acabaram.
Com o tiro só que Kurt Cobain enfiou por ele adentro. E um bilhete de despedida. Fico não órfão. Pasmado pelo Nevermind que já passou e terminou.

Reminiscência

One summer evening drunk to hell
I stood there nearly lifeless
An old man in the corner sang
"Where The Water Lilies Grow"
And on the jukebox Johnny sang
About a thing called love
And it's how are you kid and what's your name
And how would you bloody know?
In blood and death 'neath a screaming sky
I lay down on the ground
And the arms and legs of other men
Were scattered all around
Some cursed, some prayed, some prayed then cursed
Then prayed and bled some more
And the only thing that I could see
Was a pair of brown eyes that was looking at me
But when we got back, labeled parts one to three
There was no pair of brown eyes waiting for me


And a rovin' a rovin' a rovin' I'll go
For a pair of brown eyes
(...)

sexta-feira, 1 de abril de 2011

April come She will

O vídeo é da Sony Music. E a Sony Music tem os seus direitos. E os direitos são para se respeitar.
A não ser que se trate de música. E a música, como os livros, como os filmes, ou uma flor, ou como um corpo ou rosto que é bonito, são para partilhar, para passar de mão para mão, para que todos os conheçam e agradeçam a Deus porque estamos vivos.
Mas a Sony não deixa que o vídeo passe e flue e flane na minha casa. Aqui dentro do Paralelo 23. Que é democrático e só quer partilhar.
E então a Sony só autoriza o Youtube. E o Youtube passa e passa bem que é magnífico.
Por isso, quem o quiser ver clique, mas clique mesmo, e clique depois quando redireccionarem para o Youtube.
Talvez um dia arranje um Metube.

*
É Abril e há uma canção brutal de linda. Simon & Garfunkel. Uma das melhores duplas de voz e songwriter de todos os tempos.
E as imagens são do "The Graduate", do virgem Ben (Dustin Hoffman). E de uma rapariga, Elaine (Katharine Ross), deslumbrante, linda de morrer. Brutal de linda.
E há uma mãe, Mrs. Robinson (Anne Bancroft), no mínimo tão bonita como a filha, que leva o puto para a cama. E Ben que estava era apaixonado pela lindíssima (já disse isto?) Elaine...
E há a Universidade de Berkeley nos anos 60, escola da revolução em São Francisco e onde a malta nova dizia da vida dos mais velhos que a "old road is rapidly aging". Ou o Bob Dylan.
E o átrio da Universidade onde Ben procura a fugida Elaine.
No filme também a "Scarborough Fair" e "Mrs. Robinson".
Mas o tempo é de "April come She Will"...

E agora, cliquem. mas cliquem mesmo.


P.S. e o carro do Ben. Alfa Romeu Spider. Descapotável e vermelho. Rebenta o resto.

"The Contract with God Trilogy"

"All day the rain poured down on the Bronx without mercy.
The sewers overflowed and the waters rose over the curbs of the street.
The tenement at Nº 55 Dropsie Avenue seemed ready to rise and float away on the swirling tide. "Like the ark of Noah", it seemed to Frimme Hersh as he sloshed homeward.
Only the tears of ten thousand weeping angels could cause such a deluge ! And, come to think of it, maybe that is exactly what it was...
           ... after all, this was the day Frimme Hersh buried Rachele, his daughter."

*
"After the crash of the stock market in 1929, a Great Depression engulfed western society like a grey cloud ! Suddenly it seemed to a world which had been in gleeful pursuit of the good life, that living had become survival !
Many hitherto unquestioned assumptions now came under reexamination."