Mas não é Maradona. Nunca será.
Porque, apesar de golos obras-primas como ontem, será sempre um perfeitinho. Demasiado perfeito. Bonitinho, com o cabelinho penteadinho e todo engravatadinho. Sem lesões de acabar-carreira. Sem vícios, sem drogas. Um brinquinho sem um brinco.
Menino do coro, se calhar nunca mentiu. Provavelmente lava sempre os dentes antes de ir para a cama e atravessa a rua sempre na passadeira. É casa-treino e treino-casa. Pelo meio ginásio, cerimónias e prémios e nunca manda ninguém para o caralho. Ele que é argentino. Mas que, em vez de crescer nos bairros pobres e nos campos pelados de Buenos Aires, ou sentir o milagre de jogar numa cancha do Boca ou do River Plate, veio cedinho para a limpinha Europa e acabou moldado mutante. Perfeitinho. Quase inumano.
E é o lado trágico das imperfeições humanas (como já aqui disse) que é belo, que encanta no futebol, como na arte e na vida.
Porque, como cantava Vinicius, no "Samba da Benção",
Senão é como amar uma mulher só linda
E daí? Uma mulher tem que ter
Qualquer coisa além de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza
De se saber mulher
Feita apenas para amar
Para sofrer pelo seu amor
E pra ser só perdão.
Messi continua a fazer golos de génio, é verdade, como o segundo ontem contra o Real. Não é trágico nem belo.
Mas agora concentremo-nos no Benfica e em ganhar aos jagunços de Domingos logo à noite.
Mas agora concentremo-nos no Benfica e em ganhar aos jagunços de Domingos logo à noite.