quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Le Boxeur



"1939. Hertzko, jeune Juif polonais est deporté à Auschwitz. Là, anime d'une rage devorante et du souvenir de sa fiancée Leah, il survit à la force de ses poings, et devient «la bête de Jawoezno», un boxeur qui combat d'autres prisionniers pour distraire les nazis. 
À la Libération, tous ses proches ayant disparu, il immigre aux États-Unis où il continue à boxer, mais avec cette fois une seule idée en tête: devenir assez célèbre pour que Leah, où qu'elle soit, entende parler de lui." 

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

"Here's to the Wild Flowers !"


Dallas Buyers Club

sábado, 25 de janeiro de 2014

Quando o Circo chega à Aldeia





(foto: andré raposo)

Não é fácil nascer-se benfiquista numa família de sportinguistas. De sportinguistas e até de um tio que adoramos e é tripeiro. Sim, nasci benfiquista, embora nos primeiros anos talvez ainda não soubesse.
O pai não gostava de futebol, muito menos da droga do futebol. Dizia que era do Covilhã, seja lá o que isso for.
De modo que fui benfiquista contra a pressão da família. Imensa. Sobretudo do Avô querido que me queria deles e que, mais tarde, ouvia culpar o outro tio (que era Padrinho e tinha responsabilidades) por não me ter falado dos Stromps, dos Violinos e do Manel Fernandes e, como dizia, por ter "aprendido o que não devia com os miúdos da rua".
Mas fui benfiquista contra a influência da família. Acho que o percebi quando o Benfica vinha ao Estádio do Restelo para jogar com o Belenenses.
Não foi por causa daquelas camisolas lindas lindas lindas. Nem até pelos golos do Carlos Manuel, pela raça do Bento ou pelas fintas do Chalana.
Percebi que era do Benfica quando o bairro onde cresci se avermelhava. O Benfica no Belenenses. Em dia de jogo, o Restelo mudava de cara. Ficava outro, intransitável. Travestia-se. O sossego aborrecido virava excitação. A calma chata e pachorrenta mostrava os dentes e ficava doida. Selvagem. De repente, os passeios eram dos carros, as ruas enchiam de gente. De cachecol e bandeiras vermelhas. Apareciam roulotes a vender bifanas e cerveja. Havia fumo, barulho, cânticos e chegavam pessoas que eu não conhecia e eram diferentes. Parecia um circo ! Em dia de jogo, debruçado sobre o Tejo, ia para a janela ouvir o bruáaaa do público e os gritos loucos de "GOOOOLLLLLOOOOOOO !" que é do Benfica.
Uma vez por ano, o Bairro impressionava. Ainda hoje, quando descia a Ilha da Madeira e maravilha «(...) o amor da minha vida».

E, por isso, com cinco ou seis anos, ao vir da missa ou dos pastéis de Belém, pedi ao pai uma bandeirinha vermelha e branca com o símbolo da águia no centro e Et Pluribus Unum. Para inaugurar a dinastia na família, que hoje já recebe o meu orgulho.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Your only friend



A internet oferece coisas engraçadas.
Este 'Mogambo', por exemplo, que é John Ford a meter o Clark Gable enfiado nos braços da deslumbrante Ava Gardner e da não menos que celestial Grace Kelly.
Ao som de... Bonnie Prince Billy.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

De El Calafate para Ushuaia - 6º e 7º dias


O dia ainda não levantou. Saímos às 7h15m para Puerto Punta Bandera, onde vamos apanhar o barco que nos leva ao Glaciar Upsala, outro magnífico.
Pelo caminho, icebergues do tamanho de navios.
Neva, mas é uma neve pacífica e calada, e embora nos garantam que "só" estão 2º C, no deck do barco posso apostar que estão uns 10 graus negativos.
Não demoramos a chegar à Baía de Onelli, onde atracamos. Atravessando a pé um pequeno bosque gelado, com cerca de 1 km e cheio de árvores caídas, chegamos aos glaciares Onelli, Bolado e Agassiz. Tudo tão profundamente calmo.
Este lugar parece um céu. E a neve continua a cair.

De El Calafate a Ushuaia é uma hora e qualquer coisa de avião.
No sul dos súis e a 1000 kms da Antártida, olho para os 4º C do termómetro. Só para saber. 
Sem ter ninguém à espera, lá encontramos uma hospedaria que tem um quarto para 3 dias.
Perfazemos a rua principal (San Martin) e desembocamos no 'Tia Elvira', um restaurante em frente ao porto que nos põe na mesa a santola mais fresca que algum dia provei. Se me dissessem que a tinham roubado ao mar há dois minutos, teria acreditado.
Ushuaia é a capital da Terra do Fogo. Chamam-lhe a cidade do fim do mundo e o princípio de tudo. Fico a pensar no assunto.
É uma cidade portuária, no extremo da Cordilheira dos Andes e separada do continente pelo Estreito de Magalhães, do nosso Fernão de Magalhães. Cercada por várias montanhas, o Cerro Bonetti, o Alvear e o Monte Olivia, era a terra dos índios Yamaná, há muito desaparecidos e de quem só restam as fotografias de princípio do século XX que se encontram expostas em grande parte dos lugares turísticos.
Bastante mais desenvolvida que El Calafate, Ushuaia é o destino de muitos argentinos que ao fim de semana vêm para fazer ski. Os hotéis estão cheios e as ruas repletas de gente e barulho.
Ushuaia, porto que mira para poente.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Goodfellas



'The Wolf of Wall Street', de Martin Scorsese.
E Di Caprio ?, que barbaridade !

(no Fonte Nova, enquanto se acumulava uma piscina de chuva por trás da tela)

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

A Síntese

A Cooperativa
As cooperativas são pessoas colectivas autónomas, de livre constituição, de capital e composição variáveis, que, através da cooperação e entreajuda dos seus membros, com obediência aos princípios cooperativos, visam, sem fins lucrativos, a satisfação das necessidades e aspirações económicas, sociais ou culturais daqueles.
[acooperativa@hotmail.com]

quarta-feira, Janeiro 15, 2014


Vive la France



(Julie Gayet)
 

Cass McCombs




Este músico andarilho, ainda relativamente desconhecido em Portugal, tocou hoje à noite no Maria Matos. Como é um Teatro, como não estamos num estádio, numa arena ou num festival, as quase 500 almas que o escutaram, da plateia ou do primeiro balcão, puderam concentrar-se só na música e não nos telemóveis que só filmam, para logo irem para os youtubes, ou nos facebooks e nos likes e amigamentos e nas insuportáveis algaraviadas para passar o tempo enquanto alguém toca num palco.
Chegou com uma Fender Stratocaster, uma guitarra acústica, uma banda e mandou-nos de volta à livraria da Bleecker Street onde ouvimos 'Harmonia' pela primeira vez. Depois, já na "Other Music", paraíso em NYC da música independente e experimental, encontramos o 'Catacombs' e trazemos também 'Wit's End'. 
Quando a vida é simples, é bom.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Herberto Hélder

 
 
(Daniel Kaplan Zurbarán)
 

Esta mão que escreve a ardente melancolia
da idade
é a mesma que se move entre as nascenças da cabeça,
que à imagem do mundo aberta de têmpora
a têmpora
ateia a sumptuosidade do coração. A demência lavra
a sua queimadura desde os seus recessos negros
onde se formam
as estações até ao cimo,
nas sedas que se escoam com a largura
fluvial
da luz e a espuma, ou da noite e as nebulosas
e o silêncio todo branco.
Os dedos.

A montanha desloca-se sobre o coração que se alumia: a língua
alumia-se: O mel escurece dentro da veia
jugular talhando
a garganta. Nesta mão que escreve afunda-se
a lua, e de alto a baixo, em tuas grutas
obscuras, essa lua
tece as ramas de um sangue mais salgado
e profundo. E o marfim amadurece na terra
como uma constelação. O dia leva-o, a noite
traz para junto da cabeça: essa raiz de osso
vivo. A idade que escrevo
escreve-se
num braço fincado em ti, uma veia
dentro
da tua árvore. Ou um filão ardido de ponto a ponta
da figura cavada
no espelho. Ou ainda a fenda
na fronte por onde começa a estrela animal.
Queima-te a espaçosa
desarrumação das imagens. E trabalha em ti
o suspiro do sangue curvo, um alimento
violento cheio
da luz entrançada na terra. As mãos carregam a força
desde a raiz
dos braços a força
manobra os dedos ao escrever da idade, uma labareda
fechada, a límpida
ferida que me atravessa desde essa tua leveza
sombria como uma dança até
ao poder com que te toco. A mudança. Nenhuma
estação é lenta quando te acrescentas na desordem, nenhum
astro
é tao feroz agarrando toda a cama. Os poros
do teu vestido.
As palavras que escrevo correndo
entre a limalha. A tua boca como um buraco luminoso,
arterial.
E o grande lugar anatómico em que pulsas como um lençol lavrado.
A paixão é voraz, o silêncio
alimenta-se
fixamente de mel envenenado. E eu escrevo-te
toda
no cometa que te envolve as ancas como um beijo.
Os dias côncavos, os quartos alagados, as noites que crescem
nos quartos.
É de ouro a paisagem que nasce: eu torço-a
entre os braços. E há roupas vivas, o imóvel
relâmpago das frutas. O incêndio atrás das noites corta
pelo meio
o abraço da nossa morte. Os fulcros das caras
um pouco loucas
engolfadas, entre as mãos sumptuosas.
A doçura mata.
A luz salta às golfadas.
A terra é alta.

Tu és o nó de sangue que me sufoca.
Dormes na minha insónia como o aroma entre os tendões
da madeira fria. És uma faca cravada na minha
vida secreta. E como estrelas
duplas,
consanguíneas, luzimos de um para o outro
nas trevas.

Herberto Hélder
('carta da paixão', in Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa, por Eugénio de Andrade)

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

sábado, 11 de janeiro de 2014

Amar








Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?


Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?


Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho,
e uma ave de rapina.


Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor à procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.


Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa, amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.


(Carlos Drummond de Andrade)

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

45 anos de luxo


"No one listened to it. But there it is, forever - The Quintessence of Articulated Punk. 
And no one goes near it."

Lou Reed, Agosto de 2013

'White Light / White Heat', o segundo álbum dos Velvet Underground, primeiro sem Nico (a femme fatale Warholiana do grupo) e último com John Cale, um dos seus fundadores.
Nas prateleiras, em edição que celebra o 45º aniversário, com sete inéditos e um concerto ao vivo em 1967 no 'Gymnasium' de Nova Iorque, no disco 2. 
É favor adquirir.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Eusébio da Silva Ferreira


- Epa morreu o Eusébio que merda.
8h29 da manhã e acordo com uma mensagem no telemóvel. Uma notícia assim só podia chegar do mano.
Acordo e quase morro em puro estado de choque. Não percebo o que se passa à minha volta. Por momentos, esqueço onde estou. Deixo de ouvir. Não, oiço uns zumbidos. Os olhos cegam. O coração acelera e pára ao mesmo tempo. Esqueço-me de respirar e é tudo automático. A cabeça estala. Apoio-me numa mesa que está perto. Parece que estou num acidente. Parece que me espetei de carro. Tenho de ir para a rua apanhar ar fresco. Não acredito, o Rei. O Rei não morre.
Quando finalmente percebo que é verdade, que aos amigos não se engana, não assim, balbucio em voz alta: o Eusébio morreu. 
Ligo a televisão e vejo o que todo o país está a ver. Rodapés sucessivos, imagens a preto e branco, os livres, as cavalgadas, os golos. Os canais estrangeiros falam que morreu uma lenda. Depois as entrevistas. Di Stefano diz que morreu o maior de todos os tempos. Mário Coluna, em Moçambique, muito velho e cansado, conta como a mãe de Eusébio lho encomendou. Simões, o irmão branco, Toni, Maradona, Beckenbauer, Gordon Banks, Mourinho, Butragueño, o Old Trafford e Bobby Charlton todo em pé e olhar triste em aplauso. Mário Wilson, o velho Capitão, a falar directamente para a fotografia autografada que beija. 
Quando já não consigo fugir ao inevitável, conto aos filhos. Explico quem foi o camisola 10. Mostro no caderno do miúdo o que lhe escrevi em tempos neste blogue sobre o 'Pantera Negra' e leio-lhe. Falo das histórias do meu Avô que, sportinguista, ia à Luz, dizia, para ver se via o Benfica perder, só para não confessar que queria era ver o Eusébio jogar. 
Pergunta-me quantos golos é que marcou e abre a boca de espanto quando lhe digo.
Somos interrompidos pelo João Alves, o "luvas pretas", na televisão a dizer que o Eusébio não morreu. E o puto pergunta porquê. Respondo que os homens grandes não morrem. E ele diz "como tu, Pai ?" Não se aguenta.
O dia custa a passar.
A miúda já colocou os cachecóis por cima da televisão e a bandeira ao lado, com jeitinho e em sinal de respeito. Escreve uns bilhetinhos que dedica ao 'Pantera Negra' e que, à noite, já na Luz, vou depositar junto à estátua onde estendo também o meu primeiro cachecol do Benfica.
E agora ?

domingo, 5 de janeiro de 2014

"Vão dizendo em toda a parte o Pintor morreu" *





Eusébio da Silva Ferreira
(1942 - 2014)

(e dentro de um carro, parados num sinal vermelho, os dois maiores amigos:
- Olha lá, pá, o Rei está ali no carro da frente !
- Pois está. 'Bora lá.
como putos, os trintões saem porta fora. Batem no vidro e esbracejam.
- Ó Rei, ó Rei, és o Maior !
De lá de dentro, Sua Majestade acena, e os trintões regressam a casa felizes da vida.)


* 'A Morte Saiu à Rua', José Afonso

12 Years a Slave


sábado, 4 de janeiro de 2014

Um dia vou falar-te de tudo o que me escreveste

Existíamos sem que existíssemos. Quilómetros de pensamentos ligados sem fios. A tecnologia de todos os versos roubados, e de milhares de imagens e palavras sacadas às canções, filmes ou às páginas de alguém que as escreveu antes, mas só por sorte. Achava mesmo que eram para mim. Do que inventaste e me contaste e do que não vimos em diálogo secreto e mudo. Num quarto escuro, sim, mas não era ? Parecia mesmo. Estava cheio de avisos e recados em silêncio que não é para ti. Literatura e um beijo. Mas o espelho era grande e via bem. Mas o espelho inverte a imagem e agora já nem sei. Desse bendito momento maldito que apareceu tardio e longe de tudo, nascido fora de horas e que era possível, como lapa no meu coração. Eu, sem colete anti-balas. Às vezes queria acreditar que era perfeito e para sempre, que era para mim e eu para ti. E que só a coragem é que não tinhas para dizê-lo mais do que baixinho. É incrível a nossa capacidade de acreditar no que sonhamos. Podemos enlouquecer. Ou acordar a meio da noite. Disseste que me amavas, e não foi só em sonhos. Eu era tua e tu eras meu. Era comigo, seríamos tudo e seria belo. Só que tu eras demasiado honesto para dizeres a verdade.


[andrey dubinin]

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014