Cacete ! Estou com a Blitz na mão e aparece-me o cartaz deste fim-de-semana. Vem aí mais um Super Bock - Super Rock. Mais um, o caraças. Já não é. O SBSR era o Meco inteirinho. O SBSR era deixar a cidade à sexta e atravessar a ponte em cima da Vespa ie-ie e parecer que mudávamos de mundo. Eram os esses da nacional para acabar no Cabeço da Flauta e entender que não havia melhor nome para uma loja de concertos. Era a praiinha no dia depois com sabor a choco frito e salada de polvo. Era sempre a casa da Susaninha e acordar ao meio dia do dia seguinte no meio de pessoas que não conhecíamos e que liam a Rolling Stone ou mostravam o biquini novo, enquanto o sábado à noite demorava. Era uma play-list do i-pod dos outros que ouvimos (com o desdém que se impõe) enquanto damos um mergulho entediado. O SBSR era outra coisa. Era pó. Era aquela miúda de 20 anos já bem perto de Alfarim que implorava: "LEVA-ME !" O que não era era uma Expo limpinha, certinha e toda arrumadinha e em que o som é tudo o que está a mais. O SBSR era um bocadoisto, isto e isto. Que se lixe.
"O que é A Mística ? Bem, é difícil de explicar, embora se sinta muito. É vestir o manto sagrado, ir, jogar, vencer, mas sobretudo ir embora com elegância."
Entre amigos sabemos isto de cor.
48 anos a servir o Benfica. Shéu Han deixou hoje o futebol, mas com "Pézinhos de Veludo", como sempre quando jogava. Felizmente continua no Benfica. E nós com ele.
Era miúdo e costumava ver numa gaveta lá de casa umas cassetes da BASF que o meu pai tinha gravado, ao lado das do Zeca Afonso, do Zé Mário Branco e do Sérgio Godinho. À mão, com tinta de esferográfica azul, tinha escrito "Victor Jara" e depois, na capa da cassete, uma lista com o nome das canções (lado A e lado B). Não sei se ainda existem, mas durante muito tempo olhei para elas sem saber quem era o nome sublinhado a azul. Soube mais tarde. O homem da guitarra, poeta e cantor de intervenção no Chile dos anos 70, activista, professor e Director da Universidade Técnica do Estado, e um dos primeiros a cair às mãos dos carrascos de Augusto Pinochet, após o golpe de Estado que depôs Allende. E de como foi levado com outros prisioneiros para o Estádio Chile (hoje Victor Jara), onde foi espancado e lhe esmagaram os braços e os dedos da mão e enquanto - conta-se - lhe diziam que tocasse guitarra. E onde foi fuzilado com 44 tiros no corpo, para a seguir o abandonarem numa rua de Santiago do Chile perto de um cemitério.
Soube agora, 45 anos depois, da condenação de oito ex-soldados chilenos a 18 anos de prisão, pela morte de Victor Jara.