sexta-feira, 27 de junho de 2014

Mundial: melhor momento da 1ª fase

O golo de Van Persie à Espanha do tiki-taka imperialista, unânime e ditador, não é apenas esteticamente lindo e perfeito na execução. Não é apenas um golo que empata uma partida a dois minutos do intervalo e que projecta uma recuperação iminente. Não é justiça justa e feita no solo e não no céu. É uma vendeta pelas próprias mãos ou, neste caso, cabeça. Não é só poesia atlética e habilidade em movimento perpétuo. Não é um fogo-fátuo. É um alívio ! É ar novo. Diz parece que Breath in the air.
É uma contradição. É um tratado anti-gravidade e a antítese fatal do futsal tiki que morre a bola de cansaço. É um tiro na dormência. É o tempero do bife.
Um mergulho de peixe encorpado que termina numa cabeçada-chapéu em voo é impossível ! e teria partido as costas, o pescoço e o focinho a qualquer um.
Robbie Van Persie mostrou ao mundo inteiro que, quando se trata de enfiar a bola na baliza, tudo vale e a física não entra em campo.
Que há sempre um momento de revolta e libertação e que nada dura para sempre.
Que primeiro é o fim do mundo, depois vem o princípio de tudo.
E é aqui que os deuses do Olimpo agradecem ao homem ter nascido homem e inventar coisas que nem eles sonharam.

 (Yahoo Sports)

quinta-feira, 26 de junho de 2014

O Alasão


Como ? 2,5 M. ? para o Benfica ? Para um total de 6 ??!? E a gente ouve e finge que acredita. Caramba, menos e talvez a CMVM desconfiasse.
Dinheiro assim não suja só o futebol. Ofende. El Negro e todo o Sector 25. Que diabo, todos os benfiquistas. 
Agentes, mercados, fundos. Só fuzilados.
E vem a frio. Premeditado. Num comunicado. Selado e legalizado. Sem direito a envelope.
Ai, Alasão, a tua herança não é de trocos e nenhum papel o explica.
E agora vou ali fora buscar o meu coração que acabou de saltar pela janela.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Parabéns, Seu Chico !



Os 70 anos do Sr. Chico Buarque mereciam crónica. Ou uma letra bem cantada.
Para mim chega a foto.

regresso ao passado em Sarajevo


«In "The Fixer and Other Stories", cartoonist and journalist Joe Sacco recounts his experiences at the end of the brutal Bosnian War. In the lead story, Sacco introduces Neven, a charismatic man who makes a shady living for cash, cigarrettes, food or alcohol by leading reporters through Bosnia's war-torn landscape. Sacco crossed paths with disparate figures from the Balkan conflict, from Rodovan Karadzic, the notorious war criminal, to Soba, a young Sarajevan struggling to recover from the trauma of war and renew his creative ambitions.»


Fui a Sarajevo em Setembro de 99 com mais quatro amigos num inter-rail. 15 anos... parece mentira.
Para chegar a Sarajevo, vindos de Dubrovnik, foi porém preciso apanhar uma camioneta, porque os comboios tinham deixado de existir. Pagámos 25 marcos porque já não tínhamos kunas e seguimos.
Pelo caminho, tanques da SFOR patrulhando a zona, cemitérios e o estuque das casas recheado do calibre das balas. Acompanhados sempre pelo percurso sinuoso do rio Neretva, enfim Sarajevo.
A antiga estação de comboios lá estava, estilhaçada e abandonada, pendurando ainda o painel teimoso das últimas partidas e chegadas. 
Apanhámos então um ruidoso eléctrico até ao pequeno centro, único reduto que sobreviveu às armas sérvias.
Jipes das Nações Unidas e mais prédios esventrados completavam as ruas. Gente fantasma que se recusa a falar da guerra. O muro defensivo que construíram impede-os para não se desfazerem em raiva ou comoção. 
Nem me lembro bem do que comemos, porque a última imagem que me ficou foi a do contraste entre a antiga sede do parlamento, ainda de pé, mas desoladoramente arruinada, com a marca profunda do morteiro que a matou, bem no meio do peito, e o "Holiday Inn", amarelo berrante, impecável por fora, a provocar a velha e derrotada Assembleia. Na altura, a violência da cena impressionou-me.
Contudo, como que compensando tudo isto, a beleza do baixar do sol por detrás das verdes colinas que cercam Sarajevo, deu-me logo esperança em ver os Balcãs ressuscitarem.
Eram 6 e 45 da manhã quando depois chegámos a Zagreb.


terça-feira, 17 de junho de 2014

O Futebol Cultura



Disclaimer: continuo a achar ridícula a comparação com Messi.
Será algo como falar de um bebé feito no sexo e de um bebé proveta. É verdade que ambos são (sobre)humanos, mas não foram gerados da mesma maneira.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Vhils em Lisboa - parte VI (no acto)


[Alcântara, quarta-feira, 11.06.14, 14:35]

quinta-feira, 12 de junho de 2014

O lado lindo do futebol




(foto: andré, Casa Branca, Alentejo)


A História do Campeonato do Mundo está cheia de momentos de glória, exultação e euforia.
Continua a interessar-me mais o outro lado da rua, o lado dramático da bola. O lado trágico. A beleza eterna das vítimas do cruel.
As lágrimas-revolta de Eusébio porque a Inglaterra, que já jogava em casa, mudou o jogo de Liverpool para Londres para não ter que se mudar. 
A bola que vai à trave, não entra, mas o árbitro diz que sim na final de Wembley de 66 e a Inglaterra a ganhar o título à Alemanha. A vingança da Alemanha tirada a papel químico mas ao contrário no mundial de 2010. Lampard chuta, a bola está dentro e era empate, mas o árbitro vê tudo mal e diz que é não.
A máquina nova e incrível do futebol total, mais bonito, mais espectáculo, da "Laranja Mecânica" e que em duas finais consecutivas, perdeu ambas. Ou como Cruyff nunca ganhou a copa.
O Brasil de sonho, de Sócrates, Zico, Falcão, Junior, Toninho Cerezo, a ser eliminado em 82 pelos 3 golos do Paolo Rossi, sempre com mais um tiro cínico na culatra, ele que vinha de um escândalo de apostas ilegais. 
A incredulidade inglesa quando o árbitro apitou o golo com a mão do Deus Maradona em 86. As lágrimas amargas e tristes de toda a Argentina que escorriam na cara do mesmo Diego na final de 90, ele que até tinha "traído" Nápoles no seu San Paolo, vencendo a Itália de Baresi e Donadoni, lágrimas que agora não conseguia segurar apenas porque a Alemanha marcou um penalty que não existiu. Ou simplesmente porque perdeu.
O génio Roberto Baggio de 94 (nesse ano talvez o melhor do Mundo) que atira por cima da barra e falha o seu penalty na final, depois de ter transportado o país inteiro para essa final. 
O fenómeno Ronaldo que se deixou tragar pela ansiedade e já não jogou na final de 98. Zidane a fechar a carreira, expulso na final de 2006, por enfiar uma cabeçada no peito de Materazzi depois de ele ter dito duas coisas ou três da mãe ou da irmã de Zizou.
O momento mágico e louco de Luis Suaréz no último minuto do Uruguay - Gana de 2010, o avançado que faz de desesperado guarda-redes e sacrifica a pele para safar o remate que era golo certo. Chorou porque viu o vermelho e é penalty e isso é golo certo. O jogador do Gana chuta mas logo falha o castigo máximo e tudo, afinal, a valer a pena porque no desempate a penalties tudo muda e está nas meias-finais a equipa que tinha quase tudo perdido. Isto não é futebol, não é milagre. É Deus a rir-se da gente. E muito mau para o coração.
Em suma, o lado inumano ou horrivelmente humano do futebol.

Mas nunca, como no último campeonato do mundo realizado em solo brasileiro, houve maior e tão terrível fatalismo. 1950. No Maracanã jogavam Brasil e Uruguay. 200.000 almas nas bancadas. O resto de ouvido colado à rádio. Um país inteiro a respirar para ser campeão.
Começou o Brasil na frente do marcador, mas na segunda parte o Uruguay troca as voltas, mete dois golos e enterra aquele betão armado num silêncio sepulcral.
Os relatos da época contam que logo ali houve quem se despedisse da vida, lançando-se do alto das arquibancadas do maior estádio do Mundo.
Um trauma que só oito longos anos depois os brasileiros conseguiram ultrapassar, levados pelos pézinhos de génio de um menino chamado Pelé e pelos joelhos trocados de Mané Garrincha. Que poema !

quarta-feira, 11 de junho de 2014

O Carnaval vai desfilar !

  

(foto: Caio Vilela, Rio de Janeiro)
 

terça-feira, 10 de junho de 2014

Metadona 2


Apesar de ser em diferido e mesmo conhecendo o resultado final, nunca deixei de puxar pelo Novak. 
Dito isto, o Nadal continua um touro dos demónios ! O Roland Garros (2005, 2006, 2007, 2008, 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014) é dele.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

"O tempo só estrangula quem não Ama"

9.06.73

"André, o que é que eu fazia sem a tua Mãe ? Ela é o meu menino Jesus."

terça-feira, 3 de junho de 2014

Apocalypse Now (Redux)



"A enorme importância que os filhos têm hoje na vida dos seus pais arrasta consigo uma
sombra negra: a sensação de uma vida esmagada pelo peso da responsabilidade, tanto em termos pessoais como profissionais. O pai do século XXI vive permanentemente em falha. Queria estar mais tempo com os filhos, mais tempo no trabalho e mais tempo sozinho.
(...)
O humorista americano Louis C.K. andou a arrastar-se durante 20 anos por bares, palcos e programas televisivos de segunda categoria sem que ninguém lhe prestasse grande atenção. Até que um dia foi pai, e num espectáculo ao vivo, em meados dos anos 2000, decidiu tratar a sua filha por “cara de cu” (“asshole”, no original) e dizer que finalmente “compreendia os pais que atiravam os seus miúdos para o lixo”.
(...) 
Adam Mansbach, graças ao sucesso planetário de um falso livro infantil chamado Vai Dormir, F*da-se (edição portuguesa da Arte Plural), protagonizado por um pai desesperado que tenta convencer o seu filho a adormecer através de versos tão subtis como:

O gatinho junto à gata se aninha
E o cordeiro ao pé da ovelha busca calor.
Estás aconchegado na tua caminha,
Agora, f*da-se, dorme por favor.
A Lua no céu está a aparecer
E as estrelas já brilham, meu amor.
Leio mais uma história, pode ser,
Mas, f*da-se, depois dorme, por favor.

(...)

Ser pai, portanto, é insuportável e cada vez mais difícil, enquanto ser solteiro é cada vez mais comum e divertido. Mas como Émile Durkheim, pai da Sociologia, descobriu no distante ano de 1897 ao escrever O Suicídio, as pessoas casadas matam-se menos do que as pessoas solteiras, as pessoas viúvas matam-se mais do que as pessoas casadas mas menos do que as solteiras, e as pessoas com filhos matam-se menos do que todas as outras. Quando um casal tem filhos, diz Durkheim, o “coeficiente de preservação” praticamente duplica. Segundo ele, existe uma relação muito forte entre a formação da família e a preservação da vida.

(...)

Em resumo, e avançando para o tal final que se quer feliz: ser pai em 2014 é muito difícil, por vezes desesperamos e sem dúvida merecemos mais atenção do que aquela que nos tem sido dada. Olhar mais dedicadamente para as angústias da paternidade, exterminar de vez o discurso cor-de-rosa dos bebés cutchi-cutchi seria uma actividade muito útil e, a bem da propagação da espécie, extremamente proveitosa. Ainda assim, a paixão pelos filhos não diminuiu. Pelo contrário: nunca antes pensámos tanto neles, nunca tivemos tantos problemas de consciência por não estarmos com eles e nunca a nossa vida nos pareceu tão deslocada sem eles. Todos temos consciência disso, a cada minuto do dia. Incluindo naqueles momentos — tão frequentes — em que os nossos filhos nos parecem apenas uns caras de cu."
"E se ter filhos não for assim tão giro?", por João Miguel Tavares e Nuno Ferreira Santos, in revista 2, 'Público'

domingo, 1 de junho de 2014

Um homem feliz


Veio fechar a tournée solo em Lisboa. Queria que o frio orquestral do CCB fosse mais como casa e então mandou pôr as luzes Blue Note, mas não havia bebidas.
Começou a pensar no pai, e saiu-lhe o rumba Armando. Falou dos discos lindos de vinil que lambia e da primeira vez que ouviu Miles com 19 anos a tocar com o Charlie Parker. Depois, com os dedos foi percorrendo o seu caminho de Bill Evans, Jobim, Miles, Monk, Duke, Stevie Wonder e Chopin. 
Intervalo e abre o coração latino, quando já se aborrece de estar sozinho no palco. Pergunta se ninguém da plateia quer improvisar com ele. Dois miúdos, o primeiro com uns 12, o segundo talvez de 16, saltam lá para cima, à vez, e de jam em jam vão cozinhando um jazz novo, irrepetível, a quatro mãos. Dois miúdos que nos fazem acreditar no futuro.
Termina capturando o Lisboa choir que ele próprio maestrou ali e acaba a transbordar do público em ritmo certo. Estas coisas não acontecem por acaso.

«É espantoso. Há como que um acordo: a espécie humana precisa de ser estimulada. Não consegue prosseguir sem isso. Perdíamo-nos, tornávamo-nos robôs. E é assim que vejo a nossa profissão; de certa forma, temos de relembrar as pessoas da natureza criativa que todos nós temos. Não só os artistas, mas todos os seres humanos. Então, quando tocamos, acordamos, e isso é inspirador. Afastam-se os problemas e os conflitos da nossa mente e surge um estado de espírito que permite uma forma melhor de desfrutar a vida, de fazer algo criativo, de tomar decisões correctas e de fazer as coisas certas.»

Chick Corea. Genial ! Foi hoje à noite.