terça-feira, 31 de outubro de 2017

"Así, no, Carles"


«Uma declaração de independência que não foi, porque seguiu-se a respetiva suspensão, tem agora uma independência que não o é, porque os independentistas vão a eleições que, afinal, lhe são permitidas pelos colonizadores, que não o são. Nem burlesco de Cervantes nem surrealismo de Dalí, mas, como prova de que o nacionalismo, hoje, está ultrapassado, uma chanchada brasileira. Catalunha merecia melhor. O líder que a atrapalha, Carles Puigdemont, fugiu para o exílio, numa fuga desnecessária para um exílio inexistente. Foi para o exílio em fins de outubro, para um provável regresso a meados de dezembro para votar e ser votado. Exílio é outra coisa, não tem prazo de validade nem a certeza de votos. Exílio viveu-o o socialista madrileno Largo Caballero, presidente do governo da República espanhola, que com a vitória de Franco foi levado para o campo de concentração nazi de Sachsenhausen. E viveu-o o republicano catalão Lluís Companys, presidente da Generalitat da Catalunha, entregue pelos nazis a Franco e fuzilado. O exílio de Carles Puigdemont é coisa para rir, é um insulto aos verdadeiros exilados espanhóis da trágica história recente. É como comparar a livre, democrática, autónoma e progressista Catalunha a países colonizados e ocupados. Nenhuma das hipóteses com que Puigdemont contava aconteceu: nem a independência surtiu nem os tanques vieram... Restava-lhe a fuga para a frente. Partiu, com uma decisão categórica tão rara nele, para um exílio de comédia.»

"É trágico tanta comédia", por Ferreira Fernandes, in DN

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