terça-feira, 30 de agosto de 2011

Rentrée

 Depois de Dylan e dos Stones, o novo Scorsese vem com o nome de George Harrison impresso na capa, o tímido beatle cheio de música que enche o documentário e queria ser o que pudesse ser.
O DVD sai em Outubro.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

com a precisão de um relógio suiç... erhh... italiano

Calendário Pirelli 2012
(photo shoot)

[Kate Moss, por Mario Sorrenti]

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Privilégio



El Mago. O único jogador que Diego 'El Pibe' Maradona disse que pagaria para ver jogar.
É por meninos como ele que vamos à Luz. Para assistir aos encantamentos com que trata a bola feitos de pezinhos que não pisam a relva. Para não estragar. Deslizam como se o chão fosse de gelo e o jogo fosse outro.
E o Estádio é rubro. Está cheio e a ilusão faz-nos brilhar os olhos. Vemos entrar a equipa, a única no mundo que nos faz uma vénia. Ouvimos o Luis Piçarra e batem-se palmas.
Aimar povoa a "cancha", como as lendas de Antonio Ordoñez ou Luis Miguel Domínguin numa arena, quando se enfrentavam num mano-a-mano, em Madrid, Sevilha ou Córdoba. O jogo parece realmente outro.
Pablito Aimar trata a bola com o carinho com que se fala à Mãe. Porque se lembra de El Pibe, de quando lhe dizia que "la pelota no se mancha".
Pega no capote, na muleta, e então começa a faena.
Pablo Aimar procura o touro. Cita o bicho. Fá-lo correr. Primeiro uma chicuelina. Cansa-o um bocado. Depois umas veronicas. O bicho não compreende. Pase de pecho e, para terminar, um passe de letra. O touro de língua de fora.

Dois amigos vindos da Argentina, de cachecol vermelho ao pescoço vieram ver o jogo. Estão à minha frente, na fila a seguir. Têm talvez 50 anos. Não me intrometo na conversa. Quero só ouvi-los. Ver o que dizem. Reconheço imediatamente aquele sotaque do espanhol açucarado. Italianado, abrasileirado, até. Que adoro.
Pablo Aimar vai marcar um canto. A bola debaixo do braço. É dele. Todo o Estádio se levanta. Gratidão como esta.
À minha frente, os dois amigos comentam: "Mira, la alegria del pueblo !"
Pablito chuta de canto, Luisão entra ao primeiro poste e... Golo !
Tudo rebenta. Os dois amigos também se abraçam. Um diz para o outro: "Assí, si."

La alegria del pueblo. Que vem dos campinhos de Buenos Aires.
Aimar sabe fazer sonhar, que foi esquecer o drama dos dias tristes, sombrios e sem dinheiro. E o povo sonha e agradece o milagre daquelas horinhas em que este menino pega na bola com pezinhos que são colheres e diz "Deixem a crise", e se entretém a regalar-nos magia. E a gente canta ao nosso 10 ...
Aimar (ontem) não marcou. Podia. Duas ou três vezes. Mas quis sempre tratar a bola com um bocadinho mais de amor. Ninguém empacienta. El Mago pode sempre fazer-lhe o que quiser. É o lado belo. Poético. Romântico do futebol. Em Portugal só aqui se joga assim.

E é sempre por isto que, depois, há uma menina de 4 aninhos, às cavalitas do seu pai que responde "É o Pablito !", quando queriam saber-lhe o jogador preferido. E quase fez três homens chorar, que um homem não é de ferro. Linda. E o Benfica enche Lisboa e tudo avermelha.
Há qualquer coisa de muito badocha no Porto.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Indigestão

Nada a fazer quando se apanha um filme chato. Como a salmonela.
Não há bicarbonato de sódio, água das pedras, elenco, palma de ouro em Cannes ou crónica dos intelectuais de serviço que o resolva.
Só esperar que passe.


sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Os telhados de Lisboa III



Adorava, mas não podia. No estrangeiro. 
Respondia quando lhe perguntavam se era capaz de viver fora de Lisboa.
Às vezes até bebia o perfume venenoso das outras. De Nova Iorque que não se cala, ou de Paris que é sempre linda. Também Roma por parecer tanto connosco ou (sonho !) Buenos Aires se pudesse viver sempre apaixonado.
E por isso adorava, mas não podia.
Não podia deixar Lisboa, renegar a única cidade que era sua. A sua. Porque só pensava na falta que lhe fazia só a ideia. Nesse quase terror de ficar sem ela.
Deitar junto ao rio. Na rua que à noite sobe ao Chiado, e que desce durante o dia para o Cais do Sodré. A rua de arbusto. De hotel. Do Alecrim. Não a podia perder.

Acordar nos telhados de Lisboa. Ao lado dela. Ficar sem os telhados. Sem os bocados que conhecia, estes bocados que trepam uns pelos outros. Onde gosta de trepar. Que sempre trepou. Aliás, adorava telhados. Desde pequeno. Mas só os telhados que vêem luas, que sabem cantar e dizer poemas. Que bebem e também choram. Não podia. Que fazia depois ?
Onde escorregava depois ? Onde é que depois deslizava nas ruas enoveladas da Mouraria ?, que metem para a Graça que avista tudo e é da Sophia, e dão no Chapitô. Que desaguam depois para os lados, para baixo, para a Baixa, e sobem outra vez pela Nova do Almada, das livrarias, do velho Tribunal da Boa Hora, das lojas néons, de hotel com vista para a cidade, para parar e beber ali ao final da tarde, no Largo Camões.
Perder o calor quando é verão e a luz que ela expulsa, que ela expulsa. Que despeja. Que vem da limpeza respirada do oceano. 
E perder a torta Calçada do Combro onde à esquerda repousa um Adamastor cheio de barbas.
Lisboa. Belém tão boa de manhã. E a Marginal ? dos comboios sempre ao lado, a chegarem sempre primeiro, onde ficava depois ?
Isto é amor. E, por isso, embora às vezes sofresse do mal de todos os viajantes quando regressam a casa, a saudade do charme (impulso de partir) que o exotismo viperino do novo todavia nos lança, não podia. Gostava demasiado dela.


quinta-feira, 18 de agosto de 2011

terça-feira, 16 de agosto de 2011

A música do Avô - XIX

A noite passada acordei com o teu beijo
descias o Douro e eu fui esperar-te ao Tejo
vinhas numa barca que não vi passar
corri pela margem até à beira do mar
até que te vi num castelo de areia
cantavas "sou gaivota e fui sereia"
ri-me de ti "então porque não voas?"
e então tu olhaste
depois sorriste
abriste a janela e voaste

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Cartaz com o melhor Look do ano

Paredes de Coura, 2011

It's the Democracy, stupid !

'The Independent', 12.08.2011

Freedom of speech. É um hábito que eles têm.
Alguém está a ver o PM David Cameron a perseguir judicialmente o cartoonista, ou algum jornalista, que o responsabilize pelo que se passa em Londres ? É um hábito que eles não têm.
Pois, mas tem sido prática no moralista Portugal.

Marabunta

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O filme de não-Verão

E ainda bem.


Se alguma coisa nos pode ensinar um filme que mostra até onde pode ir a injustiça de um processo e de um julgamento (ainda que não totalmente ficcionados), é que na vida real não há limites para a ficção quando se trata de procurar "a verdade".
Porque a verdade não é aquilo que existe ou aconteceu. Muito menos num Tribunal. É aquilo em que se acredita ou quer acreditar.


Fabulosa Robin Wright.

De como regressar a casa

"I watched him waiting impatiently, his eyes never leaving the bull, while he noticed, analysed, thought and planned. He told Juan where he wanted the bull placed and then he went out and took command of the bull with four low passes; his left knee, foreleg and ankle on the sand, his right leg exposed as he wove the bull back and forth with the magic of his muleta, promising him everything, offering him a target, and suavely and gently showing him that this part of the game of death did not hurt nor punish.
After these passes the bull was his and he resumed the course of showing the public what a great artist who was brave and knew bulls could do with a real bull with sturdy, long and deadly horns. He showed them all the classic passes with no tricks nor fakes nor any compromises, passing the bull as close as Jaime had but with control at all times. When he had shown them everything and how close and purely and slowly it could be done he finished off with a final pase de pecho and then lined the bull up, said good-bye to him with a final lift of the muleta, lowered it and furled it, sighted high along the sword and went in perfectly over the huge horns and the bull came out dead from under his hand while the crowd went mad."

'The Dangerous Summer', Ernest Hemingway

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Reflexo

Há um carro quase igual ao meu.
A mesma marca, o mesmo modelo e ano. Do meu pai. 
Só a cor é que não. E a matrícula.
E, no entanto, quando me sento nele é como se lhe calçasse os sapatos. Largos e moles. Sempre foram.
Pneus, assento, pedais, caixa de velocidades.
Tudo no carro é mais largo e mole.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011