sábado, 30 de outubro de 2010

O Sofá Comunitário

Há um Sofá no Restelo.
Há um descampado no Restelo.
Um descampado. Um quadrado de terreno de quase ninguém e que conseguiu fugir à construção e às ideias revolucionárias. Quase um baldio. Onde as pessoas levam os cães a fazer cócó.
Esse descampado, onde crescem ervas rebeldes e sem regras, em frente à minha janela, ninguém parece que o quer e, no entanto, todos lá vão. Parece eternamente esquecido pelas imobiliárias, ou embargado (mas não há cartazes que o anunciem) e pela Câmara que não vê ali um jardim, nem se lembra.
Mas agora este quadrado de terreno, quase um baldio, tem um Sofá. Velho, coçado, rasgado e com molas soltas.
Tem nele escrito o nome de "Kit Sofá".
Apareceu um dia, levado talvez por alguém que achava que era melhor ali. Do que numa lixeira ou, como dizem agora, num aterro. E como niguém parece que queria o descampado, foi para ali.
O baldio, afinal chamo-lhe baldio, é em desnível. Um pequeno monte em cima de rocha em frente à minha janela.
E o Sofá agora instalado, repimpado, salvo da morte que os outros móveis da casa lhe adivinhavam, no cimo deste monte, olha para todo o lado e vê a ponte e rio.
E eu entretenho-me a ver os putos ir para lá, para cima do Sofá. O Sofá Comunitário. Onde, outras vezes, param casalinhos de namorados, ou antes de o serem, deixando morrer o tempo que têm de sobra, depois de uma balda às aulas da tarde. E miúdas que vão falar dos rapazes.
Gosto deste Sofá. Da sua poesia, da sua vontade. De ter contrariado o destino que era devido, do que está usado e já não serve. Afinal serve.
No meio da cidade, no meio da capital, no meio do meu bairro.
 (rasputine)

P.S. Hoje acordei e já lhe tinha nascido uma mesa e um colchão com o símbolo do Woodstock para companhia. Qualquer dia temos uma sala completa, com cortinados e tudo. E isso é lindo !

femme fatale

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Cavaco anuncia recandidatura

Palavra que achei que não tivesse coragem.
Mas agora já está. Acabou o tabu. Sempre o tabu. Claro que tabu.

Vou alistar-me. Como voluntário. É que isto para mim é guerra.
De outra maneira só sai de lá quando a minha miúda tiver 10 anos feitos (!) e isso é criminoso.



Agora mais a sério,
não vou falar da pobreza do discurso, aliás tão condizente com a personalidade do Senhor Professor, ou do silêncio sereno e discreto (palavras que ele gosta) a que se remeteu sempre que pôde durante este mandato.
Direi apenas que a notável e lamentável falta de memória dos portugueses não devia fazer esquecer o acto mais espúrio que a nossa democracia viveu desde que é gente: o caso das "escutas" em Belém, de que é totalmente responsável, por acção, ou omissão, mostrou o que pode haver de pior num regime político.
Ou bem que o Governo espiava o PR e isso era da máxima gravidade e então teria que ser levado às últimas consequências, ou o PR (por si ou através dos seus) montou uma (desajeitada) estratégia de sabotagem do Governo - que foi o que me pareceu - e então também teria que haver as mais severas consequências com demissão do responsável (ele próprio) e não do seu assessor.
Mas não. O que fez foi uma declaração ao país, tonta, em que veio falar dos seus receios quanto à vulnerabilidade do sistema informático da Presidência (?!).
Isto não revela coragem. Revela muita cobardia.
Não revela sentido de Estado. Revela alguém que se agarra ao cargo.
Revela alguém que não serve os portugueses, mas ele próprio e os seus interesses.
O Senhor Professor pode ser o presidente de todos os portugueses, mas nunca será o meu presidente.

O Grande Casino Europeu


El gran casino europeo from ATTAC.TV on Vimeo.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

"Castas e Pratos"

No Norte come-se sempre bem. É indisputável.
E tratam-nos (quase) sempre bem. O que está entre parentesis vem da memória. Que não esquece as duas vezes que fui ao antigo Estádio das Antas. Ver o Benfica.
Mas come-se sempre bem.
A última vez, foi na Régua, ou Peso da Régua, é igual.

Chama-se "Castas e Pratos" e é aquilo a que os donos chamam de um "wine bar". Recuperaram um dos antigos barracões da C.P. e instalaram-se exactamente na estação de comboios da Régua. Claro que só por isso já valia a pena lá ir. As traseiras do restaurante (onde também há mesas), dão directamente para a linha de comboio de onde parte regularmente a velha locomotiva. O maquinista enche a caldeira de carvão, cheira-se o vapor e soa o apito. Põe-se em marcha o comboio que segue a linha do Douro.
Mas isto são os comboios e eu adoro comboios.

(rasputine)

No "Castas e Pratos" comer sabe bem. As paredes no andar de baixo estão cercadas de armários (com porta de rede) carregados de garrafas de vinho. Um tipo sente-se confortável e calmo. Os sócios vêm falar connosco, sem chatear. E os empregados ajudam.
E agora sempre que alguém me diz que vai passear ao Alto Douro Vinhateiro, eu respondo: "Castas e Pratos".


domingo, 24 de outubro de 2010

O melhor Exílio de sempre - parte II

Tarde boa. O Sol parece do S. Martinho.
Vamos para a avenida de Roma. O puto às cavalitas, a meter-se com todos e a empinar-se sempre que vê um autocarro, e a miúda aos saltinhos e de mão dada às nossas. Come um scone no Café do Tintim. Livros depois na Barata. O rapaz excitado com um em forma de carro de bombeiros. 
'Bora. Ficam em casa dos avós. É para isso que eles são. Para as dobras. Quase nove e meia.
Croquete, sandes de frango e imperial no Nova Ipanema. Mesmo ao lado do S. Jorge. Que agora só dá filmes quando é para o Indie, o Doc. ou outro festival.
Linda. A sala 1. Segundo balcão, palco e cadeiras acabadinhas de estofar.
Muitos índios, muita rasta. Miúdas freaks de óculos redondos e cabelo vermelho. Tipos que estudam... alguma coisa hão-de estudar.
Começa logo. A abrir com "Rocks Off". As razões do exílio em França. As finanças do grupo num caos. O Fisco à perna. Dívidas. Os Rolling Stones em Nellcote. Uns mais felizes que outros.
Keith. Tudo gira à volta de Keith. A música, a casa, o grupo, os convidados, os amigos, os penduras, a droga, o álcool. Keith é senhor. Do colchão. Também do improviso. Uma espécie de músico de jazz.
Mick casa com Bianca em San Tropez.
Charlie Watts queixa-se das curvas e das estradas. Bill Wyman lamenta a falta de Heinz Baked Beans. Vão, mas contrariados.
Em Nellcote instala-se uma multidão. É uma tribo. Há crianças pela casa, colchões espalhados, garrafas de Jack Daniels, e guitarras.
Arranjam uma cave. É lá que gravam. Uns num corredor, outros nuns quartos, e outros numas salas. O equipamento está espalhado. Os fios e os cabos percorrem a casa.
Keith levanta-se sempre às oito da manhã para estar com a mulher e o filho. À tarde começa a deitar acordes. À noite vão para a cave. O ruído é brutal. O processo criativo, lento e desorganizado. Mas juntam-se as peças em múltiplos takes. Ouvidos até à exaustão.
Mick (Jagger) diz que vale tudo para acabar uma letra, até escreverem várias frases soltas em papelinhos que tiram ao calhas para ver no que dá. E dá. "Loving Cup", "Let it Loose", "Sweet Virginia".
O tempo passa, o álbum esgota-os, há miúdos de oito anos que enrolam charros para os mais velhos e heroína em cima das mesas. Orgia monumental. "O Mick é o rock, e eu sou o roll", chuta Richards.
Setembro de '72. Já passaram 6 meses e recebem avisos de que a polícia os vai prender. Nostalgia de fim de festa. Vão para Los Angeles acabar o disco.
Robert Frank faz as fotografias para a capa. Tudo embrulhadinho e pronto para as Billboards.
É mais um disco dos Stones, mas este já fez história.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Uma mulher bonita


Mariana Rey Monteiro

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O melhor Exílio de sempre

Nenhuma ocasião é demais quando se trata de celebrar os Rolling Stones.
Hoje e dia 23, no Doc.Lisboa (no Cinema S. Jorge) é exibido o filme "Stones In Exile", um documentário que coloca em fita o ano em que a banda fugiu de Inglaterra para a Vila de Keith Richards em busca de melhores inspirações.
É aí, no Sul de França, naquilo que só podia ter de decadente, entre muita ganza e álcool de virar um corpo, que nasce um dos melhores álbuns de sempre dos Stones, e hoje um clássico de qualquer discografia que se preze. O "Exile On Main Street".
Um álbum que, além de temas como Let it Loose (pessoalmente o meu preferido), nos atira canções como Torn and Frayed.
Rock em estado puro que deve sempre ser ouvido.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Situação política da República

"Why do we always come here
I guess we'll never know
It's like a kind of torture
To have to watch the show"


segunda-feira, 18 de outubro de 2010

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Fotogramas

[jose valdelomar]

Compreendia agora. A vida era um jardim enorme. Um mundo maravilhoso. Cheio de berlindes. Um local de experiências vividas. Passeava nele. E nele se entregava, ao perfume e cores inevitáveis que recebia sempre que saía. A que se expunha. Completa e totalmente. Feridamente.
Estrelas de oportunidades. Que absorvia e respirava e passavam a ser suas num cardápio que não tinha conta. O oxigénio novo de uma flor, de uma ideia, de uma imagem, de um som, de uma palavra. Sorvia tudo, mas não apanhava. Não colhia.
Dava umas passas profundas, mas não deixava que o cigarro chegasse ao fim. Vivia no travo incompleto e perfeito da saudade. Morria amando antes de acabar.

NATO OUT !



terça-feira, 12 de outubro de 2010

but some don't


Sunrise doesn't last all morning,
a cloudburst doesn't last all day
Seems my love is up and has left you with no warning
But it's not always going to be this grey

All things must pass,
all things must pass away

Sunset doesn't last all evening,
a mind can blow those clouds away
after all this my love is up and must be leaving
It has not always been this grey

All things must pass,
all things must pass away
All things must pass none of life's strings can last

So I must be on my way and face another day
Now the darkness only stays at nighttime,
in the morning it will fade away
Daylight is good at arriving at the right time
It's not always going to be this grey

All things must pass,
all things must pass away
All things must pass,
all things must pass away

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Mamma Roma

(rasputine)

A única forma de um coxo (meio louco) percorrer Roma é de Vespa. Não é que não haja outras maneiras, mas a única forma de um coxo (meio louco) percorrer Roma é de Vespa. Oiço o médico, você é louco ! neste estado ? a Roma ? de Vespa ? você é louco.
Não adio outra vez e como não dá para andar, alugo uma bengala a motor. A partir de uma certa idade um homem tem o dever de zelar pela sua integridade física, lá diz o médico outra vez. A Roma, de Vespa, neste estado ? você é louco.
Pois. E continuar provavelmente a dar chutos na bola, e um dia mandar-me de pára-quedas e pegar nos miúdos às costas e levá-los ao Pico, e rebentarem-me os joelhos, e estalarem as vértebras, só para eles verem aquele bocadinho de céu, aquele bocadinho de Deus.
Pois, Grande Chefe, vai ter que ser, mas esteja tranquilo que a cicatriz que fez com o canivete será bem tratada, não se preocupe e vou chegar melhor do que fui.

Pego na 125, muito mal tratada, amolgada, direcção torta e pesada, espelhos que não servem, travões que só muito apertados. Parece a minha perna. Mas não derrapa, nem quando caem umas gotas que ensaboam os paralelepípedos que se espalham nas ruas. Aqui não me querem mandar ao chão. Os carros. E ela aguenta-se bem. É responsável.
Percebo Roma ao lungotevere e daí entramos onde queremos. Café no "Rosati", café no "Greco", ou num qualquer do Campo dei Fiori. Ao lado do Cinema Farnese que exibe "O Segredo dos Seus Olhos". Só não entro porque deve estar dobrado. Café e um cigarro aceso no fósforo do restaurante do outro dia. 
Trastevere, o bairro alto aqui é baixo, dizia o Mega Ferreira. É a quarta vez que venho e só agora a começo a conhecer. A bengala a motor é que faz isso tudo. Obrigado, garota.
Dói-me o negro da barriga da perna. Faz com que durma não sei como. Se estivesse aqui o tipo que me espetou a chuteira dizia-lhe duas. Aguenta, senão o médico é que tem razão. O buraco está menos buraco. Da perna, porque nas ruas são tantos que é um milagre não ir ao chão. Mas aqui não é Lisboa. Roma em Lisboa é que era, oiço dizer. E as romanas estão lindíssimas.
O dia cinzou e entro na livraria Fanucci. Há um livro do Pratt na prateleira. Tantos prats. Caro. Mas não vou pensar nisso quando estiver-lhe a ler as páginas e desenhos a preto e branco. E um dia dou-o aos meus filhos. Em Portugal nunca o editaram - "WWII, Storie di Guerra". Vem comigo italiano.
Os monumentos cá continuam, mas já não me interessa nenhum, embora lhes sentisse a falta a todos. Só me apetece as ruas. Sujas. E os Cafés. E almoçar, outras vezes jantar. Conversar. Cláudio, o taxista. Da Lazio. Michele, o recepcionista. Cristina, a cozinheira. Ver livros. E livrarias. De cinema. E trazer coisas para os putos. Está calor e ando de t-shirt na bengala a motor. Porque sabe bem. Não ter só a perna a chatear. E aqui não me querem mandar ao chão. Aqui não pode ser, que aqui ainda tenho o médico na cabeça.
E aqui nem buzinam. Só querem passar.


Roma é uma cidade decadente, diz-me o senhor de 50 anos que me ajuda a puxar a mala. Respondo que foi sempre assim. Por isso é que é eterna.
E Berlusconi, o caimão, ainda manda.

(rasputine)

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

no bolso


"Mas também é verdade que, no sentido mais comum, a corrupção não existe em Roma, como disse Pasolini, «porque para haver corrupção é preciso que tenha havido pureza a corromper - e Roma nunca foi uma cidade pura»."

António Mega Ferreira

terça-feira, 5 de outubro de 2010

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

"Vacanze Romane"

Um filme um bocado ridiculo, do tipo conto de fadas, naquele estilo hollywoodesco romântico de quem vem conhecer a Europa antiga. Ela é uma princesa (e não é metafora) e ele jornalista. Paparazzo. Mas ele não sabe que ela é. Ela decide fugir dos claustros onde a submetiam. E vai aventurar-se. Encontram-se sem se saberem.
Ela, como toda a princesa, não tem dinheiro; e ele, como todo o paparazzo, persegue a princesa, que nao é ela. Não pode ser. Uma plebeia, sem cheta, que encontra perdida na cidade ? Sozinha ? Naaa...
Mas dá-lhe boleia que é bonita. Quase bela. Uma amorosa Audrey Hepburn agarrada (de olhos fechados de medo, vejam bem !) na cintura do bem falante Gregory Peck. Deslizando  em redor do Coliseu. 

domingo, 3 de outubro de 2010

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Um palco não estado

com bilhetes oferecidos (!), que davam para sentar a perna ....... mas nada a fazer quando há um sítio primeiro para estar.


Foto: Colm Henry.

Fica para a próxima, rapazes.