domingo, 31 de julho de 2011

Luto

Comprou o jornal não porque o quisesse ler.
Só lembrar-se dele.
Queria ler as letras do cabeçalho e olhar para ele.
'El País', que colocou com jeito em cima dos outros já lidos.
Agora sim. Olhava para o jornal e via-o a ele.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Working Break ?


O sítio que faltava no Bairro


[rasputine]

Tropecei neste sítio numa cidade do interior, antes conhecida pela força da produção dos têxteis, hoje por ter sido onde nasceu o ex-PM, ou por qualquer outra coisa sem interesse. Para mim o sítio certo num dia seco e ice-cold de inverno com o sol por cima da Serra.
Tínhamos ido cumprir o ritual católico de enterrar a última Avó. A velha Avó. A Avó rija. A Avó dura de sorriso triste. A quem nunca esqueci um beijo, sempre que tinha tribunal na Covilhã. Dizia-lhe: "venho fazer uma visita de médico, embora seja advogado", piada que era do Avô do Porto que era de Lisboa. Ela sorria, triste, fazia-me uma festa na cara com a mão óssea. Que eu era "uma jóia". Oferecia-me um licor. "Não Avó, vou conduzir." "Então, um vinho do Porto.", insistia.
Tropecei numa loja que não é loja, é arte.
À saída da Capela mortuária, depois de me desenfiar do velório, entrei na

Fora de Serviço
http://www.foradeservico.com/

Andei lá por dentro a pegar em coisas, todas originais, todas objectos banais, salvos da rua, transformados noutras coisas, adaptados, trocados da sua função, pensados, criados.
Conversei bastante com o dono - tipo de 30 e poucos - que se queixava da falta de negócio. Disse-lhe que tinha que vir para Lisboa. Que conhecia um sítio perfeito.
Quis trazer um disco de vinil que eles tinham moldado com calor e feito pote. Como sou chato, pedi se não colocavam uma outra label no centro do disco diferente da que estava: Led Zeppelin II.
"Sem problemas." Então fica com a minha morada e manda-me por correio a cobrar no destinatário, ok ?
A Loja que não é loja, porque é arte, e como é arte e não é loja, não se preocupa com miudezas. Não me enviou nada e já lá vão meses.
E assim, a loja que não é loja, nunca vai ser loja e... explica bem o nome.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

terça-feira, 19 de julho de 2011

Fuck moody's. We are Meco.

Ao fim de dez minutos no Cabeço da Flauta, já temos a pele curtida pelo pó. Mas pó só há mesmo para quem não o consegue engolir e continuar de ouvidos abertos.
A primeira estação é no fazedor de canções: B Fachada.


Já tinha começado.
Fala do Sérgio Godinho e do Chico Buarque, dos amigos da Flor Caveira, de colecções do Vinicius, e de artes de prestidigitação.
P-R-E-S-T-I-D-I-G-I-T-A-Ç-Ã-O. Um gajo que canta uma palavra destas e não se engasga, tem de ser especial.
Com ar descontraído, B Fachada salta de olhos fechados da guitarra para as teclas. E das teclas para a guitarra.
A certa altura fica irritado com o som. Queixa-se para alguém da muralha de feed-back dos baixos. Alguém lhe diga que era tão forte que nos electrificou completamente o corpo quase nos empurrando para trás.
O concerto termina ao lusco-fusco.
A cerimónia está perto de acontecer. Religião.


Uma Lua já por cima de nós. Enorme, redonda e perfeita. A pedir para cantarem para ela. Para irem para o espaço com ela.
Inspiradíssimos, os Portishead mostram-nos porque tratam a música com pinças. Com o carinho reservado aos amantes. Porque entramos numa liturgia. Sagrada. Não é para estoirar de repente, nem ouvir-se a correr. Temos que a deixar penetrar. Começa quase sussurro. E quando nos entregamos ao som que produzem, é já tarde. Reféns para sempre da noite. Do lado negro da Lua.
No palco, Beth Gibbons, a feiticeira, desfia-se. Canta tudo o que tem de tocar. Em choro. Em prece. Despe-se, fímbria por fímbria. Despe-nos da alma. Arrancada com doçura. E isto é The Rip. Que não é só sublime. É monumental. De mergulhar para sempre na escuridão de um mar nunca estado e querer ir mais ao fundo. Até onde as profundezas nunca terminem. Mergulhar, mergulhar, mergulhar. A partir desse momento, já somos dela. Não queremos mais nada.


E quando nos julgávamos musicalmente dormentes. Noutra dimensão, impossíveis de tocar, quase prontos para pedir o fim, eis que aparecem 8 tipos malucos no mesmo palco onde 30 minutos antes imergíamos  para nunca mais.
Quando se falar do ano da crise em Portugal, do ano Troika, quando se falar do Meco '11, vai querer dizer-se: "Eu estive lá."
Acto 1: Portishead. 
Acto 2: Arcade Fire.
Os AF são um grupo janado de oito músicos. Multi-instrumentistas todos. Todos tocam mais que um instrumento durante o concerto, o que eu acho lindo. Tão depressa na guitarra, como no baixo, e depois na percursão, nos violinos ou num órgão. De tudo saltam e se decompõem em permanência, em estado de euforia musical.
Quando não era possível pedirem-nos mais nada, estes malucos rebentam com tudo.
Obrigado NATO. Cancelarem o concerto de Novembro foi melhor que a encomenda. A energia orgásmica do vulcão só aguentou o tempo necessário para explodir a rolha forçada.
E embora o joelho direito gritasse há tempo, temos de ir para o palco com eles.
Porque isto é o Meco. E podemos encontrar no meio da multidão escura de cem mil caras sem nome, um grande amigo que não víamos há mais de 15 anos. Quais são as probabilidades de isto acontecer?
"Uma para 30 mil.", diz o gajo. Não. Mais. Muito mais.

São 3h30m.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Fuck moody's, We got Meco !

Lisboa, sexta-feira

7h45 - O próprio a desencarcerar-se para fora da cama. Véspera a jogar ao futebol da meia-noite. Derrota por 2-1. Eliminados e para o ano há mais. Cama, só a das duas da manhã. Por isso, sexta, o próprio a desencarcerar-se para fora da cama.

8h00 - O pai toma um duche, prepara os pequenos-almoços e leva a miúda à escola que é o último dia. Bagunça geral e beijo. Molhadíssimo.

9h00 - O advogado chega ao escritório. Pensa nos problemas do dia. Arregaça as mangas, começa a bulir. Lembra-se de fazer um último articulado para entregar na audiência das 13h30m. Arguir uma nulidade. Discute-o com o colega dos cabelos brancos. Vou levar sopa. Tudo bem. A gente só recua para tomar balanço. 

13h30 - O advogado (togado) entra no Tribunal. O cabelo não disfarça o stress antecipado. Audiência. Pega monumental com a Juíza. Ai, Senhora Juíza, semi-deus a quem Deus não perdoa ! Sentença condenatória. Vai ter recurso. Vai doer. E não vai ser bonito.

17h30 - O advogado (com a toga revoltada e amarfanhada) regressa ao escritório. Já não faz nada - só pensa no caso - mas despacha umas coisas.

19h00 - Freedom ! Mete a roupa num armário do escritório e veste uma t-shirt. Calça uns ténis e fica com os pés subitamente mais calmos. Arranca na Vespa e vai buscar a garota. Que lhe dá seca.

19h45 - Não pára. Filas logo à saída, mas a Vespa nunca pára. Alguns buzinam. Não sabe se para si, se uns com os outros. Buzina também como resposta. Vê risos naquelas cadeias com rodas. Outra vez o Fernão Ferro dos cães de loiça à beira da estrada, mas repara também nas casotas e nas lareiras. Tudo à beira da estrada a assistir ao desfile para o Meco.

19h55 - Chegam ao Meco. Primeiro à casinha. Aquela é a casinha. Do ano passado. Da Susaninha. Amiga boa. "Tomem a chave. O cão não morde." Nem assusta. Dorme refastelado à soleira da porta. Nem os sente entrar. Ou se sente já se está a cagar. Sacana na reforma ! A mochila chutada para o canto.

20h05 - Alfarim, uma miúda que implora: "Leva-me !", imensa gente no meio da Nacional. Vêm da praia. Do campismo. Alguns até trazem geleiras. Vão para o Cabeço da Flauta. Tudo louco. Enchem a berma, saem da berma, enchem a estrada, contornamos tudo, sempre com um olho 100 metros à frente para não chocar com ninguém, e outro feito radar para todo o lado como o camaleão. GNR's. E nós sempre a passar. A assobiar.

20h15 - Parque das motas, mesmo em frente à entrada. Ahhhh... Entrada. Desculpa, onde é que é o Palco EDP ? "O Senhor vai por ali..." Merda ! Devo estar mesmo velho. "Não me podes tratar por outra coisa ?" Um gajo chega aqui depois de um dia de morte e é logo ofendido. Devo estar mesmo velho. "O menino vai por ali..." Nada a fazer. Geração morangos, betosa ! Onde é que fica o "TU" no meio disto ?

Bem, sai da frente, que agora vai tocar o B Fachada.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

terça-feira, 12 de julho de 2011

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Há mais vida para além d'Alive



Mas não é só.
Diego Fusão é flamenco mas não só.
Tango que bolera. Tango que jazza. E tudo flamenca novamente. De uma garganta - El Cigala - que canta, de quando isto era uma província do mundo árabe, do reino de Al-Andalus.
E nós calamos e escutamos. Para entrar bem.
Ayer. No Cascais Cool Jazz Fest.

domingo, 10 de julho de 2011

A música do Avô - XV


Mao c'était le nom de ce Viking flamand
Le tissu d'esquimau vieillit beaucoup plus vite
Des plaies sur des grabats du Chili à Lisbonne
S'exténuaient en équations de cicatrices

[Words... Words... Words...]

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Psycho Killers = Serial Killers

Key Drivers of Moody's Decision to Downgrade Portugal to Ba2 from Baa1


On 5 July 2011, we downgraded Portugal’s long-term government bond ratings to Ba2 from Baa1 and assigned a negative outlook. Concurrently, we also downgraded the government's short-term debt rating to Not-Prime from Prime-2. This rating action concluded the review of Portugal’s ratings that we initiated on 5 April 2011.
The rating action was driven by two closely related considerations:

» The growing risk that Portugal will require a second round of official financing before it can return to the private market, particularly if the country were to suffer contagion from a disorderly Greek default, or merely from the growing likelihood of a default. Such contagion would meaningfully change the risks for investors that currently hold Portuguese bonds given the increasing possibility that private sector creditor participation will be required as a prerequisite for any further finance.
» The heightened concern that Portugal will not be able to fully achieve the deficit reduction and debt targets that are required to stabilise its debt position, as set out in its loan agreement with the European Union (EU) and International Monetary Fund (IMF).

This concern is driven by the formidable challenges the country is facing in reducing spending, increasing tax compliance and achieving economic growth (and addressing the related longer-term solvency concerns) and supporting the banking system.
The negative outlook on the rating reflects Moody’s view of the implementation risks associated with the government’s ambitious plans.
The purpose of this Special Comment is to provide further insight into our views and the analytical considerations that drove the decision to downgrade Portugal’s long-term government bond ratings to Ba2.


Por favor, nem toda a gente é estúpida. Ouvir Nicolau Santos.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

terça-feira, 5 de julho de 2011

Midsummer night's dream

Vi-te quando eras pequena.
Tinhas um vestidinho comprido e às flores. Reconheci-te logo por causa do cabelo. Corrias feliz de um lado para o outro numa praceta e davas saltos. Acho que havia uma igreja.
Não tive coragem de te interromper o momento. Fiquei quieto. Só a ver. Encostado numa pedra fria de granito de uma casa não sei de quem.
Mas tu, sei lá porquê, vieste falar com o estranho. Devo ter olhado de alguma maneira também estranha.
Não quiseste saber o meu nome. Perguntaste-me só se te podia contar uma história. Claro, miúda.
Contei-te uma. Que interrompias fazendo perguntas. Depois pediste outra. Ficaste muito calma, sossegada, quase dormiste.
Depois desapareceste.
Não sabia que se podia viajar no tempo.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

A música do Avô - XIII


Lado A                                                   Lado B


1. Singing winds, crying beasts               1. Se acabo
2. Black magic woman                          2. Mother's daughter
3. Oye como va                                     3. Samba pa ti
4. Incident at neshabur                          4. Hope you're feeling better
                                                                                 5. Ei nicoya

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Overdose

É difícil não ficar preso de vazio de outras coisas quando nos apanha uma avalanche.
Agarrado ao vinil como um doido, como o pior dos junkies.
E o pior é saber que não vou parar enquanto não os lamber a todos.