sábado, 23 de dezembro de 2017

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

domingo, 17 de dezembro de 2017

os putos no videoclube


também conta para abater na lista.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Paddington 2



Um dos milagres da paternidade: ficarmos fãs de um ursinho de peluche que vemos no cinema e que faz tudo por doce de laranja.

sábado, 9 de dezembro de 2017

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Depois venham-me falar de pressão


«Aquele é o Jim Brown, sussurra o meu pai. O maior jogador de futebol americano de todos os tempos.
É um bloco de músculos enorme, com roupa de tenista e meias brancas caneladas. Já o tinha visto em Cambridge. Quando não está a jogar ténis a dinheiro, está a jogar gamão ou dados - também a dinheiro. Tal como o meu pai, o Sr. Brown fala muito de dinheiro. Naquele momento, estava a queixar-se ao sr. Fong de uma partida a dinheiro que fora cancelada. Era suposto jogar com um tipo e o tipo não apareceu. O Sr. Brown está a descarregar as suas frustrações no sr. Fong.
Vim para jogar, diz o Sr. Brown, e quero jogar.
O meu pai aproxima-se.
Quer jogar uma partida?
Sim.
O meu filho Andre joga consigo.
O Sr. Brown olha para mim e depois para o meu pai.
Não vou jogar com um miúdo de oito anos!
Nove.
Nove? Ah, bom, não tinha reparado.
O Sr. Brown ri. Alguns homens que ouviram também se riem. É óbvio que o sr. Brown não leva o meu pai a sério. Grande erro. Basta perguntar ao motorista de camião que ficou estendido na estrada. Fecho os olhos e vejo-o, a chuva a bater-lhe no rosto.
Olhe, diz o sr. Brown, eu não jogo para me divertir, está bem? Jogo por dinheiro!
O meu filho pode jogar consigo por dinheiro.
Senti uma gota de suor a começar a descer pela axila.
Ah, é? Quanto?
O meu pai ri e diz: Aposto a merda da minha casa.
Não preciso da sua casa, responde o sr. Brown. Já tenho uma. Digamos dez mil dólares.
Feito, diz o meu pai.
Avanço para o court.
Calma, diz o sr. Brown. Primeiro quero ver o dinheiro.
Vou a casa buscá-lo, responde o meu pai. Volto já.
O meu pai corre porta fora. Sento-me numa cadeira e imagino-o a abrir o cofre e a pegar num monte de dinheiro. Todas aquelas gorjetas que o vi contar ao longo dos anos de trabalho, em todas aquelas noites de trabalho árduo. Agora vai apostar tudo em mim. Sinto um peso no meio do peito. Estou orgulhoso, claro, por pensar que o meu pai tem tanta confiança em mim. Mas, acima de tudo, estou apavorado. O que é que vai acontecer comigo, com meu pai, com a minha mãe e com os meus irmãos, já para não falar na avó e no tio Isar, se eu perder?
Já joguei sob este tipo de pressão antes, quando o meu pai, sem me avisar, escolhe um adversário e me ordena que o derrote. Mas é sempre outro rapaz e nunca há dinheiro envolvido.
(...) Esta coisa com o sr. Brown, todavia, é diferente, e não é só porque as economias da família estão em jogo. O sr. Brown desrespeitou o meu pai e o meu pai não pode pô-lo a dormir. Precisa que seja eu a fazê-lo. Por isso, esta partida é mais do que uma questão de dinheiro. É uma questão de respeito, virilidade e honra – contra o maior jogador de futebol americano de todos os tempos. Preferia estar a  disputar a final em Wimbledon.
(...)
O meu pai regressa. Traz uma mão cheia de notas de cem dólares. Sacode-as no ar. De repente, o sr. Brown muda de ideias.
Eis o que vamos fazer, propõe o Sr. Brown ao meu pai. Vamos jogar dois sets e depois decidimos quanto vamos apostar no terceiro.
Como queira.
Jogamos no court 7, logo à entrada. Juntou-se uma multidão, que aplaude quando ganho o primeiro set por 6-3. O sr. Brown abana a cabeça. Fala sozinho. Bate com a raquete no chão. Não está feliz, já somos dois. Não só estou a pensar, o que é uma violação da regra mais básica do meu pai, como a minha cabeça começa a andar à roda. Tenho a sensação de que vou ter de parar de jogar a qualquer instante porque preciso de vomitar.
Ainda assim, venço o segundo set por 6-3.
Agora o Sr. Brown está furioso. Baixa-se sobre um joelho, ata os ténis.
O meu pai aproxima-se dele.
E então? Dez mil?
Nem pensar, responde o Sr. Brown. Por que não apostamos só quinhentos dólares.»

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

"a vida é sempre a perder"


Zé Pedro
(1956 - 2017)

Tenho a sensação que hoje houve uma parte da minha infância e juventude que também morreu.
X

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Cold Facts


«Rodriguez has lived in the same modest Detroit house for over 40 years. He has no car, computer or even a television. 
(...)
"He once told me there's three basic needs – food, clothing and shelter."»

Rolling Stone, Março de 2013

sábado, 25 de novembro de 2017

os putos a devorarem Tim Burton


'Charlie e a Fábrica de Chocolate'

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Ballad of the Living Man

[foto: andré]

Somos um bicho engraçado.
Acho que evoluímos.
Camadas e camadas de novos eus. Como a casca de uma árvore ou uma cama sempre por fazer. Com memória e lençóis velhos a lembrar que ainda aquecem.
Evoluímos. Com erros e contradições. Aos solavancos. Ou quando ganhamos qualquer coisa. Mas aí bastante menos. Embora bom.
E mudamos, na construção incoerente e sobreposta do que fazemos e do que fazem connosco. Escolhendo direcções. E assumindo tudo isso. E como gosto que seja assim. Contaminando-nos com a beleza do que é dos outros e aperfeiçoando todos os dias o nosso bocado de madeira.
Também Josh Tillman.
Foi no que pensei enquanto ouvia Father John Misty a tocar no Coliseu.

Ballad of the Dying Man

domingo, 19 de novembro de 2017

The Party



Quando o cinema é teatro apetece bater palmas no final.
E se o Carlos Paredes toca no gira-discos do inglês é caso para o fazer de pé.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

"desenhar é uma actividade erótica"



Paula Rego é uma contadora de histórias, e segredos.

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Rage, rage against the dying of the light.*




Come on, boys !

* 'Do not go gentle into that good night', Dylan Thomas por Brendan Gleeson.

Mamma Mia !


Itália 0 - Suécia 0

(Gianluigi, talvez o único que não merecesse)

sábado, 11 de novembro de 2017

terça-feira, 7 de novembro de 2017

"It ain't fair"

Brutalidade. Anos após anos. Iam-se as vidas. Segregação. Ainda hoje.
'Detroit' até já nem está em cartaz, mas com uma faixa destas na banda sonora quase não precisa.



quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Soul meets Soul



Blade Runner



Blade Runner 2049

terça-feira, 31 de outubro de 2017

"Así, no, Carles"


«Uma declaração de independência que não foi, porque seguiu-se a respetiva suspensão, tem agora uma independência que não o é, porque os independentistas vão a eleições que, afinal, lhe são permitidas pelos colonizadores, que não o são. Nem burlesco de Cervantes nem surrealismo de Dalí, mas, como prova de que o nacionalismo, hoje, está ultrapassado, uma chanchada brasileira. Catalunha merecia melhor. O líder que a atrapalha, Carles Puigdemont, fugiu para o exílio, numa fuga desnecessária para um exílio inexistente. Foi para o exílio em fins de outubro, para um provável regresso a meados de dezembro para votar e ser votado. Exílio é outra coisa, não tem prazo de validade nem a certeza de votos. Exílio viveu-o o socialista madrileno Largo Caballero, presidente do governo da República espanhola, que com a vitória de Franco foi levado para o campo de concentração nazi de Sachsenhausen. E viveu-o o republicano catalão Lluís Companys, presidente da Generalitat da Catalunha, entregue pelos nazis a Franco e fuzilado. O exílio de Carles Puigdemont é coisa para rir, é um insulto aos verdadeiros exilados espanhóis da trágica história recente. É como comparar a livre, democrática, autónoma e progressista Catalunha a países colonizados e ocupados. Nenhuma das hipóteses com que Puigdemont contava aconteceu: nem a independência surtiu nem os tanques vieram... Restava-lhe a fuga para a frente. Partiu, com uma decisão categórica tão rara nele, para um exílio de comédia.»

"É trágico tanta comédia", por Ferreira Fernandes, in DN

Foreign Affairs

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

terça-feira, 24 de outubro de 2017

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

I'm The Beatles White Album


You contain multitudes. A lot of people like you, and with good reason. The White Album contains some works of true musical genius, and you are a human with some amazing qualities. But both the album and you vary so widely that it’s nearly impossible to categorize you.
You can be silly, repetitive, ambitious, lively, arid, or fractured all at once. Some people might wish you could pick one thing and stick to it, but you can’t help but be true to yourself, in all your chaotic, full glory.

domingo, 15 de outubro de 2017

sábado, 14 de outubro de 2017

"Sócrates não merece cair sozinho"

Resultado de imagem para all the president's men gif

«Não se enganem: aquilo que ficámos a conhecer não foi a acusação de José Sócrates, mas a acusação de um regime inteiro. Um regime composto por um povo alheado e dependente, um poder corrupto, uma justiça amedrontada e um jornalismo manso. Sem esta triste conjugação de pobres qualidades, José Sócrates poderia sempre ter sido eleito em 2005, mas jamais seria reeleito em 2009. É evidente que existe gente indecorosa em qualquer parte do mundo, mas nos países bem frequentados as instituições não falecem todas ao mesmo tempo. Infelizmente, durante a era Sócrates, tudo faliu, até finalmente falir o país. Tirando duas ou três dúzias de teimosos que insistiram obsessivamente que o rei ia nu, demasiadas pessoas em lugares de responsabilidade ou não viram o que se estava a passar, por serem pouco espertas, ou não quiseram ver, por serem pouco honestas.
Neste momento marcante da História de Portugal, em que um ex-primeiro-ministro é acusado de 31 crimes de corrupção, fraude fiscal, branqueamento de capitais e falsificação de documento, convém recordar que José Sócrates não caiu da tripeça por causa dos portugueses, que finalmente perceberam quem ele era. Caiu por causa da crise internacional, da falência do país e da vinda da troika. Sócrates obteve 36,6% dos votos em 2009 (mais de dois milhões de pessoas), já depois da revelação da licenciatura fraudulenta e das manobras para impedir a publicação de notícias; já depois da exibição do DVD do caso Freeport onde Charles Smith declarava que ele era corrupto; já depois de correr com Manuela Moura Guedes do programa de informação mais visto da TVI por não apreciar o estilo e as reportagens. E mesmo após a crise internacional, a falência do país e a vinda da troika, José Sócrates ainda conseguiu obter 28,6% de votos para o PS – 1,57 milhões de portugueses. Em 2015, depois de quatro anos de brutal austeridade, António Costa obteve somente mais 180 mil votos do que José Sócrates em 2011.

Sócrates foi um extraordinário caso de popularidade, não só entre o povo, mas sobretudo entre as elites. E são estas elites que hoje em dia me preocupam, porque os ex-apoiantes de Sócrates continuam por aí como se nada fosse, nos blogues, nos jornais, nas empresas, no PS, no governo. Muitos dos que acham que os portugueses têm o dever moral de pedir desculpa por acontecimentos do século XVII, não vêem qualquer necessidade de pedir desculpa por acontecimentos de 2017. Não há qualquer acto de contrição por terem apoiado incansavelmente um homem que a cada três meses era suspeito de fraude, corrupção e atentado ao Estado de Direito, e que nunca, jamais, apresentou qualquer justificação decente para aquilo de que era acusado.
Dir-me-ão: Sócrates ainda não está condenado. Pois não. Mas reparem como o entusiasmo dos seus defensores esmoreceu desde a noite da detenção (21 de Novembro de 2014) até ao dia da acusação (11 de Outubro de 2017). A verdade é esta: as acusações são demasiado fortes e as explicações demasiado fracas. Daí Sócrates estar cada vez mais isolado. Contudo, o julgamento que se aproxima não pode esgotar-se nele. É sobre Sócrates, sobre Salgado, sobre Vara, sobre Bava, sobre Bataglia, e sobre um regime construído por inúmeros ex-socratistas, que agora saem de cena na esperança de que esqueçamos o papel que desempenharem ao longo dos anos. Eu não esqueço. Aqui estarei para lembrar que Sócrates não ascendeu sozinho, não governou sozinho e, acima de tudo, não merece cair sozinho.»

por João Miguel Tavares, in 'Público'

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

pessoais e transmissíveis

 Gandhi
Quarto com Vista sobre a Cidade;
A Insustentável Leveza do Ser;
O meu Pé Esquerdo;
O Último dos Moicanos;
A Idade da Inocência;
Em Nome do Pai;
O Boxer;
Gangs de Nova Iorque;
Haverá Sangue;
Lincoln.


Daniel Day-Lewis, O Chefe.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Heartbreaker



Tom Petty
[1950 - 2017]

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

os miúdos a aprenderem História


harrison ford film GIF

'Indiana Jones e os Salteadores da Arca Perdida', como prometido .

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

terça-feira, 19 de setembro de 2017

AMY


de Asif Kapadia.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

domingo, 17 de setembro de 2017

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Jane II

Vi-te no outro dia. Não tu, mas outra pessoa. Pode acontecer, Jane.
Sentei-me perto e observei-te. Estavas concentrada no teu almoço e na companhia que tinhas à frente.
Depois levantaste-te e pediste um café ao balcão.
Eu saí.
Goodbye Jane.

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Jane



Jane Birkin

Nunca mais se tinham visto. Jane. Talvez nunca voltassem. Jane. 
There's no hope, dizia o cartaz ali da rua. 
Nunca mais se tinham visto e, se calhar, até nem reconhecer. 
Mas, Jane, era termos ficado juntos. O filme também é de quem o vê. Naquela película. Nos versos da canção. Num frame cristalizado. Num slide. 

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Mad Dog

Vou ao cinema para assistir a uma história bem contada. Como o miúdo que a pede ao pai: "Contas-me uma história ?" Para entrar nela e passar a ser minha, que é ser dela. 
Às vezes, quando gosto muito de um actor ou actriz, ou de um realizador, para ver o que andam a fazer. Se ainda inspiram. Ou se perderam qualidades. Se evoluíram, ou se foram tiros de sorte.
Também para me tirarem o tapete, para me porem a cabeça a trabalhar, para me revolverem as entranhas. Para tsunamis interiores. Para levar um soco no queixo. Os melhores são os que duram vários dias, a que vou regressando depois quando já nem espero. Para aprender. Para saber mais. Para ficar parvo. Mas sempre em busca da tal história bem contada. Não me façam de parvo.
Durante o tédio de Agosto, a gente procura um título, "Como cães selvagens", vê o trailer, gosta (há gajos especialistas nisto), quem entra (Willem Dafoe e Nicolas Cage), tipos com traquejo, o nome do realizador (argumentista de 'Taxi Driver', 'Touro Enraivecido', 'American Gigolo' e da 'Última Tentação de Cristo'), currículo da pesada, e vai ler o texto que alguém que respeitamos escreveu sobre o filme: recomenda. Aliás, foi «um dos grandes acontecimentos da Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes de 2016  'Tá feito, 'bora.
O drama é se apanhamos uma brutal xaropada, que não é carne, nem é peixe, e não nos leva a lado nenhum. Apelamos aos deuses. Ó meu querido Tarantino ! Ó uncle Marty ! Ó brothers Coen !, mas nada. Se o humor é cliché, a ironia bufa e a violência vulgar, saímos da sala sem o dinheiro do preço e com uma história a menos. E o tempo todo escarrado. 

Ocorre-me então o Nanni Moretti e se quem escreve uma crítica assim, à noite, não terá um momento de remorso.

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

A Miúda da Banda


«Nessa altura, quase todos os edifícios do Soho estavam cobertos por cartazes de bandas. Eu e o Thurston costumávamos sair durante a noite e colar os nossos cartazes por cima dos das outras bandas, excetuando se se tratassem de bandas ou músicos de quem gostássemos ou que conhecêssemos. A guerra dos cartazes era uma guerra por um lugar de destaque (...) No início dos anos oitenta, era possível arranjar concertos por colar cartazes na Kitchen ou Broome Street, onde havia muitos espetáculos de no wave ou novos músicos. O que interessava era ser rápido, saber o que se estava a fazer e dominar uma de duas ferramentas: a primeira era a cola Elmer's, que secava depressa e era fácil de esconder debaixo da roupa; a outra envolvia pasta de trigo e um balde demasiado grande, o que podia tornar-se complicado, especialmente no inverno, quando a pasta congelava nas mãos e dedos.
(...)
Em 1982, o ano em que lançámos o nosso primeiro álbum, Confusion is Sex, o Dan andava a fazer pesquisas sobre os Shakers. Esta religião de culto, surgida com o nascimento dos primeiros escapistas americanos obcecados com a liberdade religiosa, fascinava o Dan, especialmente a prática dos membros femininos de dançarem até atingirem uma espécie de histeria frenética, quase orgástica. (...) O Dan perguntava-se o que haveria de comum entre o rock and roll e a seita Shaker. Para si, ambas eram variações de reverência extática. O Shakerismo, escreveu ele, provinha do mesmo sítio que o primeiro hardcore americano, com os rapazes do público de cabeça rapada nos concertos de punk rock, fazendo lembrar as cabeças de uma qualquer tribo monástica exótica. O Dan, assim como o Thurston, estava fascinado com a Patti Smith, com a intensidade e feitiçaria que envolvia as suas atuações. O Dan acabou por realizar um documentário artístico chamado Rock My Religion, que incluía um clipe ao vivo dos Sonic Youth a tocarem Shaking Hell
A letra – "She's finally discovered she's a... He told her so..." – ligava-se à ideia da mulher como uma criação vinda de filmes e publicidade. (...) A um nível mais pessoal, Shaking Hell é um espelho da minha luta com minha
própria identidade e com a raiva que sentia contra a pessoa que era.  
Qualquer mulher sabe ao que me refiro quando digo que as raparigas crescem com um desejo de agradar, de ceder o seu poder aos outros. Ao mesmo tempo, toda a gente conhece o modo agressivo e manipulativo como, por vezes, os homens exercem o seu poder no mundo, e o modo como, através do uso da expressão "com poder", referindo-se às mulheres, os homens estão simplesmente a manter o seu próprio poder e controlo. Anos depois de ter saído de Los Angeles ainda ouvia a voz do meu irmão, a sussurrar-me Vou contar a todos os teus amigos que estiveste a chorar

domingo, 27 de agosto de 2017

Fusão

"Olha, se fossemos música, éramos este disco."


«(...) el sentido que tiene es que es un acercamiento a otra tierra a través de la música y es un abrazo entre dos culturas a través de dos expresiones como son la música celta y el flamenco.»

Vicente Amigo, para 'ABC'

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

O Camisola 10



É sempre lindo regressar à Argentina.
De Buenos Aires guardávamos as empanadas de El Sanjuanino, lugar eterno na barriga.
Mas em Lisboa, o drible é no El Pibe, num cantinho da Travessa de Santa Marta, fazendo a bola chegar com apelido: as Pablo Neruda, as Carlos Gardel, as Pablo Escobar e as Pinochet.

e o mano viejo no WhatsApp

Raspa sou gajo para ir aí ter.
Vais ficar por aí?
Ou vais cinema?
                          
                         Vem cá ter

Também vieram várias Quilmes para a mesinha. E noites assim são as melhores.

P.S: Para ser perfeito é colocar a fotografia do Pablito Aimar.

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Visca Barcelona !


«Si eres de Barcelona la primera vez que vas a Las Ramblas te llevan de la mano. Lo hace tu padre o tu madre. Tu abuelo o tu tío, tus primos o tus hermanos mayores. A veces te despistabas y se la dabas por unos instantes a un extraño y no notabas la diferencia: la mano del otro te era familiar. También su andar, su olor. Curiosamente no distinguías que no era de los tuyos. Eso no pasa en todos los sitios. Sólo en parques de atracciones y en Las Ramblas (así, en plural porque son muchas). Lugares fabulosos ambos como sabe cualquiera por poco que sepa uno. Sitios donde todo el mundo puede ser él mismo y, a la vez, único y extraordinario y que eso no importe a nadie. Lo extraño es cotidiano y se muestra tal cual, ahora y antes, en Las Ramblas, bajándolas, subiéndolas, cruzándolas, a la carrera o al trote, perseguido o ensimismado.
En ese recuerdo, bajar o subir por Las Ramblas siempre era hacerlo de la mano de alguien que te cuidaba, te protegía, evitaba que te perdieras. Escribo esto sabiendo que han asesinado a un niño de tres años que fue a Las Ramblas con su tía —que ayer aún estaba grave— y otros miembros de su familia. Eso —que uno de los tuyos quisiera respirar un poco y se acercara hasta a Las Ramblas y te llevara con él, previamente acicalado y decente— era usual. También ahora. Sobre todo para barceloneses de fuera del centro o de alrededores.
Ramblas desde Plaza Catalunya hasta el monumento a Colón o a la inversa. Pienso en el crío, en la familia, en el asesino, en la familia del asesino y pienso en Barcelona y me percato de que al hacerlo en Barcelona lo hago no como una ciudad sino como una comunidad —herida hoy— y me doy cuenta —por mucho que puedas llevarte mal con la madrastra que puede ser Barcelona— que siempre perteneces al sitio donde estuvo la gente que te dio la mano para que no te perdieras.
Pasaba el tiempo y por Las Ramblas seguías yendo atado a otros. De tu pareja, de un policía o abrazado a tus amigos, bajando a comprar discos de segunda mano o subiendo, eufórico, mientras Las Ramblas eran regadas, ya de madrugada escupidos desde bares como Karma, Glaciar, Jamboree, Les Enfants o Sidecar.
Las Ramblas son la mejor expresión de los barceloneses. De cualquiera de nosotros. Cuando venía gente de fuera, los llevabas a Las Ramblas porque estabas orgulloso de ellas. Sólo era un paseo —hay lugares más bonitos o impresionantes en la ciudad— pero un paseo repleto a todas horas de gente tan bonita e impresionante como horrible e impresentable. Personas distintas embriagadas por el extraño sortilegio de la acumulación y la tolerancia, y que, por lo tanto, hacía que no te encontraras extraño o rechazado mientras pisabas esas olas dibujadas en el suelo de Las Ramblas. Creo que es imposible pisarlas y no sentirte parte de una comunidad al hacerlo. Una comunidad de la que además sentirse orgulloso. Por abierta, por gigante, por luminosa. Es, en cierto modo, terreno sagrado por laico, y es que en Barcelona siempre ha cabido todo el mundo y nunca sobró nadie. Ni antes ni ahora.
En Las Ramblas descubrías muchas cosas y encontrabas otras que no supieras que andabas buscando: drogas, una pulsera, un familiar que no debería estar allí o un paraguas. Bajabas de adolescente porque allí estaba lo que podías y no debías saber. La vida en toda su complejidad y maravilla. Luego volvías a casa y ya no eras el mismo. Nunca regresabas igual enfrentado a la cena recalentada en el comedor familiar, de repente tan gris y vulgar.
Descubrí a Baudelaire en un quiosco en Las Ramblas y el Berlín de Lou Reed en una tienda de segunda mano. Me llevaron a escuchar Verdi al Liceo, me topé muchas veces con la Negra Flor, trataron de que hiciera catequesis en l'Església de Betlem y me enseñaron a beber absenta con cuchara. Músicos en la calle, gente que hacía caricaturas, vendedores de cualquier cosa y a viejas amigas de mis abuelas. Mis familias vivieron ambas en el Chino —antes Distrito V, ahora Raval—, en calles sin luz del sol, que iban a parar a Las Ramblas y éstas al mar, y ninguna de las dos cosas era —retorciendo al clásico— el morir sino —todo lo contrario— el vivir para mis dos abuelas. 
Volvías de ese paseo de la mano de tu padre o tu tía sabiendo que había cientos de vidas distintas por vivir y tipos que vendían pulseras, hacían malabarismos con balones, mujeres que eran hombres, hombres que eran mujeres, marineros negros de blanco y turistas naranjas, contentos y sorprendidos de estar pisando aquel paseo, de ser gente aquí y ahora en tu ciudad, Barcelona. Y también sabías que pisabas territorio de gigantes: pintores —uno de ellos frenó con su dibujo una furgoneta asesina—, poetas y diarios de ladrones, vidas privadas, despachos de detectives que habían matado a Kennedy; Casos savoltas y bailes de watusi; el fracaso del musclaire y un argentino rumbero; y chupas de cuero y ojos como cámaras en noches en las que salía el sol por la avenida de la Luz. Los vivos y los muertos vivos subían y bajaban contigo por Las Ramblas.
Pones hoy la televisión, lees la prensa y las cifras, los comentarios, los políticos, los asesores, las imágenes y la palabra de tu ciudad, Barcelona, y Las Ramblas. Ves zonas, en especial de Las Ramblas que, al estar desiertas, te cuesta reconocer. Pero sobre todo ves a gente de Barcelona. Gente de Barcelona con miedo, gente de Barcelona que no se quiere dejar asustar. Gente de Barcelona de Honduras, de Nueva York, de Madrid, de Santander y de Santiago de Chile. Gente de Barcelona con maletas. Gente de Barcelona en el suelo, muerta o herida, en una figura atrozmente imposible. Gente de Barcelona curiosa y gente impotente de Barcelona. Gente de Barcelona que quiere hablar y otra que quiere olvidar. Gente de Barcelona que ayuda. Gente de Barcelona que espera. Gente de Barcelona que dona sangre y gente que la vierte.
Da igual que esa gente sólo lleve unas horas en Barcelona. Pertenecen a una comunidad porque todos están buscando u ofreciendo una mano que les haga bajar o subir Las Ramblas para que nadie —aunque cruce a cuatro ruedas en furgoneta y en zigzag— se considere mejor que nadie, con más derechos que nadie ni poseedor de ninguna verdad ni ningún dios mejor que cualquiera de nosotros, gente aquí y ahora, de Barcelona.»
"De la Mano", por Carlos Zanón, 'El País', 19.08.2017

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

the Power of the Gospel


As paredes escorriam suor e não foi só por estarmos em Agosto e o Coliseu a rebentar. 
Ben Harper tratou de fechar a digressão a solo na Europa com perto de três horas de paixão e revolution que é aquilo que oferece ao mundo. Esculpindo o som com a violência de um cinzel e a precisão do ourives. 
"It's what we do with what we feel". Guitarras que parecem gente e voz feita sangue.
Um dia talvez se diga que hoje houve dois sismos.

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

'Paterson', de Jim Jarmusch



Silêncio. Rotina. Tempo. Os dias iguais. A vida às vezes é isto.
Paterson que é Adam Driver e uma linda iraniana chamada Golshifteh Farahani que é Laura. 
Poesia.
O amor pelas coisas simples e belas. Como um fósforo.

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Planet Departure

Van Gogh Alive: the experience


Cordoaria Nacional
(com Debussy, Lakmé, a Gymnopédie e outros clássicos como banda sonora)

quarta-feira, 26 de julho de 2017

You will miss me when I burn



Bonnie Prince Billy. Teatro da Trindade. Qualidade ZDB.
Hoje não estou lá companheiro.

terça-feira, 25 de julho de 2017

Talk Tonight

O disco é de 98. Comprei-o logo. 'The Masterplan', um conjunto de lados B's dos Oasis. Na altura do big-brit-bang.
O vídeo é de agora. Regressou (como regressam às vezes as coisas) com uma nova roupagem.



Sittin' on my own
Chewin' on a bone
A thousand million miles from home
When something hit me
Somewhere right between the eyes

sábado, 22 de julho de 2017

"Isto aqui é Lisboa"

(foto: João Costa)

Luís Severo. Guitarra, teclas e voz.
É sempre interessante apanhar um gajo ainda no começo, mesmo que o órgão estivesse com feed-back a mais. Mas isso até deu um lado honesto à música.
No Lux. Numa sala que parecia do Blow Up. Não mais que 100, 150 pessoas mas com dois pares de amigos semi-novos.

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Thinking of a Place, by The War on Drugs



I remember walking against the darkness of the beach
Love is like a ghost in the distance, ever-reached
Travel through the night 'cause there is no fear
Alone but right behind till I watched you disappear

sábado, 15 de julho de 2017

sexta-feira, 14 de julho de 2017

O cúmulo da metamorfose



Eu bem disse.... que no Brasil o cúmulo da metamorfose era Lula virar polvo.

(foi há 12 anos)

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Rendo-me

E não foi fácil. Foram precisos muito mais de que simples mapas e caras bonitas. Foi o derrotar de toda uma muralha ao fenómeno séries em geral e a um certo tipo de ficção. Mas esta é a hora final, tempo de expurgo e de confissão.
Começa segunda-feira. A sétima dos Sete Reinos.



sábado, 8 de julho de 2017

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Bullets over Lisbon


O Coliseu não é o Carlyle em Manhattan, mas a noite talvez se tenha aproximado dos bares e bordéis de Bourbon Street, pelo menos em rag e swing.

sábado, 1 de julho de 2017

Hostage


«- Being a hostage is worse than being in prison. In prison, at least you know why you're locked up. There's a reason. Whether it's right or wrong, at least there's a reason. But being a hostage is just bad luck. Wrong place, wrong time. In prison, you know when you'll get out, the exact date... You can count down the days you've got left to go. Here, all I can do is count the days that have passed without knowing when it'll be over.»
"Christophe André was on a mission with Doctors Without Borders when he was kidnapped in Nazran on July 2, 1997. Despite this harrowing experience, he remained committed to humanitarian work. After six months of well-deserved rest, he returned on a mission for DWB an continued to work for the organization for another eighteen years."

quarta-feira, 28 de junho de 2017

Life Achievement

Bill Russell. O primeiro astro negro do basket. 
11 títulos de campeão da NBA em 13 anos não é para todos. 
Mas fazê-lo numa altura de segregação nos Estados Unidos da América, e utilizá-lo na luta pelos direitos cívicos dos afro-americanos, sendo capaz de manter ao longo da vida a humildade e a generosidade com os outros, isso não tem preço.
E depois, que atitude perante a vida !
«After receiving the Lifetime Achievement Award at the NBA Awards Monday night, Russell pointed individually at legendary centers Kareem Abdul-Jabbar, Alonzo Mourning, Shaquille O’Neal, David Robinson, and Dikembe Mutombo, who were on stage with him, and delivered a line that brought down the house.
“I would kick your ass,” he said.» (Boston.com)

(ver a partir do minuto 2'17'')
[ver em especial a partir do minuto 4'51'']

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Amen



Mark Lanegan - 'i'll take care of you'

domingo, 25 de junho de 2017

"Luto Nacional", por Vasco Pulido Valente

…hopes expire of a low dishonest decade…





«A primeira obrigação do Estado é garantir a segurança física dos cidadãos. Em Pedrógão Grande o Estado Português não a cumpriu e mostrou assim a sua fraqueza e a sua essencial ilegitimidade. Na sopa de aletria da meia dúzia de agências ou subagências governamentais que intervieram no caso, ninguém se entendia sobre nada. A que horas tinha começado o fogo e porque tinha começado? Porque não se tinha fechado a tempo a chamada “estrada da morte”? Porque não se tinham evacuado as pessoas que deviam ser evacuadas? Tinha caído um avião ali, a uns quilómetros, ou não tinha caído um avião? Existia um jornalista fantasma ou não existia? O que transpirava desta confusão eram informações contraditórias das várias autoridades envolvidas, todas visivelmente preocupadas em sacudir a água do capote para o parceiro do lado. A cena foi deprimente e aterradora. E no meio do caos, para o completar, desembarcaram o primeiro-ministro e o Presidente da República, com fatos de bombeiros, que não iam lá fazer coisa alguma de útil ou louvável, excepto evidentemente exibir a sua alma, exercício que ninguém lhes pedira ou agradecia. 

Este espectáculo, pelo mortos e pelo sofrimento dos que não morreram, comoveu o país. Mas o mesmo país habitualmente assiste em paz de espírito às mais graves demonstrações da incompetência e degradação do Estado: investigações criminais que duram anos e anos (como a de Oliveira e Costa e, a seguir, a de Sócrates, a de Ricardo Salgado e as de várias dezenas de suspeitos menores); julgamentos sem fim; a maior dívida da história, que vai crescendo; políticas que se atenuam, interrompem ou simplesmente se metem na gaveta para não ofender parcelas ínfimas do eleitorado; actos egrégios de nepotismo e compadrio; a corrupção que se manifesta ou descobre em cada recanto da vida corrente e da vida pública nacional. O parlamento, depois de lamentar a infindável sequência de comissões de inquérito para prevenir incêndios, que não chegaram a parte alguma, nomeou outra comissão de inquérito; e as “personalidades” que roubaram milhões continuam a passear tranquilamente pelas ruas.

A grande pergunta é simples: porque havia de aparecer em Pedrógão Grande, por milagre flagrante do Altíssimo, um Estado previdente, eficaz e responsável? Não apareceu; e, como de costume, os mais fracos pagaram a conta. Seria bom que fizéssemos mais três dias de luto. Por nós.»


in 'Observador' (25.06.17)