terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

"A fatura será paga pelos mais novos", por Joana Petiz


«Não tocar, não brincar, não correr, não abraçar, não beijar, não sair, não conviver, não aprender. São prenúncio de desgraça os princípios que dominam a educação das gerações que crescem na Europa em pandemia. Não são só os mais pequenos, que hoje temos de persuadir a estar permanentemente em casa, sem os amiguinhos, sem as lições e sem gastar energias. A quem temos de convencer que estão de férias quando é época de aulas - mas não podem fazer nada do que costumavam, no máximo jogar consola ou ver televisão - e a quem obrigaremos a passar horas à frente do computador a aprender a lição, quando deviam estar a brincar ao Carnaval. São também os adolescentes que estariam a fazer amigos para a vida, a viver as primeiras paixões e corações partidos. São os universitários que deviam estar a viver os melhores anos das suas vidas, entre festas e viagens de mochila às costas, sem medos e com poucos limites.

Os tempos são difíceis para todos e há decisões complicadas que têm de ser tomadas em situações de emergência, perante casos graves e recordes de mortes por covid. Mas é bom que se perceba os efeitos de fecharmos o país em casa por causa da pandemia. Não apenas na fatura mortal que vamos pagar durante muitos anos - fruto de todas as outras doenças que não diagnosticámos, não detetámos, não tratámos -, no custo social dos milhares que vão perder o emprego, nas famílias que não vão ter como pagar as contas, nas empresas que vão ao charco.

Há ainda um preço muito caro e de efeito bem mais duradouro: o que pagam já as gerações mais jovens, inadaptadas, receosas, deformadas na sua natureza por algo que não controlam, presas numa realidade que não entendem e da qual terão muita dificuldade em sair ilesas. 

É fundamental que se pense já em formas de compensar estes milhares de miúdos que caíram num buraco do qual não conseguem vislumbrar saída possível. Isolamento, depressão, incapacidade de relacionamento, frustração, são apenas algumas das condições que estamos a deixar aos nossos filhos. Eles são o nosso amanhã. Temos de voltar a fazê-los felizes e realizados, sob pena de não termos futuro.»

in DN

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