«Sujo, tremendo de frio, ébrio de cansaço, todas as noites, o meu homem fazia amor comigo. Como dormíamos num recanto contiguo ao quarto do senhor e da senhora Parris, era necessário ter cuidado para não emitir nenhum suspiro, nenhum gemido que pudessem revelar a natureza das nossas actividades. Paradoxalmente, as nossas impetuosas trocas só ganhavam mais sabor.
Para uma escrava, a maternidade não é uma felicidade. Ela redunda em expulsar num mundo de servidão e abjecção um pequerrucho inocente ao qual lhe será impossível alterar o destino. Durante toda a minha infância, vira escravas a assassinar os seus recém-nascidos espetando-lhes um longo espinho no ovo ainda gelatinoso da cabeça, seccionando-lhes com uma lâmina envenenada o ligamento umbilical, ou ainda abandonando-os de noite num lugar percorrido por espíritos irritados. Durante toda a minha infância, ouvira escravas a trocar receitas de poções, de lavagens, de injecções que esterilizavam para sempre os úteros e os transformavam em túmulos atapetados de sudários escarlates. Em Barbados, num meio ambiente em que cada planta me era familiar, não teria tido qualquer dificuldade em desembaraçar-me de um fruto que me estorvasse. Mas ali, em Boston, como fazê-lo ?»
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