Desde cedo habituado a meter música na altura própria. A música como enxada. Tinha de ser. Para o que fosse preciso. Para abrir, para rasgar, para explorar. Para aguentar. Para conhecer alguém.
Para um dia reconhecer e ter memória do vivido. Para ter até memória do que o não vivido deixa.
Primeiro procurar, olhar as lombadas, pegar nos discos, olhar. Depois ouvir. A música na cabeça. Lembrar o som. Ouvir qualquer coisa. Ouvi-los chamar. Se não chamas, não vais.
Uma espécie de patrão. Um Senhor Feudal. Não justo. Só dono. Rei Sol. E há uns que se vetam e outros que vivem. Às vezes dar outra oportunidade. Repetir. Ouvir duas vezes que no outro dia estava mal disposto, é isso. Afinal justo.
A vida toda nisto. E se vou para algum lado, para onde vai a viagem, vai a banda sonora. Que é a melhor bagagem. Ao lado dos livros.
E por isso as minhas memórias estão muito construídas com os sons que fui metendo dentro. Como se fossem droga.
Os meus cheiros são os sons. E as casas onde entro têm de cantar. E as paredes. Mesmo baixinho. As canalizações de minha casa são feitas de cabos ligados ao hi-fi.
E se oiço música esquecida, vejo-me logo onde fui com ela.
Como no verão da Figueira da Foz, com uma miúda que não vejo há 20 anos, tocavam os Beach Boys. É evidente.
A praia da Figueira conhecida por ter ondas de dois e três metros e nós a começar a experimentar o body-board. Parece-me que dei cabo da primeira prancha nessa praia. O coração também não ficou bem.
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