segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

tudo demasiado perfeito para ser verdade

A noite era perfeita. Era Benfica.
Os astros estavam todos alinhados.
Os aguaceiros da manhã tinham acalmado e o tempo dava só frio de época.
Não ligo nada aos astros, mas comecei a acreditar neles quando, a caminho do Estádio, ainda não tinha entrado na CRIL, me apercebo da escolta ao autocarro do clube da VCI mesmo atrás de mim.
Caramba, pá !, isto não acontece todos os dias. Comecei a acelerar na mota para os perseguir. Como é evidente, senti logo uns sacanas à paisana a empurrarem-me para a berma. O meu orgulhoso cachecol vermelho e branco deve tê-los atormentado e a coragem da Vespa também. Deixei apenas que achassem que me controlavam. Só na primeira curva. Depois, já na CRIL consegui alcançar a primeira carrinha da polícia que guardava as costas ao autocarro azul. Lá dentro um polícia sentado disse-me que não com o dedo.
Não tinha bolas de golfe, como é óbvio, mas achei que aquele triste autocarro  devia chegar à Luz com um benfiquista na comitiva.
Só à chegada consegui ultrapassá-los. Fiz aquilo que qualquer um faria.
A noite realmente prometia.
Depois de apanhar o parceiro da bola e da bifana nas roulotes, o Estádio lindo como ele só.
A águia em voo de rapina, o hino e a cor mais bonita que há no mundo.



 
(foto: andré)

Começa o jogo e, apesar das duas abébias, ofertas da casa, o coração gigante com golos tremendos a colocar tudo na ordem. Quando o coração fala assim, só é preciso espetar bem a faca. Cheirava-se o medo.
Intervalo. Chega a confirmação que estava a pedir.
Sentado na nossa bancada avisto Schwarz, Stefan Schwarz, o último sueco campeão nacional. 

Os meus olhos devem ter iluminado a noite. Fui cumprimentá-lo, é claro. 
"- Foste um jogador do caralho ! Um dos maiores. Que golão meteste contra o CSKA aqui na Luz !", devo ter gritado.
"- No segundo tempo, vai ser melhor.", respondeu.
Achámos que os astros não podiam mentir. Afinal, ele deve saber. Ele jogou. Com a nossa camisola.
Regressámos para a segunda parte. O Benfica vem a dormir. Entrega a bola ao adversário, que não sabe que futebol é golos. Não quer saber. Para eles o empate é bom e chega.
Mas aos 76 minutos, o número 7, aquele Tacuara, isola- se. Nico coloca-lhe a bola com a magia do predestinado. E é aqui que os astros nos traem. É aqui que eles nos mentem e ficamos com a certeza que é a vida que faz tudo acontecer. 
E a vida ensina-nos muito. Não se pode viver só do futebol. 
De uma arena de touros podemos trazer muitas lições, por exemplo, quando a vida pode estar presa por cordéis. E por isso é que é precisa a estocada final, quando o matador entra em cena.
Hoje Tacuara não foi o matador. Não foi Ordoñez ou Dominguín. E isso é triste, porque devemos acabar o que começamos, porque não devemos ficar abaixo do que podemos.
No fim do jogo, o contentamento no rosto dos adversários mostrava bem quem é que hoje ganhou pontos.

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